
Menos de um ano depois de levantar sua segunda rodada de investimentos, a fintech Mercado de Recebíveis acaba de anunciar o lançamento do seu cartão de crédito, em parceria com a Visa. A nova modalidade vai permitir que as empresas utilizem seus recebíveis como limite de crédito no cartão, efetuando o pagamento da fatura automaticamente, por meio de uma infraestrutura em blockchain.
Em período de captação para a sua série A, a fintech tem ampliado sua linha de produtos, de olho em um mercado que tende a ganhar ainda mais escala com a Lei das Duplicatas, que permite a a emissão e armazenamento eletrônico desses títulos de crédito.
Em entrevista exclusiva ao Startups, Henrique Echenique, CEO da Mercado de Recebíveis, conta que o lançamento do cartão de crédito é um plano antigo da startup, fundada no início de 2023. A fintech começou com uma solução de antecipação de recebíveis convencional, a taxas mais baixas em comparação com as cobradas pelas maquininhas.
“Esse é o nosso produto arroz com feijão”, brinca Henrique. “Por meio da parceria com a Visa, eu quero casar o recebimento da maquininha com o pagamento da fatura, fazendo com que o cliente não precise pagar taxa de antecipação”, explica.
Por exemplo, se um estabelecimento possui R$ 50 mil em recebíveis na maquininha, esse valor será convertido em limite no cartão de crédito corporativo, ligado a uma conta PJ. Se a fatura for fechada em, digamos R$ 10 mil, esse valor será descontado automaticamente do repasse das maquininhas para pagar a conta do cartão.
Em uma operação de antecipação de recebíveis tradicional, a empresa teria que pagar, em média, 5% de taxa para as maquininhas – ou uma média de 1,5% para a Mercado de Recebíveis, caso a operação fosse feita através da plataforma. Com o cartão, essas taxas não são aplicadas.
“O cartão de crédito na verdade concorre com o nosso produto feijão com arroz”, diz Henrique. Segundo ele, o cartão já está sendo utilizado há cerca de três meses por alguns clientes, com altas taxas de satisfação.
A remuneração da Mercado de Recebíveis, que nesse caso funciona como o banco emissor, é feita pela bandeira do cartão, pelo uso do cartão emitido.
Eduardo Abreu, vice-presidente da Visa do Brasil, afirma que a digitalização dos fluxos de pagamentos B2B é um dos focos da estratégia da Visa em todo o mundo, e a aceitação de cartões em pagamentos comerciais representa uma oportunidade global de US$ 35 trilhões.
“Quando olhamos para o mercado de pagamentos hoje, no Brasil, vemos grande parte da população bancarizada e já possuindo meios de pagamento. Quase 60% da população já consome através do cartão de crédito, débito ou pré-pago. No B2B, porém, apenas 10% dos pagamentos são feitos por meio digital. Há um oceano de oportunidades”, diz.
O executivo destaca que o cartão feito em parceria com a Mercado de Recebíveis estimula a velocidade e fluidez nas operações, aumentando a eficiência das empresas, independentemente do porte.
“A experiência do cliente melhora. Além disso, ele passa a ter acesso a todos os benefícios de um cartão Visa tradicional, como acesso a salas VIP”, destaca o vice-presidente da Visa do Brasil.
Henrique espera que o novo produto ajude a fintech a superar sua meta de volume transacionado, que hoje está em cerca de R$ 2 bilhões – podendo chegar a cerca de R$ 3 bilhões com o cartão. Além disso, a expectativa é ter mais de 15 mil clientes rodando até o fim do ano.
No ano passado, a Mercado de Recebíveis atingiu R$ 100 milhões em volume – patamar que já foi atingido no primeiro trimestre deste ano. Com a última rodada, a empresa atingiu um valuation de R$ 110 milhões.
Para Henrique, este é apenas o começo de uma trajetória que tende a ganhar escala com o avanço regulatório no país. “O mercado está mudando e estamos aqui para ser um player relevante”.