A Estônia tem se tornado o país queridinho de empreendedores em todo o mundo. A região é considerada referência em governo digital (99% do país já é digitalizado), e conta com incentivos fiscais atraentes para quem deseja empreender e um ecossistema de inovação efervescente que vem criando oportunidades para negócios locais e estrangeiros que desejam expandir para a Europa.
Atualmente, o país tem o maior número de startups per capita do continente. São cerca de 1,4 mil empresas de base tecnológica entre seus 1,3 milhão de habitantes, em uma área que representa apenas metade do estado de Santa Catarina. A região reúne também o maior número de unicórnios per capita da Europa, de acordo com o estudo “State of European Tech 2022”. De lá, saíram marcas como Skype, Wise, Bolt e Pipedrive.
Para fomentar ainda mais esse ecossistema, foi criado o Startup Estonia, programa do governo voltado ao setor. A iniciativa funciona no escopo do Ministério da Comunicação e Economia, com o objetivo de impulsionar as startups do país com base em três pilares: garantir que a parte legislativa seja clara, monitorando constantemente as mudanças necessárias na legislação; garantir que o ecossistema seja colaborativo, ajudando com conexões, quando necessário; e garantir que haja financiamento suficiente disponível para as startups.
“Estamos trabalhando para tornar o país um dos melhores lugares do mundo para as startups, fazendo parcerias e unindo o que há de melhor em startups, incubadoras, aceleradoras e os setores público e privado”, afirma Annika Järs, gerente de desenvolvimento do programa Startup Visa e Relações Exteriores da Startup Estonia.
Fazendo a ponte Brasil-Estônia
Com a missão de fomentar a criação de startups e empregos para pessoas de outros países na Estônia, o projeto vem criando formas para os empreendedores brasileiros expandirem seus negócios e se juntarem ao cenário tecnológico da Estônia.
As startups que desejam entrar no cenário tecnológico da Estônia já podem solicitar o Startup Visa – um visto para startups na Estônia oferecido pelo programa do governo. Para se qualificar, uma empresa precisa ser considerada uma startup e ter pelo menos um MVP (produto viável mínimo) com alguma tração. Basta preencher um formulário no site da Startup Estonia e, em seguida, um comitê especial de especialistas avaliará a ideia do negócio, o que leva cerca de 10 dias.
“Depois, o empreendedor e sua família já podem pegar um avião para a Estônia, pois há isenção de visto nos primeiros 90 dias. O processo de solicitação de visto ou de autorização de residência temporária pode ser iniciado na Estônia”, explica Annika. Para fortalecer ainda mais a ponte entre os países, a Startup Estonia organiza encontros e eventos regulares para estrangeiros no país, com o intuito de ajudá-los a se enturmar no ecossistema rapidamente.
Segundo Annika, o principal desafio para fortalecer a relação entre os países é que o Brasil e a Estônia ainda não têm um acordo de dupla tributação. “Embora a Estônia tenha como objetivo evitar a dupla tributação, no sentido de que se uma empresa puder provar que já pagou imposto sobre algo no Brasil, ela não será tributada novamente na Estônia, um tratado mútuo seria benéfico”, avalia.
Geração de valor
“Os talentos brasileiros do setor de tecnologia podem agregar um grande valor ao nosso ecossistema, pois parece que temos uma ótima combinação cultural, embora sejamos bem diferentes um do outro”, afirma Annika. A executiva explica que para os empreendedores brasileiros, a Estônia pode ser a porta de entrada para o mercado europeu e, ao mesmo tempo, ser um dos ecossistemas de startups mais acolhedores do mundo.
“O mercado estoniano em si é pequeno, mas graças à nossa sociedade digital é fácil operar um negócio por aqui. A criação de uma empresa leva 15 minutos, a declaração de impostos leva cerca de três minutos e tudo pode ser feito online. Pode parecer que Brasil e Estônia estão em lados opostos do mundo, mas com uma empresa comercial da União Europeia, é possível atrair investimentos estrangeiros e financiamento europeu, seja para operar inteiramente no Brasil como empresário individual, criar o próximo unicórnio ou até mesmo se mudar para a Estônia”, acrescenta Annika.
A parceria entre os países também pode contribuir para uma geração de valor importante para o próprio ecossistema estoniano. “O Brasil é um país muito grande, especialmente se comparado à Estônia. O mercado brasileiro definitivamente pode ser interessante para as nossas startups. Já vimos isso em uma startup unicórnio da Estônia, a Wise, que atualmente está muito ativa no Brasil”, pontua.
Por conta da dimensão do território brasileiro, Annika analisa o nosso ecossistema em seções. “O que está acontecendo em São Paulo é bem diferente do que está acontecendo em Florianópolis, por exemplo”, diz. A executiva visitou a capital de Santa Catarina algumas vezes nos últimos anos, e notou semelhanças entre a região e seu país-natal.
“Todos se conhecem e conseguir o número de um investidor está provavelmente a um telefonema de distância.” Em São Paulo, ela observa bons resultados para o setor de fintechs, o qual acredita ainda ter um enorme potencial de crescimento. “Outro aspecto que considero excelente no Brasil é a colaboração entre startups e empresas. Espaços como o Cubo e o Inovabra definitivamente ajudam a promover esse vínculo”, destaca.