Intimate AI (inteligência artificial íntima), untourism (não turismo), demise duality (dualidade de morte), inclement armour (armadura inclemente) e rerouted (redirecionado). Essas cinco expressões passaram a fazer parte este ano do glossário Edges, publicado anualmente pela unidade de inteligência cultural da agência TBWA, conhecida como Backslash.
O relatório reúne 41 expressões, chamadas de edges, que servem para caracterizar traços comportamentais e culturais dentro da indústria e da sociedade em âmbito global. Entre as edges citadas nos anos anteriores estão, por exemplo, work-life boundaries, liquid reality, gender rules e climate credit.
De forma geral, as expressões escolhidas para este ano representam as reflexões e mudanças de comportamento motivadas pelas mudanças climáticas e catástrofes naturais, além dos avanços tecnológicos, em especial, a inteligência artificial.
“O lançamento das Edges deste ano é especial por causa da oportunidade que apresenta. A Backslash investigou as realidades mais espinhosas que estamos experimentando ou vamos experimentar, e pode apontar soluções surpreendentes que estão mais próximas do que poderíamos imaginar. Em 2024, estou realmente animada com a adaptação sendo um convite para a disrupção”, afirma Jen Costello, diretora Global de Estratégia da TBWA\Worldwide.
Veja o que significam as expressões que passaram a integrar o glossário este ano.
Demise Duality
Se a humanidade está condenada, faz sentido salvar o planeta? O documento aponta que, à medida que o pensamento do fim dos tempos se enraíza, um sentimento da indiferença coletiva ameaçará o caminho para o progresso. Para reacender um senso de responsabilidade individual, será preciso tornar as pessoas otimistas com o futuro.
O glossário justifica essa edge com alguns exemplos, como a tendência de jovens decidirem não ter filhos para não popular o mundo com seres humanos que podem ter um destino trágico. O documento aponta ainda para um pensamento de incentivo à autodestruição, como o que é proposto no livro “The Revolt Against Humanity”, de Adam Kirsch, que escreve: “O fim do reinado da humanidade na Terra é iminente, e… devemos recebê-lo bem”.
Inclement Armor
À medida em que o ser humano começa a se adaptar às mudanças climáticas, temperaturas extremas e desastres naturais, o mundo começa a se remodelar às novas necessidades, desde o que vestimos até como trabalhamos. Com isso, abre-se um leque de novas possibilidades de produtos, como mais variedades de purificadores de ar e roupas com tecnologia de resfriamento.
As mudanças também têm sido implementadas e discutidas intensamente no setor de seguros, que passam a incluir em seus portfólios coberturas que protejam o segurado em caso de catástrofes naturais. “No Japão, as vending machines estão passando por uma reformulação na preparação para desastres. Na cidade costeira de Ako – onde se espera que ocorra um poderoso “megaterremoto” nos próximos 20 a 40 anos – a Earth Corp instalou vending machines especiais que serão desbloqueadas automaticamente em caso de emergência, fornecendo centenas de alimentos e bebidas de graça”, diz o glossário.
Intimate AI
Pouco a pouco, a inteligência artificial vem normalizando seu papel como companheira em nossas vidas diárias, tornando-se íntima dos seres humanos. Já existem iniciativas para que a IA cumpra papéis de amiga, educadora, e de coparentalidade.
“A OpenAI lançou uma loja online onde as pessoas podem compartilhar versões do ChatGPT – o que significa que uma explosão de assistentes de IA altamente especializados está chegando. Até agora, as pessoas criaram mais de 3 milhões de chatbots personalizados. E, se você pode sonhar, eles podem fazer. Existem bots que ensinam matemática para crianças, desenvolvem receitas de coquetéis, atuam como terapeutas, recomendam trilhas para caminhadas, criam logotipos, e muito, muito mais. O produto, denominado GPT Store, eventualmente permitirá que as pessoas lucrem com suas criações da mesma forma que fariam através as lojas de aplicativos da Apple ou do Google“, informa o glossário.
Rerouted
As mudanças climáticas exigem um ajuste de rota, com a construção de uma infraestrutura para transição energética, incentivos para carros elétricos, e a criação de regulações que promovam uma mudança de comportamento.
Esse redirecionamento já tem acontecido, por exemplo, no transporte aéreo na Europa. “No ano passado, o Aeroporto Schiphol de Amsterdã anunciou planos de suspender voos noturnos e proibir jatos particulares em uma tentativa de reduzir o ruído e diminuir as emissões de CO2. As aeronaves não decolarão mais entre meia-noite e 6h, assim que as mudanças entrarem em vigor, em 2025-2026. Também não haverá mais pousos entre meia-noite e 5h. As mudanças estão sendo feitas de acordo com o acordo do clima de Paris e resultará em 10 mil voos noturnos a menos anualmente”, aponta o documento.
Untourism
O glossário Edges chama a atenção para o fato de que o alto volume de turistas nos destinos mais concorridos do mundo tem dado lugar a regulações mais rígidas, o que se soma também à necessidade de redução de carbono na indústria aérea, que é uma das maiores emissoras. Segundo o relatório, haverá uma mudança na forma de as pessoas viajarem.
A Acrópole de Atenas, na Grécia, agora limita as visitas a 20 mil pessoas por dia. Veneza, na Itália, começou a limitar o tamanho dos grupos turísticos e a cobrar uma taxa de 5 euros para entrar na cidade este ano, assim como Bali, na Indonésia, também introduziu recentemente uma taxa turística de US$ 10 e atualmente está considerando um limite de sete milhões de turistas por ano.
“Com todas as conversas recentes sobre os devastadores impactos ambientais, talvez seja hora de considerar uma nova abordagem: passaportes de carbono . Esta ideia, proposta pela certificada B-Corp Intrepid Travel, significaria que os viajantes recebem um subsídio anual de carbono que não podem exceder. Em essência, sua viagem anual seria limitada pela frequência e distância percorrida”, explica o Edges.