A transição energética é um dos maiores desafios globais da atualidade e, ao mesmo tempo, uma das áreas mais promissoras para a inovação. De olho nesse cenário, surge a Gron Partners, venture partner dedicada exclusivamente a energia e sustentabilidade. Criada por especialistas em inovação, capital de risco e políticas públicas, a iniciativa se propõe a apoiar startups e spin-offs que atuam em frentes como descarbonização, digitalização, descentralização e democratização da energia.
Segundo Helton Carvalho, CEO da Gron Partners, a ideia nasceu de forma orgânica a partir dos resultados e impactos gerados pelo Energy Summit, evento global voltado à inovação e ao empreendedorismo no setor. “O Energy Summit já unia governo, academia, investidores, startups e grandes empresas em torno de soluções para a transição energética. A Gron nasce como um braço natural desse movimento, para transformar essas conexões em negócios”, afirma.
Em parceria com a MIT Technology Review e o programa MIT REAP, a Gron quer aproximar startups de grandes empresas, fundos e políticas públicas em um modelo colaborativo, orientado por dados, estratégia e impacto. A proposta vai além do aporte financeiro: inclui venture builder, venture capital e international landing em uma plataforma integrada de suporte.
“Combinamos tudo isso para criar uma one-stop venture, capaz de apoiar desde serviços jurídicos e de TI até marketing, networking e internacionalização. É smart money no sentido mais amplo”, explica Hudson Mendonça, cofundador da Gron e CEO do Energy Summit.
Até 2028, a Gron projeta investir R$ 30 milhões em até 15 negócios, com a expectativa de gerar mais de R$ 250 milhões em faturamento agregado no período.
Proposta de valor
A tese de investimentos da Gron se apoia nos 4Ds da transição energética: descarbonização, descentralização, digitalização e democratização. A empresa está aberta a negócios em diferentes estágios, desde spin-offs acadêmicos ainda em fase seed até startups internacionais maduras que queiram expandir para o Brasil.
Um exemplo citado por Hudson Mendonça é uma tecnologia universitária voltada para a imobilização de barragens, que ainda não gera faturamento, mas apresenta alto potencial de impacto. Na outra ponta, há empresas europeias de descarbonização já faturando milhões de euros, interessadas em ingressar no mercado brasileiro por meio da estratégia de international landing.
Entre os setores com maior potencial, os fundadores destacam data centers – que dependem fortemente de energia renovável para a expansão da inteligência artificial –, bioenergia, mobilidade elétrica e híbrida, descarbonização marítima e aérea e o mercado de carbono. “São áreas em que o Brasil tem vantagem competitiva e pode se tornar referência global”, afirma Mendonça.
Helton Carvalho reforça que a Gron busca soluções que partam de problemas concretos de grandes organizações. “Nosso ponto de partida é a demanda real. A partir dela, buscamos startups em diferentes estágios que possam entregar a solução.”
Potencial de mercado
De acordo com os executivos, o maior desafio das startups de energia está em conectar os diferentes pontos do ecossistema. “Temos universidades desenvolvendo deep techs que não viram negócio, e grandes corporações com interesse e capital, mas sem braço para fazer esse desenvolvimento. Falta a API da inovação, a estrutura que conecta os atores”, observa Helton Carvalho.
Outro obstáculo é o modelo de financiamento. Diferente de edtechs ou fintechs, as energytechs demandam capital intensivo e têm ciclos longos de validação, além de estarem sujeitas a forte regulação. “Um aplicativo pode ser testado em semanas. Já uma solução para barragens ou descarbonização marítima exige investimentos de dezenas de milhões e anos de certificação. O modelo tradicional de venture capital não se aplica da mesma forma”, afirma Hudson Mendonça.
Para os especialistas, o Brasil vive um momento histórico. “Temos 90% da matriz elétrica limpa, contra 30% da média mundial. Quando olhamos a matriz energética total, são 49% limpos, mais de três vezes a média global. Isso nos coloca em posição única”, diz Mendonça.
Carvalho acrescenta: “O Brasil tem a chance de fazer na energia o que já fez no agronegócio: transformar um diferencial comparativo em diferencial competitivo. A Gron nasce como reflexo do Energy Summit e como catalisador para que o país lidere a transição energética no mundo.”