Os alertas da comunidade científica sobre as mudanças climáticas começaram a ser feitos há décadas atrás e, com a falta de medidas para mitigar esse problema, o mundo tem sentido cada vez mais os efeitos dos eventos climáticos extremos. Enchentes, incêndios e secas estão entre os desafios que os países precisarão enfrentar continuamente. E, nesse cenário, as startups surgem como criadoras de soluções com base tecnológica e científica para atender aos mais variados setores.
De climate techs a agtechs, passando por energy techs e food techs, não faltam empresas buscando encontrar saídas para a crise climática. No entanto, a busca por financiamento ainda é um desafio, afirma Christiane Bechara, sócia e CFO da KPTL, gestora de venture capital que tem voltado suas atenções para a tese de sustentabilidade nos últimos anos.
“O que a gente vê é um interesse grande de LPs como bancos de desenvolvimento, agências de fomento e corporações, que estão engajados e interessados na tese climática. O investidor privado, porém, tem mais cautela com esse tipo de produto. Embora a pauta seja importante, ela gera um certo receio, o que se agrava com a conjuntura macroeconômica, como os juros em alta, que acabam afastando os investidores”, afirma.
Segundo Christiane, a pauta climática está no mesmo nível de risco do venture capital como um todo. No entanto, por ser um mercado relativamente novo, os investidores têm dúvidas. Entre elas, se existe pipeline para esse segmento. “A gente tem mostrado que sim. Existem startups, existe mercado, nosso papel é juntar essas pontas”, acrescenta.
No âmbito climático, uma estratégia que tem ajudado as startups a conseguirem clientes e recursos é focar no segmento B2B. Ou seja, fornecendo soluções para empresas. É o caso da Yágua, por exemplo, que ajuda indústrias a monitorar seu consumo de água em tempo real, e da Umgrauemeio, que monitora o risco de incêndios florestais em propriedades de grandes corporações.
“Nossa experiência é de portfólio B2B. Essas empresas acabam se tornando mais atrativas, já que as corporações têm caixa e recursos para investir, além de um interesse estratégico pela solução”, explica Christiane.
Em um ambiente competitivo e com poucos recursos disponíveis, a CFO da KPTL recomenda que as startups que desejam captar recursos tenham um cuidado especial com a governança e a contabilidade.
“Num ambiente de captação mais difícil, quem está com a casa arrumada tem vantagens. É importante que a startup tenha um cuidado prévio e se prepare para a rodada. Por exemplo, com um contrato social estabelecido, propriedade intelectual no nome da empresa. Minimamente, ter um balancete. Governança é uma coisa que se constrói ao longo do tempo”, diz.