Diante do desafiador cenário econômico visto em 2022, que acabou comprometendo o apetite por investimentos de risco no mundo todo, os fundos de venture capital obviamente estão mais cautelosos na alocação de capital.
Os olhares se voltam agora às oportunidades com grande potencial de retorno, mas que se sustentem em modelos de negócios minimamente maduros e saudáveis. Ou seja, passos na direção contrária de possíveis riscos. Além do crescimento, as startups agora têm sido cobradas a mostrar métricas robustas de rentabilidade.
Com o intuito de entender melhor a jornada dos fundadores de startups, suas dores e o seu relacionamento com fundos de venture capital, o Boston Consulting Group (BCG) desenvolveu o estudo “O que os fundadores de startups esperam dos fundos de venture capital”. Foram realizadas mais de 120 entrevistas com fundadores de startups de países como Brasil, México e Colômbia.
Atrativos dos fundos de VC
Startups precisam de dinheiro para acelerar seus planos de negócio, certo? No estágio inicial, a captação por meio de fundos de venture capital se mostra bastante atrativa, comparada a outras opções de financiamento. O estudo mostra que a facilidade de levantar rodadas subsequentes é o motivo número 1 para as startups buscarem um fundo de venture capital (foi a resposta de 28% dos fundadores entrevistados).
Isso porque os fundos auxiliam os empreendedores a validar suas teses, otimizar seus modelos de negócio e expandir suas conexões com novos investidores. Também visando próximas rodadas de investimento, os fundadores valorizam a oferta de mentorias e treinamentos.
O segundo principal motivo (22% das respostas) é o custo-benefício entre a diluição (fatia da empresa que os fundadores dão em troca do dinheiro) e o tamanho do cheque dos investimentos de venture capital. Fundadores consideram a oferta competitiva frente às outras opções de captação. No entanto, com a maior cautela e pé no freio dos fundos de VC em investimentos, outros tipos de investidores ganham mais espaço e mudam suas estratégias.
“O investidor anjo antes buscava por teses muito menos maduras, empreendedores sem um product market definido, e hoje isso mudou para teses mais robustas, com empresas com dezenas de funcionários, com um volume de transações considerável, receita, justamente pelo fato de os fundos de VC estarem mais conservadores”, diz Otávio Dantas, Managing Director & Partner do BCG e um dos autores do estudo.
Principais dores dos fundadores
O estudo também identificou as principais dores enfrentadas pelos fundadores em fazer seu negócio rentável e escalável e como os fundos atuam para oferecer apoio nesses desafios. Em empresas em estágio seed, as dificuldades mais recorrentes estão associadas à identificação do produto mais adequado ao mercado (product market fit) e o acesso ao capital e aos investidores.
Já no caso de startups que fizeram uma série A ou B, as dores operacionais se acentuam. O crescimento de receita é a principal preocupação para 87% dos fundadores, seguido pela estrutura organizacional e governança. Os fundadores têm dificuldade em definir o organograma de uma forma enxuta, mas que cumpra a ambição de alta velocidade de crescimento.
Os fundadores entrevistados pelo BCG afirmam (59%) que os fundos de venture capital conseguem auxiliá-los a superar um de seus principais pontos de dor de maneira efetiva: acesso a capital e investidores. Nas demais dores avaliadas, a percepção de efetividade do apoio não foi unânime. Em competências operacionais, como, por exemplo, melhoria do unit economics ou validação do product market fit, fundos de venture capital são percebidos como menos efetivos.
“Há um potencial distanciamento nas relações entre fundadores e fundos de VC, mas também existe uma grande oportunidade aos fundos para agregar valor não só com capital, mas também conhecimento, fortalecendo sua posição competitiva perante os fundadores e capturando as melhores oportunidades de investimento”, conclui Otávio.