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Essas startups querem que você tome direitinho as suas vitaminas

Setor engatinha no Brasil, mas já conta com soluções inovadoras para atender às necessidades dos pacientes

Essas startups querem que você tome direitinho as suas vitaminas

Já dizia o velho ditado: é melhor prevenir do que remediar. A frase encaixa nas mais diferentes situações do cotidiano e, no caso da saúde, não seria diferente. A prevenção é sempre mais confortável – e, convenhamos, econômica – do que o tratamento. 

Os cuidados são variados. Passam por uma série de exames periódicos, check-ups com o médico, alimentação balanceada, prática de esportes e sono de qualidade. Mas um outro segmento ainda pouco explorado no Brasil vem chamando a atenção do mercado de saúde com suas soluções personalizadas e variedade de produtos – as vitaminas.

“Apenas 6% da população brasileira toma vitamina. É um mercado que ainda está engatinhando, mas que tem muito espaço para crescer”, diz Rupen Kuyumijian, cofundador da Be.Cap.s. Elaborados com base nos micronutrientes essenciais para o organismo humano, os compostos  podem trazer melhorias de controle de estresse, beleza da pele, saúde do coração, imunidade, emagrecimento, entre outros. Sabia que Luteína ajuda a filtrar a luz azul e te ajuda a deixar a visão menos cansada por tantas horas no computador? Ou que o Triptofano pode te ajudar a dormir melhor? Pois é.

O mercado de suplementação é estimado em R$ 40 bilhões no Brasil e alguns produtos podem ser facilmente encontrados nas farmácias tradicionais. O problema é que eles têm espectro mais amplo, faltando exatamente entender as necessidades específicas de cada pessoa. “Muitos optam por comprar um produto A-Z, mas o corpo não absorve toda essa quantidade de substâncias de uma vez. O organismo pode ficar com excesso de alguns nutrientes que já tem na quantidade ideal, ou com falta de outros que ainda precisa”, diz Rupen.

Os produtos da Be.Cap.s

Personalização

Mas como, ainda mais, virtualmente, uma pessoa vai saber de quais vitaminas precisa exatamente? Simples, basta responder um questionário antes de fazer as compras. Os formulários criados pelas startups usam algumas dezenas de perguntas e inteligência artificial para entender características e objetivos e montar kits personalizados com os nutrientes e a posologia certa para que os consumidores resolvam os quadros clínicos que mais os afligem. “O diferencial é trabalhar com cápsulas isoladas, com as doses certas para retenção total dos nutrientes”, diz o veterano do mundo do marketing Augusto Neto, cofundador da vitamine-se. Investidor da Airfluencer, Augusto tem usado muito influenciadores para promover a marca.

Além das vitaminas individuais, a healthtech também oferece packs prontos, pensados de acordo com objetivos específicos para fortalecer a imunidade, revigorar a beleza e dar mais energia. Todos eles são desenvolvidos com o apoio de médicos, nutricionistas e nutrólogos. A produção é terceirizada com fábricas especializadas.

Lançada em março de 2021 com investimento de R$ 2 milhões do próprio Augusto, a vitamine-se tem hoje 24 produtos em seu portfólio, com a expectativa de chegar a 34 no início do próximo ano. Para isso, a startup deve entrar nos segmentos de performance (para pessoas que fazem bastante exercício), com barrinhas de proteína, Whey, Golden Milk, pasta de amendoim e uma linha vegana.

Os potes de vitaminas da vitamine-se

Desafios do mercado

“Cerca de 60 milhões de brasileiros precisam de suplementação alimentar, mas a maioria nunca teve uma experiência com as vitaminas”, diz Augusto. Os motivos para isso são diversos e começam na própria cultura do brasileiro. 

“O preconceito ainda existe. Muitas pessoas acham que vitamina é remédio, que engorda ou custa caro. Precisamos melhorar a conscientização dos consumidores”, argumenta o empreendedor. A grande questão é fazer as pessoas entenderem os suplementos como forma de prevenir problemas de saúde, e não como um medicamento que deve ser usado só depois de um diagnóstico. 

Para Rupen Kuyumjian, da Be.Cap.s, a mudança só será alcançada com a informação do público consumidor. Por isso, a healthtech conta com um canal no YouTube, blog, podcast e uma revista autoral com conteúdos informativos sobre o setor. “Nosso diferencial é ser um produtor de conteúdo sobre o mercado de vitaminas e suplementos. Queremos ser conhecidos como referência de conhecimento no setor, trazendo informação com forte embasamento técnico e científico”, diz o empreendedor.

Lançada em agosto com um investimento inicial de R$ 3,5 milhões, a Be.Cap.s conta com um time de médicos nutrólogos, farmacêuticos e nutricionistas, responsáveis por elaborar 38 fórmulas com posologias específicas para ajudar a melhorar a imunidade, energia, concentração, sono, estresse, entre outros. “Muitas cápsulas disponíveis no mercado usam invólucro de gelatina, de origem animal. Na maioria dos casos, pessoas veganas e vegetarianas nem sabem disso. Tomamos o cuidado para atender a essas restrições”, afirma Rupen.

O executivo indica outro fator que atrapalha a cultura do brasileiro em relação ao consumo de vitaminas: a disciplina. “Muita gente compra o suplemento, mas o deixa parado no pote. Toma os primeiros dias e esquece, ou tem preguiça, porque não vê um resultado imediato”, diz. Por estarem na zona da prevenção, os efeitos das vitaminas são observados no longo prazo e o consumo deve ser contínuo para que o corpo esteja sempre com os nutrientes necessários.

Soluções

Mas como impedir que as pessoas abandonem o tratamento no meio do caminho? A aposta do mercado é criar experiências que ajudem e incentivem o paciente a continuar o processo. No caso da Bio.me, o objetivo é implementar na plataforma um serviço de acompanhamento periódico. “A ideia é analisar onde o cliente já teve melhorias e o que ainda deseja aprimorar”, explica o cofundador Leonardo Vieira.

Caso precise mudar a composição do produto ou busque alguma orientação sobre o consumo, o paciente terá a ajuda dos especialistas. “É mais uma forma de personalizar a solução e garantir a proximidade com o consumidor, oferecendo esse apoio adicional para ele seguir no processo da suplementação”, diz Leonardo.

Dentre as startups em operação, a Bio.me é a única com um modelo de negócio baseado em assinatura. O plano mensal custa R$ 125. “A vantagem é que esse é um preço fixo. Se ele vai tomar 1 ou 10 vitaminas, todo mundo paga o mesmo preço.” O cliente recebe 30 sachês, um para cada dia do mês com os comprimidos que precisa tomar no dia, e uma nova caixa é entregue antes que o mês acabe. Caso deseje, pode cancelar o serviço a qualquer momento, diretamente pela plataforma.

Segundo o empreendedor, o próximo desafio é desenvolver vitaminas líquidas. “Estamos em um mercado em que todo mundo lança a mesma coisa. Nossa ideia é fazer algo que ninguém está fazendo”, afirma. A estratégia é tornar o consumo ainda mais prático e habitual. “Todo mundo bebe água. Por que não colocar um pouco de vitamina nesse copo?”. Em setembro, a startup foi selecionada para o Eretz.bio, o programa de relacionamento com startups do Hospital Albert Einstein.

Outro player do mercado é a SetYou. Para a cofundadora Juliana Duarte, o diferencial da companhia está no algoritmo. “Trabalhamos para desenvolver a melhor plataforma do mercado de vitaminas, que entende a pessoa de forma aprofundada”, afirma a empreendedora. A inteligência artificial analisa mais de 200 critérios e combinações para selecionar a fórmula ideal para o consumidor. No momento, a startup está em fase final de negociação de sua 1ª rodada de investimento.

Juliana Duarte e Murillo Vianna, que fundaram a SetYou

Além das soluções mais comuns (de sono, imunidade, beleza, estresse e energia), a healthtech também oferece componentes para ajuste de libido, enxaqueca, rinite alérgica, infecção urinária, glicemia elevada e até compulsão por comida. Os sachês são enviados em pacotes para 30, 60 ou 90 dias.

Com um produto 100% personalizado, a empreendedora afirma que as combinações são praticamente infinitas. “Já coletamos dados de mais de 50 mil potenciais clientes. Isso nos ajuda a entender o que eles buscam, inclusive para pensarmos em futuras parcerias com outras organizações da saúde”, diz Juliana.

A empreendedora observa um forte crescimento do mercado durante a pandemia, impulsionado pelo aumento de discussões sobre saúde e bem-estar. “Ainda estamos no começo do que virá a ser um grande setor em alguns anos, conforme as pessoas se preocupam com sua saúde física e mental. E é nisso que a gente aposta.”

Ela considera que as plataformas de inteligência para recomendação de suplementos ajudam o cliente a ter mais independência sobre sua própria saúde. “Com um questionário detalhado, o paciente se educa, percebe suas necessidades e quais as limitações.” Ele não está passivo no processo, apenas recebendo a informação sobre o que deve comprar e buscando o produto na farmácia.

Adeus, médico?

“Essas plataformas de inteligência artificial não são o suficiente para substituir o atendimento médico”, afirma Rupen, da Be.Cap.s. Ele afirma que com a análise de um especialista e exames laboratoriais o paciente terá uma visão mais minuciosa sobre o que está faltando em seu organismo. “Ao invés de comprar uma vitamina na farmácia, o cliente pode fazer uma escolha mais assertiva, personalizada às suas necessidades”, explica.

Leonardo, da Bio.me, reconhece que com o atendimento médico a recomendação dos suplementos é ainda mais precisa, e considera as plataformas de inteligência ideais para pessoas leigas que buscam uma opção mais prática e acessível. “Elas recebem uma orientação rápida e assertiva, que já ajuda muito alguém que iria na farmácia sem saber o que precisa tomar”, explica.

Investidor Marcelo Conde, da STX Desenvolvimento Imobiliário (à esq.), e Leonardo Vieira, fundador da Bio.me

Para Augusto, da vitamine-se, a ideia é usar as soluções das startups como aliadas. “É um trabalho em conjunto. Como empresa, estamos aqui para que os profissionais consultem as opções e recomendem para seus pacientes”, diz. O nutricionista pode, por exemplo, analisar os exames clínicos, indicar quais nutrientes faltam no organismo e, a partir dos resultados, direcionar o paciente para que encontre a vitamina ideal em uma das plataformas.