As ações da Natura fecharam o pregão de hoje em queda de 2,60%. Foi a segunda queda consecutiva do papel que vinha em um movimento de alta desde a semana passada.
Segundo operadores do mercado financeiro, o recuo foi causado por um movimento de migração de acionistas saindo de ações de crescimento para ativos de valor, mas também estaria ligado a uma denúncia de irregularidades no investimento na startup Singu, de Tallis Gomes, em setembro.
De acordo com Raiam Santos – que tem 1,5 milhão de seguidores no Instagram -, na época do anúncio, a empresa não comunicou ao mercado que o negócio estava sendo feito com uma parte relacionada: Matheus Farah de Godoy. O enteado de Guilherme Leal, acionista e co-presidente do conselho da Natura, investiu R$ 600 mil de recursos próprios na Singu. Segundo Santos, o negócio seria uma operação de “salvamento” da companhia fundada em 2015, que estaria em dificuldades financeiras. “Por que a Natura compraria uma empresa cujo patrimônio líquido contábil é de R$ 15 milhões NEGATIVOS”, questiona ele em stories publicado no domingo. Na publicação, ele apresenta dados do balanço da Singu registrados na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). Raiam também questiona a atuação de Tallis à frente da companhia, e critica que ele “abandonou” o negócio para tocar o Gestão 4.0 com outros sócios.
Procurado pelo Startups, Raiam disse que resolveu fazer a publicação depois de ser notificado de um processo movido por Tallis contra ele por difamação. A ação se refere a uma postagem feita por Raiam dizendo que a Singu estava quebrada. Os dois trocam farpas pelas redes sociais há algum tempo.
Raiam vive hoje na Rússia e ganha dinheiro vendendo cursos e consultorias pela internet e presenciais. Em seu “Menu”, como ele mesmo chama, estão 19 modalidades com preços que vão de R$ 120 mil por ano a R$ 297 (para um curso de russo em 2 horas).
Há cerca de 4 anos ele passou pelo programa de aceleração Startups Rio, com o jogo de perguntas e respostas Mestrix. O projeto não encontrou um modelo de negócios e não foi adiante, apurou o Startups.
Raiam volta e meia está envolvido em polêmicas nas redes sociais por conta de suas declarações. Sua conta no Instagram já foi suspensa 4 vezes. Em meados de novembro, por conta de comentários considerados xenófobos contra nordestinos, a conta saiu do ar novamente. A avaliação foi que o Instragram havia feito o processo depois de denúncias de usuários. Segundo Raiam, no entanto, foi ele mesmo quem suspendeu a conta.
Em comunicado enviado ao Startups, a Natura disse que fez um investimento na Singu e não é controladora da empresa. “Com o investimento, a Natura espera acelerar a sua intenção estratégica de ampliar a oferta de serviços de suas consultoras de beleza. Pelos termos do acordo, a Natura tem o direito de adquirir 100% da Singu, a depender do atingimento de metas previamente estipuladas entre as partes”, informou a companhia.
“A Singu, como é típico do ambiente de startups, possui mais de 30 investidores, entre os quais Matheus Farah Leal, que possui apenas um contrato de mútuo e não integra a base de acionistas da companhia. Ele jamais participou da administração da Singu ou teve qualquer influência na sua gestão. Além disso, ele também não se envolveu no processo de negociação com a Natura e não foi favorecido de qualquer forma”, completou.
Na divulgação do negócio, a Natura não revelou o valor a ser pago pela Singu. Segundo documentos na Jucesp consultados pelo Startups, em setembro as companhias acertaram uma emissão de “debênture conversível em quatro séries de emissão, com garantia real, no valor total de até R$ 65 milhões”. O valor seria a primeira parte do pagamento da operação, que tem earn out atrelado a metas a serem alcançadas até 2024.
Para um operador do mercado, é difícil imaginar que um executivo como Guilherme Leal faria uma operação apenas para salvar um investimento feito pelo enteado. “Seria mais fácil dar baixa, assumir o prejuízo e seguir a vida. Eles viram sinergia entre as operações”, disse.