O primeiro encontro parecia um gesto simples: um café da manhã de domingo, na casa de Mariana Dias e Bruna Guimarães, cofundadoras da Gupy. Mas bastou o convite se espalhar – “mulheres empreendedoras, venham trocar experiências” – para que as inscrições se esgotassem em poucas horas. O que nasceu de forma quase despretensiosa, entre brindes de Moscatel e conversas sobre captação de investimento, hoje é uma das redes femininas mais influentes do ecossistema de startups brasileiro.
A ideia veio depois de um feito inédito. Em janeiro de 2022, a Gupy anunciou uma captação de R$ 500 milhões liderada por SoftBank e Riverwood – a maior rodada já realizada por mulheres na América Latina. A conquista, celebrada em todo o ecossistema, também expôs uma lacuna: entre tantos deals milionários, quase não havia outras mulheres à mesa.
Nos dias seguintes, Mariana, CEO da HRTech, começou a receber mensagens de empreendedoras pedindo conselhos sobre captação de recursos. Foi quando surgiu a ideia de reunir todas em um mesmo lugar. O convite, postado no Instagram, era simples: “Café da manhã para fundadoras de startups em crescimento.” As vinte vagas se esgotaram em poucas horas.
Entre conversas sobre desafios, aprendizados, liderança e investimento, elas brindaram com Moscatel – e o nome pegou. “Os homens têm as máfias do pôquer; a gente criou a nossa, com Moscatel”, brinca Mariana.
O nome, escolhido com humor e propósito, virou símbolo de pertencimento e deu forma a um espaço seguro, pensado para promover trocas genuínas entre mulheres que vivem desafios semelhantes. “Somos poucas, mas não estamos sozinhas”, diz a executiva.
Fundadoras na era da IA
De lá para cá, a Máfia do Moscatel cresceu. O grupo, que começou com 20 empreendedoras, hoje reúne mais de 90 mulheres – número que deve chegar a 130 após o Mafia Summit 2025, que acontece nesta sexta-feira (24), na sede do iFood, em São Paulo. O evento anual marca a entrada de novas fundadoras à comunidade e consolida o espaço como uma das principais redes de apoio e troca de conhecimento do país.
Com o tema “Fundadoras na Era da IA”, o Summit deste ano propõe discutir o impacto da inteligência artificial na liderança e nos negócios. “A IA está mudando todos os mercados, e queremos que essas fundadoras estejam na linha de frente dessa transformação”, explica Mariana Dias. A programação inclui falas de executivos como Diego Barreto (iFood), painéis com gestoras de fundos como Maya Capital e Valor Capital, e workshops práticos sobre como aplicar IA em times e produtos.
Mas o conteúdo é apenas parte da experiência. “O que mais transforma são as conexões”, afirma Mariana. Cafés, almoços e happy hours foram planejados para estimular o networking – um dos pilares da comunidade. Dali já surgiram parcerias, mentorias e até fusões entre startups lideradas pelas mulheres da rede.
Trocas genuínas
A Máfia do Moscatel continua sem fins lucrativos. Segundo Mariana, todo patrocínio é revertido em ações de mentoria e em eventos para a própria comunidade. Para participar, é preciso atender a alguns critérios: ser fundadora em uma startup com negócios já em tração, ter no mínimo dez colaboradores e apresentar uma trajetória de crescimento acelerado.
“Até hoje, eu e a Bruna somos responsáveis pelo processo seletivo”, conta Mariana. A ideia é garantir que as mulheres da rede vivenciem momentos semelhantes e enfrentem desafios parecidos. “Quando estão conectadas, a Máfia facilita trocas e conexões. O networking aqui é muito forte”, destaca.
Mais do que um grupo de apoio, a comunidade quer visibilidade. Um novo site reúne o perfil de todas as integrantes – uma vitrine de quem está criando negócios escaláveis e impactantes no país. “As pessoas costumam dizer que quase não há mulheres empreendedoras em startups. Existem, e estão aqui”, conclui Mariana.