Vivemos um mundo em que as tecnologias de comunicação sem fio nos permitem fazer maravilhas. Até no monte Everest já dá para navegar usando o 5G.
Mas as baterias. Vixe. Não duram nada. E os cabos para garantir a energia para manter tudo funcionando? Por que não dá para alimentar os aparelhos também com energia sem fio? Advinha. Dá sim. E o melhor de tudo, com uma tecnologia desenvolvida no Brasil.
Nascida em 2016, na cidade de Capivari, interior de São Paulo, a IBBX Inovação desenvolveu um sistema que faz a captura de energia perdida no ar no formato de sinais eletromagnéticos emitidos por antenas de rádio, TV e telefonia celular, o energy harvesting. A proposta é um pouco diferente da transmissão de energia sem fio, o wireless power transmitssion (WPT), proposto por Nikola Tesla porque não prevê uma unidade central para emissão de energia.
Depois de “colhida”, a energia pode ser reciclada e direcionada para carregar uma bateria ou alimentar algum outro aparelho. No laboratório, a IBBX tem equipamentos como controle remoto, câmeras e bateria externa para celulares com a tecnologia aplicada, conta Luiz Fernando Destro, chefe de tecnologia e cofundador da startup.
Ele garante que a tecnologia é segura e não apresenta risco aos seres humanos, nem para outros serviços.
O desenvolvimento
A tecnologia vinha sendo elaborada por Luiz Fernando desde 2012. Quatro anos depois, ele resolveu apresentar a ideia para William Aloise, então executivo da Saint-Gobain. Ele gostou do projeto e decidiu investir. Desde 2018, atua como presidente da companhia.
A dupla ainda trouxe para o projeto Carlos Degas Filgueiras, da família dos fundadores do Hotel Emiliano e do fundo Bewater Ventures. Quem também entrou na jogada foi André Penha, cofundador do QuintoAndar. Em 2019, as gestoras DGF e a Alexia Ventures (do ex-DGF Patrick Arippol) fizeram um aporte de US$ 2,3 milhões na companhia.
Agora a IBBX está com uma rodada de série A em curso. A ideia é captar US$ 5 milhões com investidores nacionais e internacionais. As conversas começaram na semana passada. “Ficamos 3 anos fazendo pesquisa pura. Agora queremos nos mostrar para o mercado”, diz William.
A startup tem atualmente 25 funcionários e 11 pedidos de patentes depositados – sendo 6 no Brasil, 4 fora e 1 em análise. “Apostamos muto na união entre cabelo branco e jovens. Temos pessoas que trabalharam no desenvolvimento de satélite, na NASA, na agência espacial chinesa e gente que não era da área propriamente dita”, conta Luiz Fernando.
O 1º produto
O plano original da IBBX era atuar como uma desenvolvedora e licenciadora de propriedade intelectual. Isso é, vendendo suas criações para que outras empresas as incorporassem em seus equipamentos. Diz aí se não seria demais que seu iPhone ou seu Samsung se recarregasse sozinho!
Mas vender uma tecnologia base não é uma coisa simples. As decisões sobre o que vai ou não dentro de um aparelho são tomadas nas áreas de pesquisa e desenvolvimento nas matrizes dos fabricantes. E para uma companhia do interior de São Paulo chegar até lá, vamos combinar que não é nada fácil. É um sonho de longo prazo”, diz Luiz Fernando. Segundo ele, há conversas em curso com um fabricante internacional de celulares e outro de acessórios. Também há discussões com uma marca brasileira de equipamentos eletrônicos.
Para não ficar parada esperando possíveis clientes fecharem contrato, a IBBX tomou a decisão de criar um produto próprio como 1ª aplicação a sua tecnologia. O resultado foi a criação de um dispositivo que é instalado em máquinas industriais e monitora o seu funcionamento à distância. O aparelho lembra muito o band-aid inteligente da Tractian, startup que também é investida pela DGF.
“Outros fabricantes têm coisas parecidas, mas usando bateria e protocolos e comunicação conhecidos, com curto alcance, o que obriga a ter uma estrutura de repetição de sinal que aumenta o custo de implementação. O nosso equipamento resolve tudo com menor custo”, explica William.
Segundo ele, são 12 pilotos em curso no momento e a companhia vendeu R$ 800 mil no 1º mês de venda do dispositivo – que foi certificado pela Anatel em setembro e já tem aprovação do órgão equivalente dos EUA, o FCC. Para 2022, o objetivo é ter centenas de empresas como clientes.
O fator Cazuza
Em meio ao processo de desenvolvimento da tecnologia da IBBX, por volta de 2018, Luiz Fernando se viu na necessidade de achar um componente bastante específico, um capacitor variável. Na busca, recebeu a indicação de conversar com o tal de Cazuza, um senhor que fazia consertava aparelhos eletrônicos.
Ao falar do componente e de como ele seria usado, a conversa foi tão profunda e produtiva que Cazuza, que aprendeu tudo o que sabe estudando sozinho, recebeu uma proposta de emprego. “O que a gente estava tentando resolver há meses, ele resolveu em 2 dias”, conta Luiz Fernando.