Leo Huan, fundador da Dealism | Foto: Divulgação
Leo Huan, fundador da Dealism | Foto: Divulgação

O conceito de vibe coding vem ganhando força globalmente com startups como a Lovable, que ajuda a criar softwares a partir de linguagem natural e intuição. Agora, a mesma lógica começa a migrar para o universo das vendas – e o Brasil tem potencial para despontar nesse mercado. Foi pensando nisso que o empresário chinês Leo Huan decidiu apostar no país e lançar aqui sua nova empreitada: a startup Dealism, de vibe selling.

A operação começou a funcionar em soft launch desde julho deste ano, mas ganhará tração em 2026 após uma captação de US$ 15 milhões (cerca de R$ 80 milhões) liderada pelo fundo chinês GL Ventures, com participação da HSG (antiga Sequoia Capital China), Linear Capital, além de investidores anjo.

A proposta da Dealism é oferecer ao mercado brasileiro o que chama de primeiro agente de vibe selling do mundo. A ferramenta de IA é focada em comunicação de vendas, especialmente em canais como WhatsApp e Instagram, com foco inicial em pequenas e médias empresas, além de profissionais autônomos.

Segundo o fundador, muitos empreendedores brasileiros dependem dessas conversas para vender, mas perdem oportunidades por limitações de tempo, escala e consistência.

“Pequenos negócios vivem das conversas no WhatsApp, mas não conseguem responder tudo, manter o tom certo ou acompanhar negociações longas. Acreditamos que esse é um dos maiores potenciais do Brasil”, disse ele, em entrevista ao Startups.

Leo Huan chega ao Brasil com a experiência de quem esteve à frente de um dos principais players de Software-as-a-Service (SaaS) da China, a Youzan, companhia listada na bolsa de valores de Hong Kong. O empreendedor ocupou o cargo de COO na empresa, onde ajudou a impulsionar mais de US$ 15 bilhões em GMV (Volume Bruto de Mercadorias).

A escolha do Brasil como primeiro mercado não foi casual. Além da popularidade do WhatsApp no país, Leo identificou semelhanças estruturais com a China de uma década atrás, quando o país liderava a expansão do comércio conversacional no WeChat.

“O Brasil é quase como uma máquina do tempo, um espelho do que vimos na China há alguns anos. Percebemos que o maior gargalo não era tecnologia, mas comunicação. As equipes perdiam tempo com respostas repetitivas, enquanto a parte mais humana da venda ficava em segundo plano”, diz.

Chatbots são “coisa do passado”

Com cerca de 10 mil usuários na América Latina e nos Estados Unidos, a Dealism opera por enquanto a partir de Singapura, sem escritório local no Brasil, mas planeja contratações para o ano que vem. Depois de se consolidar no mercado brasileiro, a startup pretende expandir para outros países da América Latina, como Colômbia, Argentina e México.

O valor do aporte será destinado à expansão internacional, além do desenvolvimento de recursos avançados de inteligência de vendas e ao fortalecimento da infraestrutura de aprendizado contínuo. Leo afirma que a empresa segue padrões rigorosos de segurança, com atenção especial à proteção dos dados dos usuários brasileiros.

Diferentemente de chatbots tradicionais, o sistema da Dealism foi desenvolvido para interpretar intenção, emoção e contexto das mensagens, automatizando não apenas respostas, mas etapas completas da negociação. O agente aprende com documentos internos, histórico de conversas e correções feitas pelo usuário, ajustando argumento, timing e linguagem em tempo real.

“Os chatbots tradicionais são coisa do passado”, diz Leo, defendendo que o objetivo não é substituir vendedores, mas ampliar suas capacidades. “É sobre empoderar cada empreendedor, como se cada um virasse um super-homem das vendas”, afirma.

Os principais segmentos que vêm adotando a plataforma incluem educação, escolas, serviços domésticos, empresas de serviços, tecnologia e e-commerce.

Leo destaca que o avanço recente dos modelos de linguagem (LLMs) foi decisivo para tornar o produto viável. Segundo ele, a inteligência artificial deve liberar tempo e habilidades, permitindo que pessoas foquem no que realmente importa.

“Sem os LLMs, isso não teria acontecido. Ainda estamos em um estágio muito inicial, mas o mais importante agora é construir agentes inteligentes e levar tecnologia avançada para os consumidores”, aponta.