Gui Junqueira, fundador da Delta Academy | Foto: divulgação
Gui Junqueira, fundador da Delta Academy | Foto: divulgação

Gui Junqueira bem que tentou, mas não conseguiu resistir à vontade de criar uma nova edtech. Quatro anos depois de vender a Gama Academy por R$ 33,8 milhões para a Ânima, Gui Junqueira está lançando a Delta Academy, uma espécie de continuação do que fez no seu empreendimento anterior, só que agora voltada ao tema (e demanda de conhecimento) mais badalado do momento: inteligência artificial.

“Eu tentei de todas as formas fugir do mundo da educação. Escrevi um livro, fiz meu sabático, investi em startups, mas não tem jeito. Existe um negócio chamado vocação, paixão”, dispara o executivo, ao falar de seu novo empreendimento, que segundo ele, foi uma resposta a uma demanda que ele via no mercado.

De acordo com Guilherme, muitos empreendedores o procuravam dizendo que sentiam falta dos programas da Gama, principalmente em meio à corrida para aproveitar as oportunidades trazidas pela inteligência artificial. Segundo o empreendedor, foi essa oportunidades, especialmente no B2B, que deu um “estalo na cabeça”.

“Senti que poderia voltar a ter uma edtech, não tanto para arrumar emprego para os alunos, como fazia na Gama, mas sim para ajudar que empresas não percam eficiência, não percam talentos e oportunidades”, avalia.

Com o nome novamente inspirado no alfabeto grego (para quem não sabe, Delta vem logo após Gama), a Delta Academy se apresenta como uma “escola de pilotos de IA”. Segundo Gui, a metáfora foi pensada como base para toda a metodologia da empresa: a empresa é o avião, as pessoas são os pilotos, os processos são o mapa de voo e os dados representam o combustível.

Para sustentar suas ambições, a Delta reuniu nomes conhecidos para chancelar seus cursos. Em pouco tempo, a escola firmou parcerias com players globais de IA como Lovable, n8n, Perplexity, Anthropic, ElevenLabs, Cursor e a brasileira CrewAI, desenvolvendo eventos e capacitações exclusivas.

Ofertas e metas

Já operando em stealth mode nos últimos meses, a edtech já atraiu 80 empresas, com 200 líderes (de empresas como Natura, Stone, XP, Darwin Seguros, V4 Company, Banco BV, IVECO) já formados diretamente, o que segundo Gui Junqueira, representam um impacto indireto para cerca de 27 mil colaboradores.

Inicialmente, a oferta da edtech se baseia em dois produtos – o primeiro é o Delta Board – programa de formação em IA para empresários e executivos, com imersão presencial, diagnóstico de maturidade, acompanhamento estratégico e suporte de implementação para empresas. Segundo o fundador, é uma iniciativa para empresas iniciarem suas jornadas de transformação em IA.

“Acreditamos que a escadaria se lava de cima para baixo: por isso, em nossos programas, é obrigatório começarmos formando os CEOs/Executivos, para depois seguirmos com os líderes e colaboradores”, avalia.

O outro é o Delta Experience – uma oferta também B2C nos moldes do que era o Gama Experience na sua edtech anterior. Se trata de um bootcamp híbrido de 6 semanas que forma profissionais e líderes como pilotos de AI, com skill leveling personalizado, desafios reais em squads, eliminações semanais baseado em performance e certificação nas principais ferramentas de IA.

Ao falar de metas, o CEO da Delta Academy revela que o plano é chegar ao fim de 2026 com cerca de 2 mil empresas atendidas, chegando a uma receita de US$ 20 milhões, baseada em uma métrica de sucesso bem com cara de IA – faturar US$ 1 milhão em RPE (receita por funcionário).

“Nossa meta ousada é empregar 1 milhão de agentes de IA dentro das empresas brasileiras até 2030, pilotados por 100 mil humanos altamente capacitados”, projeta o executivo.

Escola para agentes de IA?

O primeiro passo pode ser treinar os humanos, mas a Delta Academy também quer ser referência em educação para as máquinas. É isso aí mesmo: para o longo prazo, Gui Junqueira vê a sua empresa se tornando referência com o que ele chama de “Delta AI Learning OS”.

Conforme explica o fundador, é uma metodologia que funciona em duas etapas: a primeira fase, que começa agora, valida a tecnologia treinando líderes empresariais. À medida que mais empresas se atualizam, mais cases se concretizam e mais playbooks são validados na base da Delta, esse modelo pode ser escalado para o mercado de agentes de IA corporativos.

O projeto futuro da edtech é ter uma bibilioteca de Small Language Models, em que empresas podem “plugar” seus agentes e gerar profissionais digitais altamente qualificados quase que instantaneamente.

Conforme destaca Gui, se trata de um mercado que alcançará cerca de US$ 25 bilhões nos próximos anos, com médias e grandes empresas empregando centenas de agentes de IA em suas operações. “Esses agentes vão precisar de treinamento e certificação, assim como qualquer profissional precisa”, pontua.

O objetivo do empresário é construir, a partir dos dados e projetos gerados dentro da edtech, estabelecer um framework de referência para proficiência em inteligência artificial corporativa. “Nossa tese é que você vai poder matricular seus agentes para serem treinados conosco”, dispara.

Com estes planos, a Delta Academy já chamou a atenção de fundos de investimentos no Vale do Silício, e Gui Junqueira embarcará rumo à San Francisco para reuniões estratégicas, pensando em próximos passos. “Temos a ambição de colocar a Delta como padrão global de certificação em proficiência de IA nas empresas”, finaliza.