A Endeavor, organização global de apoio ao empreendedorismo, anunciou que faria mudanças no seu tradicional programa Scale-Up. Sai de cena o foco em empresas em estágio inicial para agora se concentrar em negócios em fase de escala – o que, convenhamos – faz mais sentido com o nome da iniciativa. A alteração é recente, mas já está sendo aplicada.
Com as mudanças, divulgadas em primeira mão pela Endeavor para o Startups, o programa abandona o formato de turmas e passa a ser personalizado para cada participante, permitindo que empresas sejam avaliadas e recebam mentorias estratégicas de forma contínua.
Além disso, os empreendedores terão acesso a especialistas de mercado, conexões estratégicas e soluções de acesso a capital, além de feedbacks direcionados para acelerar o crescimento do negócio. De acordo com Maria Fernanda Musa, Diretora de Aceleração de Negócios da Endeavor Brasil, essa abordagem mais flexível permite identificar gargalos e oportunidades em tempo real, facilitando o desenvolvimento das empresas sem a necessidade de esperar por novas janelas de inscrição.
Para entender o histórico, o programa foi criado em 2013, com intuito de apoiar empresas de tecnologia em fase inicial. Na época, surgiam companhias das quais hoje conhecemos e usamos seus serviços na palma da mão, como iFood e Loggi.
“Estavam começando a surgir essas primeiras empresas de tecnologia e mais fundos de investimento no Brasil. Sentimos a necessidade de estruturar um programa que a gente conseguisse apoiar essas empresas mais early stage, que era um tipo de empresa diferente do que a gente via na época, as empresas mais tradicionais”, relembra a diretora.
O Scale-Up fazia sentido para a realidade da época, mas, devido à evolução do empreendedor brasileiro nos últimos anos, foi necessário reestruturar o programa para conseguir seguir as novas tendências do mercado. “Os empreendedores foram ficando mais maduros e o ecossistema early stage, hoje, no Brasil, está muito mais desenvolvido, tem mais gente e mais fundos atuando”.
Quais são os critérios de avaliação?
Ainda segundo Maria Fernanda Musa, apesar da mudança, os critérios de seleção continuam os mesmos. A Endeavor segue analisando empresas com base em três pilares: o potencial de mercado e escalabilidade do negócio, as habilidades e liderança do empreendedor e o momento ideal para o crescimento.
A entrada no programa Scale-Up não significa que a empresa já se torna um Empreendedor Endeavor, mas marca o início de um processo de seleção mais estruturado. Durante um período que varia de três a nove meses, os participantes recebem mentorias estratégicas enquanto passam por avaliações conduzidas por especialistas.
O processo inclui bancas específicas e painéis com mentores da Endeavor, garantindo uma análise aprofundada do potencial de crescimento do negócio antes da validação final como Empreendedor Endeavor.
Como incluo minha startup no Scale Up?
A Endeavor busca startups que apresentem soluções inovadoras para problemas reais e que atuem em mercados suficientemente grandes para possibilitar o crescimento dessas empresas.
Além da escalabilidade do negócio, a organização avalia os fundadores com base em características essenciais para o sucesso empreendedor. Entre os atributos mais valorizados estão a curiosidade e a resiliência, qualidades que, segundo Maria Fernanda Musa, diferenciam aqueles que conseguem superar desafios e impulsionar suas empresas para novos patamares.
Além dessas habilidades, a capacidade de liderança e a construção de um time forte são aspectos fundamentais. A diretora destaca que, por mais brilhante que um fundador seja, ele não conseguirá escalar um negócio sozinho.
Atrair talentos qualificados e saber guiá-los rumo ao crescimento da empresa são características comuns entre os principais empreendedores da rede. Dessa forma, a organização reforça seu compromisso em apoiar líderes visionários que estejam preparados para transformar suas ideias em negócios de grande impacto.
Ajudando quem precisa
Para Maria Fernanda Musa, excelentes talentos podem surgir de qualquer lugar do mundo e não só do Vale do Silício. A Endeavor está presente em quase 50 países e pretende chegar a 100 até 2035.
Sendo assim, a organização foca em mercados emergentes e se presta a ficar a serviço do país, concentrando esforços onde a Endeavor percebe problemas que possa ajudar a resolver. Segundo a diretora, isso não é diferente para o Brasil, que enfrenta alguns desafios no momento, como taxas de juros altas e pouco crescimento da economia.
Maria explica uma ideologia da organização, que aponta que “quando as economias estão embaixo, os empreendedores estão olhando para frente”, ou seja: nas maiores crises, é que você vê empresas para resolver grandes problemas.
No caso do Brasil, a diretora aponta problemas como educação, infraestrutura e saúde. “São problemas muito sistêmicos, então isso cria oportunidades, porque onde tem grandes problemas tem oportunidades de serem resolvidas”, aponta, complementando que o empreendedor brasileiro é muito resiliente.
“Nossa previsão é que mercado de venture capital seguirá resiliente como foi nos últimos anos. Ainda que pequeno em número total, bons fundos tem conseguido avançar com as captações de seus novos veículos de investimento e os empreendedores estão agora com um conjunto de crescimento e rentabilidade sem precedentes. Além disso, fundos de late-stage como Bond Capital e Warburg Pincus tem demonstrado apetite pelas companhias mais maduras”, comenta Gustavo Cruz, Diretor de Capital e Gestão de Rede da Endeavor.