Estratégia

Conta Azul quer avançar em banking, mas sem competir com bancos

Conta Azul quer que sua conta seja um "cockpit" para os clientes e tenha ofertas de outras instituições financeiras

Vinicius Roveda, da Conta Azul
Vinicius Roveda, da Conta Azul

Quando anunciou a compra da Swipe no fim de 2021, a Conta Azul deu um passo para incrementar a capacidades de seu sistema de gestão voltado a pequenas empresas.

Enquanto faz testes no modelo e aguarda liberação do Banco Central para operar como Instituição de Pagamento (IP), a companhia faz planos para avançar em serviços financeiros, mas sem competir com os bancos. “Ali é um cockpit de trabalho”, diz ao Startups, Vinícius Roveda, fundador e CEO da Conta Azul.      

De acordo com ele, os clientes têm em média 3 contas correntes e a ideia é que isso se mantenha assim, com a conta da companhia sendo o local onde a conciliação de tudo é feita. “A gente não segura de levar o dinheiro para outro lugar”, reforça.

Até mesmo em termos de produtos oferecidos pela conta, a ideia é trabalhar em conjunto. Quando a concessão de crédito for liberada, a ideia é que outros bancos possam colocar ali dentro as suas ofertas. “Crédito não é o nosso negócio. Já vimos muita empresa tendo problemas com isso”, pondera Vinícius. A ponderação faz sentido. Até a toda poderosa Totvs, que colocou a oferta de serviços financeiros com um de seus pilares estratégicos com a proposta de techfin, acabou optando por fazer uma joint venture com o Itaú nessa área.

Hoje a conta da Conta Azul oferece um cartão e está muito centrada na gestão de despesas, o contas a pagar e a receber das empresas. O total de recursos processados já chega a R$ 5 bilhões. O modelo de negócios prevê uma remuneração em cima de pagamentos e recebimentos feitos. Vinicius não revela a penetração dentro da base de clientes, mas diz que a ideia é ampliar a liberação do uso da conta para mais gente ao longo do 2º semestre e do ano que vem.   

Conta Azul = Totvs das pequenas

Nascida em 2011, a Conta Azul começou atuando com a venda direta para as empresas. Em 2017, “descobriu” o nicho dos contadores, passando a se relacionar com eles e ajudá-los no seu dia a dia como forma de acessar sua rede de clientes.  

Agora, em um novo capítulo dessa estratégia de distribuição, a Conta Azul está olhando para agentes autônomos, consultores de investimento, ex-gerentes de bancos e empresas de serviços de BPO financeiro. “é um mercado em alta expansão”, diz Vinícius.

O fundador dobra a aposta nos grandes números do mercado de empresas de menor porte: são 8 milhões de negócios com este perfil no Brasil, sendo que poucos usam sistemas de gestão. Além disso, com o próprio crescimento dos clientes, a Conta Azul amplia sua oferta de atendimento. Hoje, 20% da base é de médias empresas, um percentual que foi atingido por conta da evolução da base, mas também pela chegada de empresas que buscaram cortar custos durante a pandemia.

Para Vinicius, o potencial é de chegar a 1 milhão, ou 2 milhões de empresas atendidas, criando uma empresa tão relevante quanto um nome mais antigo do mercado de software nacional. “Cabe uma empresa tão relevante quanto a Totvs nesse segmento”, crava Vinicius. Para ele, uma oportunidade de crescimento é a redução no número de competidores nessa área. O principal nome, o QuickBooks, da Intuit, deixou o Brasil recentemente.

Voltando à Totvs, hoje a Conta Azul ainda está bem distante da quarentona. Mesmo tendo o dobro da base de clientes, ela tem menos de um décimo da receita. Em 2022, a Conta Azul apresentou um crescimento de 34%. Para este ano, a expectativa é acelerar, chegando 40%. E em tempos que crescimento não é só a única medida de sucesso, Vinicius garante que o avanço acontece com geração de caixa e Ebitda de dois dígitos positivos – sem ter feito cortes e até mesmo ampliando o quadro de funcionários. “A disciplina financeira e o crescimento eficiente foram desenvolvidos durante a pandemia. Temos que trazer o cliente da forma correta”, diz.

De acordo com ele, a estrutura de capital está equilibrada e é suficiente para a execução dos planos sem a necessidade de capital externo nos próximos anos. “não temos previsão de fazer uma rodada”, diz o fundador, que levantou um total de US$ 37 milhões em 6 rodadas, segundo o Crunchbase.  

Sobre aquisições, Vinícius diz considerar a estratégia importante para o crescimento, mas que, ao mesmo tempo, traz desafios. E o objetivo da Conta Azul agora é entregar em cima do que já foi feito, mais do que pensar em novos movimentos. “Mas estamos sempre alertas, é claro, vendo oportunidades que apareçam principalmente por conta do atual momento”, completa.