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Exclusivo: Para CEO da Remessa Online, 2022 foi um ano "casca grossa"

Segundo Zé Dias, que assumiu cargo após compra pelo Ebanx, a fintech reviu planos e abriu novas frentes para voltar a crescer

Remessa Online
Remessa Online. Crédito: divulgação

Para muitas startups, 2022 foi um ano difícil – com vários negócios perdendo valor, outros tendo que reduzir suas operações e demitir colaboradores. Para o CEO da Remessa Online, Zé Dias, a palavra para falar sobre como foi atravessar o ano passado, é outra: “Foi um ano casca grossa para abraçar a função de CEO”, dispara.

A gente explica. Zé Dias assumiu a cadeira de liderança na companhia na virada para o segundo semestre do ano, em meio à transição da companhia após ser adquirida pelo Ebanx. No fim de 2021, a gigante de pagamentos desembolsou R$ 1,2 bilhão para comprar a startup.

De acordo com o executivo, a troca de liderança colocou os cofundadores da companhia, Alexandre Liuzzi e Fernando Pavani (o CEO anterior) em funções de conselho, mas já era algo que se conversava internamente mesmo antes da compra pelo Ebanx. “Entrei em 2021 com a missão de ajudar a empresa a dar um salto em gestão, algo que contribuiu inclusive para o acordo de fusão”, pontua.

Segundo explica o CEO, em entrevista exclusiva ao Startups, a mudança de liderança se deu não apenas no contexto societário, mas também de mercado. “Depois de um primeiro trimestre muito bom, o segundo semestre foi um momento de se tornar muito mais cauteloso, justando a companhia na direção de maior rentabilidade e não ficar comprometida a longo prazo”, avalia o CEO.

Durante este momento de readequações, a empresa precisou fazer cortes. Em novembro passado, a companhia demitiu 70 pessoas – ou cerca de 20% de seu quatro total de colaboradores. Segundo Zé Dias, a decisão foi algo que a empresa buscou fazer de forma sóbria, inclusive alinhando com a empresa-mãe a melhor forma de seguir.

“O Ebanx já tinha feito seu ajude interno (leia-se demissão em massa) meses antes, o que nos trouxe o alinhamento para fazer isso da melhor forma. Trabalhamos para que estes cortes não afetassem nossa visão e projetos de longo prazo”, afirma o CEO. “O desdobramento desta decisão rendeu bons resultados, e o começo de 2023 está seguindo a tendência esperada”, avalia.

Apesar de não abrir números, a empresa espera acelerar seu ritmo de crescimento em 2023. “A perspectiva é crescer, mas não na velocidade esperada. Dado o cenário, estamos pensando em dois dígitos, mas não em dobrar. A gente arrumou a companhia, para ser uma maquininha de rentabilidade e operação, focando o crescimento nos lugares certos”, completa.

Amplitude é fortaleza

Não visão de Zé Dias, inovação é uma palavra central para a companhia. “Foi o que nos trouxe até aqui”, afirma o executivo, falando sobre a plataforma de serviços de pagamento e câmbio que a companhia desenvolveu para se destacar no mercado.

“Dentro do que foi feito, houve um foco muito em automação, adequação ao novo marco regulatório, e ajuste dos recursos de inovação em projetos estratégicos”, revela o executivo.

Zé Dias, CEO da Remessa Online
Zé Dias, CEO da Remessa Online (Foto: Divulgação)

A partir das decisões em termos de produto, assim como os ajustes internos para reduzir custos, a empresa criou a base para voltar a falar de crescimento e geração de receita, segundo pontua o CEO. “Atravessamos esse rio e estamos em um momento de retomada de crescimento, aumentando portfólio e adquirindo clientes”, completa.

Por falar em portfólio, a Remessa Online está mirando em diferentes verticais para conquistar o mercado. “Para sobreviver no mercado brasileiro, é preciso diversificar, e a amplitude de portfólio se tornou uma fortaleza nossa”, pontua.

Além de seu serviço mais conhecido que é o de plataforma para pessoas físicas ou empresas realizarem suas operações de câmbio, a companhia também investiu na criação de APIs para apoiar outras instituições financeiras ou companhias que desejam incluir a camada de câmbio em suas plataforma.

“Já fizemos isso no ano passado com o Nubank, que utilizou nossa tecnologia para apoiar sua operação de cripto. Já temos outras oportunidades nesta frente e estamos conversando com parceiros para fazer novas integrações em 2023″, revela.

Estratégias para competir

Ao falar sobre esta guinada na frente de serviços financeiros – uma espécie de câmbio as a service – Zé Dias não descarta a possibilidade que ela possa se tornar uma parte cada vez maior do negócio da Remessa, mas a empresa não quer perder seu lugar de destaque no B2C.

“É um cenário em que a competição de alto calibre cresceu muito rápido, mas trabalhamos para estar sempre à frente, com rapidez e escala”, explica. Para ilustrar este plano, ele falou de um dos futuros produtos da companhia, que quer lançar este ano uma operação de pagamento internacional em 15 minutos – uma espécie de Pix internacional, segundo ele. “Estamos muito perto de conseguir operar em escala com esta solução”, afirma. Outro plano a curto prazo é o de lançar uma solução de carteira digital internacional.

Ao falar de concorrentes, Zé Dias afirma que hoje o segmento de serviços financeiros internacionais borrou as linhas. Entre players de pagamento internacional, como a gigante Wise, ou de contas digitais em dólar, como a Nomad, por exemplo, todos se tornaram, de certa forma, competidores.

Especificamente sobre seu produto principal, o de transferências, hoje a Remessa é um segundo lugar próximo da Wise, segundo dados do Banco Central do fim de 2022. A companhia já operou para mais de 400 mil clientes e alcançou a marca de 31 bilhões transacionados.

No final das contas, segundo explica o CEO, a certeza da Remessa Online é o plano de se posicionar como uma marca especialista em tecnologia de câmbio digital, tanto em soluções para consumidor final como também para possíveis parceiros que possam usar a tecnologia da companhia para montar seus serviços financeiros – o chamado embedded finance.

“Tem possibilidade de crescer em ambas as direções. O ‘lance’ é olhar para o tabuleiro, ver quem é competidor e quem pode ser parceiro. O importante é criar opções e ver o que adere mais aos movimentos do mercado”, finaliza.