Com pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Finlândia pode até ser um país pequeno em termos populacionais, mas tem um ecossistema de inovação que chama atenção no cenário global. Apoiada por políticas públicas consistentes, investimentos em educação e tecnologia, e uma forte colaboração entre governo e setor privado, a nação nórdica tem conseguido transformar boas ideias em negócios de alto impacto – e vem atraindo a atenção de brasileiros que buscam um ambiente favorável para escalar seus negócios.
“Queremos ter uma relação ganha-ganha e estamos ativamente em busca de talentos de todas as partes do mundo”, afirma Heidi Virta, Diretora Sênior e Head da Business Finland para a América Latina. Como agência oficial do governo finlandês, a Business Finland é responsável por promover o comércio, atrair investimentos, financiar a inovação, fomentar o turismo e apoiar a atração de talentos – com foco em empreendedores, startups e profissionais qualificados.
“A ideia é oferecer todo o suporte necessário para que eles aterrissem tranquilamente no país, criando um ambiente favorável para startups por meio de políticas focadas em crescimento, inovação e atração de investimentos em diversos setores”, diz Heidi.
A entidade oferece uma série de benefícios para apoiar empresas no desenvolvimento de soluções inovadoras. Entre os recursos disponíveis estão mentorias, conexões com stakeholders locais, suporte para obtenção de vistos, dados setoriais e insights atualizados sobre o ambiente de negócios finlandês.
Também há acesso a financiamento para pesquisa, desenvolvimento de produtos e crescimento de negócios, voltado a startups e PMEs estabelecidas na Finlândia. A Business Finland ainda facilita conexões com investidores, apoia processos de internacionalização e promove a participação em eventos e feiras para encontrar os parceiros ideais.
Por que a Finlândia?
Além de ser considerado o país mais feliz do mundo, a Finlândia também está entre os 10 mais inovadores, segundo o Índice Global de Inovação de 2024, e é o berço de grandes marcas como Nokia, Angry Birds e Clash Royale. Seu ecossistema de startups é o 15º maior em nível global e cresce cerca de 26% ano ano, de acordo com o “Startup Ecosystem Report 2025”, da StartupBlink.
Entre os principais cases, estão unicórnios como Aiven, plataforma open source que ajuda empresas a extrair mais valor de seus dados, e a RELEX Solutions, especializada em planejamento para o varejo e cadeias de suprimentos. Outro destaque é a Oura, criadora de um anel inteligente para monitoramento do sono e da saúde; e a HMD Global, fabricante de smartphones responsável pela linha da Nokia.
Heidi acrescenta que a Finlândia é um ponto estratégico para quem deseja expandir os negócios para o restante do continente europeu. “Já estar dentro da União Europeia facilita muito o processo de internacionalização”, diz a executiva. “Além disso, as políticas públicas do país oferecem programas de aceleração e benefícios que impulsionam o empreendedorismo tecnológico”, pontua.
Ela também destaca um aspecto cultural importante: o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. “Ter uma startup exige muito dos empreendedores, mas criamos um ecossistema em que eles também têm tempo para desfrutar da natureza, da família e manter um ritmo de vida mais tranquilo. A ideia é que possam trabalhar e fazer bons negócios sem abrir mão do bem-estar e do lazer”, afirma. Ela acrescenta que saber finlandês não é um pré-requisito, já que a maior parte da população fala inglês com fluência.
“Um ponto que chama a atenção dos talentos estrangeiros é a baixa hierarquia nas empresas finlandesas. É comum conseguirem falar diretamente com o CEO de uma grande companhia, que pode se tornar um parceiro ou cliente em potencial. Além disso, o país conta com uma forte rede empreendedora, com diversos eventos e programas que conectam fundadores, mentores, investidores e parceiros, o que amplia as oportunidades de crescimento. Essa facilidade de criar conexões dentro do ecossistema é uma grande vantagem”, destaca.
Todos os anos, a Finlândia recebe o Slush, um dos principais festivais de inovação e tecnologia do mundo, com foco em founders, startups e investidores. O evento acontece sempre em novembro, na capital Helsinki. Em 2025, a expectativa é reunir mais de 13 mil pessoas para dois dias de networking e aprendizado.
Conexão Brasil-Finlândia
Ao contrário do que muitos imaginam, Brasil e Finlândia têm diversos pontos em comum que potencializam a conexão entre os dois países. “São mercados complementares em várias indústrias, como bioeconomia, mineração sustentável, digitalização e games”, destaca Heidi. “Já há colaboração entre startups brasileiras e finlandesas, porque a Finlândia tem muito a oferecer em termos de tecnologia e inovação para quem quer atuar nesses setores”, afirma.
Atualmente, o foco da Business Finland na América Latina está voltado especialmente para o Brasil. “Há muito potencial nessa colaboração, além de uma forte afinidade entre as indústrias. Atualmente, já existem mais de 40 empresas finlandesas com subsidiárias no Brasil e outras 200 que atuam no país por meio de representantes ou distribuidores”, reforça Heidi. Ainda assim, a entidade não descarta ampliar as alianças com outros países da região.
Para Heidi, a grande oportunidade do momento está na sustentabilidade. “É um caminho que todos os países e setores precisarão seguir, com foco em uma economia circular”, explica. Em maio, o Brasil aprovou o Plano Nacional de Economia Circular, documento que estabelece 18 objetivos e mais de 70 ações para orientar as políticas de circularidade no país ao longo dos próximos dez anos. Já a Finlândia tem como meta se tornar um país neutro em carbono até 2035, e alcançar emissões negativas até 2050. “Precisamos trabalhar juntos para que haja o ganha-ganha no ecossistema, e vemos o Brasil como um grande parceiro nesta jornada.”
No Brasil, a organização atua por meio da Embaixada da Finlândia, em Brasília (DF), do consulado em São Paulo e de uma equipe local da Business Finland, também sediada na capital paulista.