*Giovana Oréfice, especial para o Startups
Publicitário por formação, Bruno Oliveira nunca imaginou que iria construir uma trajetória no ramo das edtechs. Depois de algumas frustrações profissionais e de um encontro sem pretensões com um professor e um vestibulando, ele é hoje presidente da Explicaê, startup de educação nascida e desenvolvida no estado do Sergipe.
Com lançamento oficial em 2016, a empresa já conquistou mais de 2 milhões de alunos dos 5 cantos do Brasil em um cursinho digital preparatório para o ENEM e demais vestibulares. Além disso, é a primeira startup sergipana a ser selecionada para o programa de aceleração da Endeavor.
“Eu sempre quis seguir pelo caminho do empreendedorismo, me tornar um fundador”, conta Oliveira. O espírito empreendedor o acompanha desde o Ensino Médio. Ao escolher o que estudar na universidade, optou por Publicidade e Propaganda que, segundo ele, seria um curso que proporcionaria uma visão diferente sobre negócios. Ainda na faculdade, ele encarou sua primeira frustração profissional: uma agência fundada por ele faliu com apenas 6 meses de operação..
Em uma segunda tentativa, em 2009, criou outra agência. Dessa vez o empreendimento durou um pouco mais, 4 anos. Mas não ia muito melhor. Persistente, Oliveira conseguiu recuperar o negócio, que foi eleito a agência publicitária mais premiada de Sergipe durante três anos consecutivos. O embrião da Explicaê nasceu no meio do caminho, quando o seu caminho cruzou com o de Gil Vieira e Nicolas Mattos, professor e estudante, respectivamente, no Colégio Ideal – atendido pela agência de Oliveira.
A dupla trabalhava em uma ideia simples: criar uma forma de fazer com que as prioridades de aprendizado dos alunos fossem o centro da estratégia de estudos para o vestibular, em um modelo de baixo custo com ensino de alta qualidade. O projeto foi incubado dentro da agência e lançado oficialmente em 2016. Com um investimento de um sócio no valor de R$ 300 mil, a edtech deu o pontapé inicial na produção de aulas online com vídeos descontraídos e material de apoio aos estudantes. Cerca de um ano depois, em março de 2017, já havia reunido em sua plataforma todo o conteúdo que um aluno aprende ao longo dos três anos do Ensino Médio.
Até aquele momento, Oliveira não se dedicava integralmente à operação. A decisão de ficar 100% do tempo veio depois que ele recebeu o depoimento de uma estudante que, graças aos materiais da Explicaê, foi aprovada no curso de Medicina na Universidade Federal de Pernambuco com apenas 16 anos.
O sertão nordestino não conta com escolas que lecionam matérias do Ensino Médio. Lá, os jovens estudam através de grupos de estudos chamados de mobrais. O nome e o estilo de educação vêm do Movimento Brasileiro de Alfabetização, órgão do governo criado durante a Ditadura Militar para erradicar o analfabetismo no país. A taxa de analfabetismo no Brasil em 2019 foi de 6,6% da população, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação, com 11 milhões de pessoas.
“Aquilo foi um estalo. Foi quando eu tomei a decisão de virar uma chave na minha vida. Me demiti da agência e passei a me dedicar em tempo integral ao Explicaê“, relembra Oliveira.
Educação completa e de baixo custo
Os serviços da Explicaê se consolidaram com base na venda de três planos com preços que variam de R$ 350 a R$ 1.390 anuais (R$ 16,90 a R$ 62,90 mensais). O mais básico, batizado de “Basicão”, permite que o aluno tenha acesso a vídeo aulas, apostilas e materiais com exercícios. Já o intermediário oferece como acréscimo o acompanhamento com professores para dúvidas e correção de redações, além de um curso com foco no ENEM.
O combo mais completo é o “Topster”, que é específico para os vestibulandos de Medicina. Além de todos os recursos oferecidos nos planos anteriores, conta com um Manual de Sobrevivência para o ENEM. O material físico consiste em dois cadernos de 1000 páginas cada com questões presentes no exame desde 2009 separadas por disciplina. Também, o aluno tem acesso a um checklist para revisão de conteúdo e uma orientação de método de estudos.
A tríade da orientação, conteúdo e acompanhamento
Oliveira explica que a empresa foi construída sobre três pilares: orientação, conteúdo e acompanhamento. A plataforma da Explicaê hospeda todas as questões que já caíram em provas do ENEM comentadas em vídeo. Para além das aulas, a empresa oferece ao aluno um planejamento de estudos e orientações que extrapolam o âmbito das matérias convencionais, com conteúdos de desenvolvimento emocional, por exemplo.
A produção audiovisual é um dos principais cuidados dos sócios, uma vez que a gravação do conteúdo é feita a partir de uma linguagem e dinâmica alinhada ao ambiente digital. As aulas fogem do cenário típico de sala de escola para dar espaço a cenários diferenciados com interferências criativas em um formato de vídeos curtos, porém com conteúdo aprofundado.
“Nenhuma outra plataforma é tão organizada quanto o Explicaê e nem é tão completa em termos de conteúdo. Nenhuma outra possui conteúdo 100% autoral”, assume Bruno Oliveira. O publicitário afirma ainda que, entre outros portais de cursinho digital, o mais comum é que sejam disponibilizadas apostilas com resumos teóricos.
Para o co-fundador, o grande diferencial da Explicaê é que ela foi criada em parceria com um professor e um aluno – que sabiam exatamente quais eram as dificuldades enfrentadas por vestibulandos dentro das plataformas de cursinhos online. “Isso traz uma combustão e uma diversidade de visão de mundo e de experiência que é justamente a essência do produto que a gente conseguiu colocar no mercado”, afirma. Desde a fundação, a empresa cresce 194% ao ano.
Pandemia e educação: o digital em foco
O cenário da pandemia foi decisivo para o futuro da Explicaê. Com o isolamento social, a digitalização do ensino acelerou em cerca de 5 anos, na avaliação de Oliveira. Assim como o desempenho da companhia. A receita cresceu 342% e o quadro de funcionários chegou a 150.
“As pessoas começaram a entender e a enxergar que estudar pelo digital pode trazer resultados para um objetivo”, comenta o cofundador. “Eu particularmente acredito que o modelo clássico, tradicional, nunca mais voltará a ser como era. Eu acho que parte do conteúdo programático de uma escola vai testar os alunos através de uma plataforma digital”, completa.
A crise foi positiva em termos de visibilidade para a marca. “O fato de estarmos fora do eixo Rio-São Paulo reflete no caminho para conquistar essa visibilidade, essa relevância dentro do mercado de educação e dentro da indústria de startups aqui no Brasil. Esse foi o caminho mais árduo, mais difícil. Mas eu hoje enxergo isso como um aprendizado e uma maturação do Explicaê como negócio”, confessa o publicitário.
No início do ano passado, a edtech consolidou uma parceria com o governo do estado de São Paulo: todos os alunos da rede pública de São Paulo tiveram acesso gratuito à plataforma. A mesma parceria foi fechada posteriormente com o governo de Sergipe e do Amazonas.
Futuro mais maduro e promissor
Os planos para 2021 são animadores – a estimativa de faturamento é de R$ 17 milhões. Em meados de abril, a empresa irá lançar uma nova plataforma desenvolvida 100% em colaboração com os alunos. Segundo Oliveira, será a primeira do Brasil feita com base nas dúvidas de vestibulandos para a melhoria da experiência.
A primeira participante sergipana da história de seleção da Endeavor pretende utilizar as mentorias para se preparar para participar da sua primeira rodada de investimentos. Oliveira pontua que o passo será dado no 2º semestre deste ano, quando todos os processos de gestão e métricas estiverem consolidados para apresentação da empresa a potenciais investidores.
Hoje, a companhia conta com cinco sócios.
Parcerias B2B na mira para a expansão
Distanciando-se do foco de soluções para pessoas físicas, a Explicaê pretende investir também em vendas B2B. Para isso, irá atuar ao lado da D2L School, empresa canadense que oferece tecnologia para escolas para que se adaptem ao modelo híbrido. O projeto apelidado de EXP for School consistirá na produção de conteúdo em tempo recorde para as instituições de ensino brasileiras durante o período de adaptação impulsionado pela pandemia do coronavírus.