Todo mundo gosta de falar como é difícil empreender ou conseguir investimentos no Brasil – e conforme a TMF Group aponta, isso pode ser comprovado via fatos e números.
A consultoria de serviços de compliance divulgou o seu Índice Global de Complexidade Corporativa (GBCI) 2022, apontando o Brasil como a jurisdição mais complexa para empresas interessadas em investir em startups e outros negócios.
Os argumentos para isso? Primeiro, a TMF destacou que o Brasil é o país com o maior número de alterações regulatórias todo ano. “Os impostos também são segmentados, com regimes municipais, estaduais e federais a serem considerados. Estes também variam de acordo com a indústria na qual uma empresa opera, fazendo com que seja muito difícil se manter à frente de todas as obrigações em um ambiente comercial em constante mudança”, destacou a consultoria em nota.
As mudanças recentes de curto prazo em resposta à pandemia também contribuíram para a classificação do Brasil, bem como o processo de desfazer essas mudanças para voltar ao status pré-pandemia. Alguns incentivos do governo tiveram como objetivo reduzir impostos para manter as empresas abertas, mas vieram com uma carga administrativa aumentada.
Contudo, nem tudo é empecilho, segundo o estudo. Algumas mudanças trazidas pela pandemia, em função do aumento da digitalização, foram benéficos. “Muitos processos, como aqueles realizados em cartório, que costumavam ser possíveis somente em pessoa, foram substituídos por soluções digitais”, aponta a pesquisa.
Ciclo de vida das empresas
Nada além do que muitos já sabem, mas o levantamento também coloca o Brasil como o país com o gerenciamento mais complexo do ciclo de vida de uma empresa. “Pode levar até 45 dias para abrir uma empresa na jurisdição, e mais de nove meses para dissolvê-la”, diz o estudo.
No caso de empresas internacionais querendo entrar no país, novas camadas de complexidade são somadas. “Empresas multinacionais devem criar um CNPJ junto ao governo federal, e selecionar seu regime fiscal e pagar tributos tanto no nível estadual quanto no municipal, que variam dependendo da cidade onde se opera. As corporações também devem ter um residente local como representante, o que adiciona à complexidade para investidores internacionais”, diz a TMF.
Mas tem notícias boas?
Mesmo com todos os apontamentos desfavoráveis e a complexidade do mercado, o estudo da TMF não coloca o Brasil como um país ruim de empreender ou de investir. Segundo Rodrigo Zambon, diretor geral da TMF Brasil, o Brasil é um mercado de ponta em segmentos-chave e um “ótimo lugar” para investimentos em geral.
“Os desafios que aparecem ao operar aqui podem ser desencorajadores a princípio, mas com tudo que o país tem para oferecer, este estado mental muda rapidamente para aqueles que estejam buscando boas oportunidades de investimento. Ativos sob administração no Brasil estão em uma alta histórica e vemos movimentos na direção de uma abordagem mais globalizada quando se trata da gestão de entidades”, avalia Rodrigo.
O head das Américas no grupo realizador do estudo, Michael Seligman, reforça o coro. “A pandemia de Covid-19 trouxe um nível mais alto de complexidade devido à implementação de projetos para ajudar negócios a lidar com a situação e, posteriormente, com sua remoção. Mas quando você pensa em uma das maiores populações do mundo, e em todas as oportunidades de investimento, muitos tendem a buscar ajuda local e aproveitar o potencial da jurisdição”, completa.