O SoftBank demitiu cerca de 150 pessoas de seus times globais, que representam entre 26% e 30% do total de colaboradores. O Startups apurou que nas operações da América Latina 10 pessoas foram desligadas dos escritórios em São Paulo, Miami e Cidade do México, o que equivale a 18% da base. Os cortes afetaram todas as áreas da empresa, que atua com equipes de função, investimento e operação.
O megafundo japonês já havia adiantado ao mercado que faria demissões. Durante a apresentação dos resultados, em agosto, a companhia reportou um dos piores resultados de sua história com perdas de 2.93 trilhões de ienes (US$ 21,6 bilhões) em seu primeiro trimestre fiscal. Masayoshi Son, fundador e CEO do SoftBank, admitiu que o SoftBank deveria fazer uma “redução dramática” em seu quadro em diversas unidades de negócio e seria ainda mais conservador em suas escolhas de investimentos.
Pessoas com familiaridade no assunto ouvidas pelo Startups afirmam que na América Latina o SoftBank vive um momento diferente do global. “Com certeza aqui está melhor, pois os fundos da região estão em um ciclo inicial”, afirma um dos executivos. O SoftBank Latin America Fund foi anunciado em março de 2019, com US$ 5 bilhões para investir em startups da região. O portfolio inclui Nubank, Rappi, Gympass, Loft e QuintoAndar.
Segundo uma das fontes ouvidas pela reportagem, o braço de investimento latino tem uma taxa interna de retorno maior do que a global. O fundo segue avaliando empresas e está prestes a anunciar um novo investimento. No entanto, a unidade faz parte da corporação global e também teve que fazer cortes. Os funcionários desligados receberão um pacote de benefícios que não foram detalhados pela fonte, no intuito de “não deixar ninguém desamparado”.
Crise no reinado
Frente ao cenário atual do mercado, os investimentos liderados pelo SoftBank, que comandou a onda de interesse de fundos de venture capital na América Latina, tem despencado na região. Dados divulgados pela Pitchbook mostram que o total deals teve uma queda em investimentos de 71% comparado ao recorde de US$ 7,1 bilhões registrado no terceiro trimestre de 2021, de acordo com a plataforma.
O fundo perdeu grandes aliados como Rajeev Misra, que tocava o Vision Fund, depois de ter sofrido diversos desfalques com nomes como Marcelo Claure, que liderava as operações na América Latina e saiu em janeiro em meio a divergências sobre compensação.
As investidas do conglomerado japonês também passam por um momento conturbado. A MadeiraMadeira, que em 2021 levantou US$ 190 milhões com o SoftBank e Dynamo, cortou 3% do seu quadro de funcionários para reduzir os custos. Nos últimos meses, outras startups do portfólio do SoftBank enxugaram as operações, como a Loggi, que ontem cortou cerca de 15% do seu quadro de 3.000 pessoas. A VTEX dispensou mais de 10% do quadro e a healthtech Alice, que em dezembro fechou uma série C de US$ 127 milhões, desligou 63 funcionários. Loft e QuintoAndar foram outras gigantes afetadas pela onda dos layoffs.
Este mês, a Kahoot, plataforma permite criar jogos focados na educação, anunciou que o General Atlantic comprou a participação de 15% que o SoftBank detinha na empresa. O conglomerado investiu pelo menos US$ 215 milhões na edtech nos últimos anos, por meio de seu fundo SB Northstar. Considerando o valor de mercado atual da startup, a fatia vale cerca de 30% menos, US$ 152 milhões.
Seguindo em frente?
Mesmo com as crises no reinado do SoftBank, o conglomerado avalia lançar um terceiro fundo de investimentos da série Vision Fund, utilizando recursos do caixa próprio. O tamanho do fundo ainda não foi determinado, mas seu lançamento está previsto para o início de 2023.
Em 2017, o Vision Fund I levantou US$ 100 bilhões para investir em startups, sendo US$ 28 bilhões do próprio caixa e o restante de terceiros. O Vision Fund II veio dois anos depois, com US$ 49 bilhões disponíveis pelo SoftBank e sócios do grupo.