Ele voltou! Se você acompanha o Startups há pelo menos alguns meses, já deve conhecer o Pitch Reverso, nosso evento criado para inverter a lógica dos pitches tradicionais. Nele, são os fundos que têm que mostrar suas teses e vender seu peixe para as startups.
A 2ª edição aconteceu ontem (10), com apoio da Amazon Web Services (AWS), além de KPMG e do hub de inovação Cubo Itaú. O evento contou com a presença de ACE Startups, BluStone, BR Angels, Indicator Capital, VOX Capital e Endeavor. Cada um teve apenas 7 minutos para convencer fundadores de que é o melhor parceiro para quem quer criar uma companhia de sucesso.
As discussões do evento não ignoraram o cenário conturbado que o ecossistema vem enfrentando. A indigesta combinação de juros altos, instabilidade política, guerra e incertezas diversas está deixando os investidores com menos apetite a risco. Já falamos por aqui que no 1º trimestre de 2022 o total investido no Brasil foi apenas 4% superior ao valor do ano passado, e que o número de transações diminuiu em 33, para 167 rounds. Em termos globais, houve um recuo de 13%.
“Vai ser um ano desafiador”, projeta Lívia Brando, diretora da VOX Capital. “Já estamos vendo taxas de juros mais altas, o que vai dificultar para todo mundo. Em termos de venture capital, não tem mais aquele oba-oba dos últimos 2 anos”, completa.
Apesar disso, a executiva diz estar “muito otimista” em relação ao futuro da gestora, especializada em investimentos de impacto. A VOX dobrou de tamanho no último ano, tem mais de R$ 650 milhões sob gestão e está fechando a captação de seu 3º fundo, com foco em aportes a partir da série A.
“Nosso fundo 2, em fase de desinvestimento, já retornou uma rentabilidade líquida de 74%, o que comprova que dá para fazer investimento em impacto, trazendo retorno financeiro e beneficiando a sociedade”. Segundo Lívia, quase 30 milhões de pessoas foram impactadas pelas soluções de tecnologia desenvolvidas pelas mais de 60 startups investidas pela VOX.
Refletindo sobre as tendências do ecossistema em 2022, Orlando Cintra, fundador e diretor-executivo da BR Angels reconhece que um pouco da euforia acabou. “Todo mundo está olhando para o mercado, analisando o que vem pela frente e colocando o pé no chão”, pontua.
Para o empreendedor, grandes oportunidades devem surgir da crise. “Startups boas vão continuar e aquelas que vendiam algo que não tinham ou que não conseguiam entregar o que prometeram não vão durar 4 meses. Vamos acompanhar os negócios para ver como eles vão desenrolar, mas acreditamos que os bons e fortes sobreviverão”, completa.
Segundo o executivo, esse é o momento para mudar o olhar e o foco das empresas. “Daqui para frente, o que vai gerar valor é ter um custo mais baixo, receita maior e gerar algum lucro. Não é a empresa se sustentar só em aporte para crescer. O capital não pode ser o motivo de tudo para sempre”, argumenta.
Orlando afirma que a BR Angels não tem um número pré-definido de investimentos a serem concluídos em 2022, já que a associação preza “mais pela qualidade do que a quantidade”. O grupo criado há menos de 3 anos conta com cerca de 230 associados, entre executivos e empreendedores que, além de capital financeiro, possuem alto grau de experiência e networking.
Segundo o fundador, o foco é o smart money. “Apoiamos startups de vários segmentos, com foco em empresas tecnológicas e da economia digital. Olhamos muito para companhias que querem aconselhamento e que entendem que esse é o propósito do investimento-anjo”, afirma Orlando. A BR Angels tem cerca de 20 investidas no portfólio e mais de 2 mil empresas mapeadas para conectar os empreendedores.
A necessidade de um diferencial
Se antes eram os fundos que tinham a faca e o queijo na mão na hora de negociar uma rodada de investimento, hoje os donos do dinheiro também têm que dizer porque o seu cheque é melhor que o do outro. E para isso, nada melhor do que se diferenciar da concorrência.
A BluStone faz investimentos do seed à série B em toda a América Latina, normalmente em empresas que já têm times formados e um product market fit identificado. Segundo o managing partner Carlos Lopes, o fundo olha para todos os setores do mercado. Porém, dada a experiência dos founders, dá uma atenção especial a empresas que atuam direta ou indiretamente com cadeia de suprimentos – ligadas à logística, distribuição e comércio – além de alimentação e algumas áreas da saúde.
Como diferencial, o executivo destaca que a BluStone propositalmente investe em poucas empresas por ano. São cerca de 8 a 10 startups, para que o fundo tenha tempo de se dedicar a cada uma, dando suporte no processo de crescimento por meio de discussões estratégicas, introduções comerciais, ajuda na parte de recrutamento e seleção de talentos, entre outros. Hoje são 4 empresas no portfólio, distribuídas em Brasil, México e Colômbia.
“Apesar de sermos um fundo novo, temos experiência no setor, com 20 anos na parte de investimentos. Vimos que os empreendedores têm paixão pelo negócio, mas muitos não têm experiência de aspectos de desenvolvimento para médio-longo prazo. O time da BluStone já passou por isso e sabemos como ajudá-los”, pontua.
Já a Indicator Capital visa apoiar empresas brasileiras de alto crescimento no ecossistema de Internet das Coisas (IoT), com potencial de expansão internacional. Criado em 2014, o fundo preza por um trabalho a 4 mãos – do fundo e dos empreendedores – para criar o que ela chama de ciclo virtuoso. “Investidores aportam capital no fundo, que aloca capital nas startups. Elas prestam algum tipo de serviço para os nossos investidores. Eles devolvem conhecimento e acesso na indústria, as startups prestam informação para nós e a gente faz as coisas fluírem bem”, explica Derek Lundgren Bittar, cofundador da Indicator.
Os cheques do fundo já foram de R$ 4 milhões a R$14 milhões – mas a Indicator antecipou no Pitch Reverso que tem um aporte ainda maior para ser anunciados nos próximos dias. “Todo o nosso trabalho é voltado para impulsionar empreendedores deep tech brasileiros”, diz Derek. Os 4 pilares do fundo são construir relacionamento (tanto no Brasil quanto no Vale do Silício, já que um dos cofundadores atua na Califórnia), ter um time disponível 24 horas por dia, ajudar no desenvolvimento do negócio e promover um programa cross-border nos Estados Unidos.
No caso da ACE Startups, o sócio Pedro Carneiro posiciona a empresa como uma holding de negócios. A companhia oferece consultoria de inovação, aceleração corporativa, relacionamento com startups e investimentos early-stage.
Em quase 10 anos de história, a ACE realizou mais de 100 programas de aceleração, conectando mais de mil empresas com startups e investindo em 120 companhias. Mais de 4.000 empresas foram aceleradas pelo modelo de aceleração digital, lançado em janeiro de 20202. “Somos uma fábrica de empreendedores milionários. Vendemos empresas para Loft, Itaú, B2W, Locaweb e vários outros negócios”, comenta Pedro.
O último a se apresentar foi Vinicius Bergamini, gerente do programa Scale-Up Endeavor. A rede global conta com mais de 2.200 empreendedores e 61 empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. “A gente espera que no mundo, especialmente mercados emergentes, tenham cada vez mais founders à frente de negócios como esses”, afirma o executivo, citando os unicórnios Hotmart, Olist e Neon.
Apenas no Brasil, a Endeavor acelerou 310 startups, que juntas empregaram mais de 79 mil pessoas e somaram mais de R$ 24 bilhões em receita agregada. Segundo Vinicius, os critérios para a seleção são o timing do negócio, o potencial de mercado e diferenciais competivos da solução e o time de fundadores. “Olhamos para o quão abertos e vulneráveis os fundadores são para compartilhar desafios, buscar conhecimento e suporte para se desenvolver”, afirma.
A proposta, diz o executivo, é ajudar empreendedores a tomar melhores decisões de negócio e devolverem isso para o ecossistema, seja investindo em outros negócios, oferecendo mentorias ou permitindo que suas histórias sejam contatas para inspirar mais pessoas. Para fomentar ainda mais o setor, no ano passado a Endeavor lançou o fundo Scale-Up Ventures, financiado pela própria rede e destinado a startups aceleradas pelo programa.
Confira a segunda edição do PitchReverso na íntegra: