Lembra que no primeiro CODEX do ano eu coloquei como uma das expectativas para 2021 o aparecimento de novas formas de investir em startups para os reles mortais? Pois é, o movimento já começou a acontecer. Mas não veio de um banco ou plataforma, como eu imaginava, mas de um fundo de venture capital.
Ontem pela manhã a Bossa Nova colocou no ar uma campanha para captar R$1 milhão de pequenos investidores. O aporte mínimo era de R$ 5 mil e o máximo de R$ 40 mil.
Em cerca de 12 horas a oferta foi concluída com recursos de 200 investidores. “Isso mostra o apetite nessa faixa de investimento e a importância de criar novos modelos e veículos seguros e regulados pra atender o micro investidor brasileiro, diz João Kepler, presidente da gestora. Segundo ele, uma forma de fazer a distribuição para pequenos investidores vinha sendo estudada há cerca de seis meses pelo grande volume de pessoas perguntando como investir em startups. “Continuo dizendo que é um risco, mas agora, pelo menos, temos um novo modelo”, disse.
Os recursos captados recursos vão completar um mini-fundo de R$ 3 milhões que a Bossa estava montando e para o qual já tinha levantado R$ 2 milhões. No portfólio estão 11 empresas, com possibilidade de chegar a 15. A lista tem nomes como Communy, Hrestart, Rabbot e a Inco Investimentos, plataforma de investimentos imobiliários que foi usada para publicar a oferta.
De acordo com Kepler os novos investidores vão passar por uma imersão em venture capital, receber material sobre o assunto e acompanhamento da Bossa Nova. Se tudo correr bem, em um prazo de 15 dias o plano é fazer uma nova oferta, com valor mais alto, na faixa de R$ 20 milhões, e depois ir aumentando. “Precisamos ter velocidade para alocar o capital também. Não adianta só levantar e ficar com o dinheiro parado”, diz.
Banco Central, não CVM
A captação não aconteceu nos moldes tradicionais de venture capital com investimento em um veículo da gestora, ou mesmo no formato de equity crowdfunding. O que os investidores compraram foi um título de dívida captada pela Bossa Nova no modelo de Cédula de Crédito Bancário (CCB). O formato é normalmente usado por incorporadoras para financiar a construção de seus empreendimentos.
Isso significa que os investidores não compraram participação direta nas startups do fundo batizado de CCB1. Na prática, eles emprestaram dinheiro para a Bossa Nova por meio de um título de renda fixa (alô, alô C6 e Credit Suisse, tudo bem por aí?). Ou seja, a oferta foi Banco Central, não CVM, diz Kepler. Segundo ele, a gestora se cercou de pareceres jurídicos para ficar tranquila com esse formato.
Um detalhe, no entanto, pode abrir brecha para questionamentos. A remuneração prometida na CCB foi de um percentual fixo de 2% ao ano pelo prazo do título, de 120 meses. Até aí, tudo certo.
A questão é que também foi incluído um variável dependendo da venda das participações das empresas que compõem o portfólio do fundo ao longo dos anos. O bônus de performance não é incomum nesse tipo de operação, mas o fato de estar atrelado ao retorno do investimento nas startups gera dúvidas sobre a interpretação do regulador.
Para Kepler, o compromisso de retorno aos investidores não deve impactar no retorno do fundo. A Bossa diz que o retorno histórico de seus investimentos tem ficado na faixa de 24,2% ao ano. Em 2020, a gestora que já investiu em mais de 530 empresas, fez 23 saídas. A meta para 2021 é atingir a marca de 1.000 investimentos anunciada no lançamento do fundo, em 2011. “Continuamos com a mesma tese de investimento B2B, com cheques de R$ 100 mil a R$ 500 mil. Mesmo projeto, mesma brincadeira”, diz Kepler.