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Jogo do Mafagafo entra na mira da Justiça

Investigação tem a ver com a Mafatech, criadora do game NFT Mafagafo, acusada pelo Ministério Público de dar calote em usuários

Foto: Reprodução
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É uma história complicada, mas vamos lá. A Mafatech, startup brasileira desenvolvedora do game NFT Mafagafo, entrou no radar da Justiça brasileira. A empresa foi indiciada pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MP/RN), acusada de dar calote em seus usuários – ou melhor, investidores.

Segundo reportou o site Livecoins, a empresa é suspeita de publicidade enganosa relacionada ao jogo, a qual prometeu aos investidores que, ao adquirir US$ 150 em produtos digitais no jogo, receberiam um ‘Mafagold’, com uma garantia de recompra do produto por US$ 300.

O início da investigação foi motivado por uma denúncia encaminhada ao MP/RN. Durante a apuração, a Mafatech Corp. Ltd., com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, foi identificada como responsável pelo jogo, assim como a companhia Sciensa Tecnologia, que tem como CEO o empresário Felipe Oliveira.

Entretanto, o rolo vai além das empresas responsáveis pelo jogo. Também entraram na investigação a Bossanova Investimentos, que foi apresentada como investidora da startup em 2021, assim como Davi Braga, filho do sócio e ex-CEO da gestora, João Kepler. Davi e João Kepler chegaram a divulgar a Mafagafo nas redes, afirmando que o token nativo do projeto, o $MAFA, “iria para a lua”, o que não foi o que aconteceu.

Uma das suspeitas levantadas pela investigação é que a Bossanova “emprestou” sua imagem estabelecida para legitimar e atrair investidores para o NFT Mafagafo, que no fim deu calote em diversos investidores. Quando ainda era CEO da Bossanova, João Kepler elogiou em uma entrevista a empresa e a valorização de sua moeda própria, chegando a dizer que “tinha entrado” no negócio. Meses depois, ele mudou o tom, afirmando que a startup ainda estava em due dilligence, mas que “não tinha desistido do projeto”.

Cortando de volta para 2023, o caso chegou à Brasília, com a Câmara dos Deputados convocando Davi Braga para esclarecer seu envolvimento com a possível fraude na CPI das Pirâmides. “A convocação de Braga é crucial para a CPI, a fim de compreender e prevenir futuras manipulações no mercado de criptomoedas”, afirmou a Câmara, em documento publicado em julho.

Por determinação do Conselho Nacional do Minstério Público, agora a investigação permanece nas mãos no MP do Rio Grande do Norte, que deverá avaliar se ocorreu um possível crime contra o Sistema Financeiro Nacional, especificamente a oferta pública de contrato coletivo de investimento sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entretanto, a investigação não ficará apenas na suposta fraude aos consumidores, mas também analisará possíveis implicações mais amplas no cenário financeiro nacional.

João Kepler (à dir) e o filho, Davi Braga (Foto: Reprodução)

Não passou no Due Diligence

Em resposta às acusações, João Kepler se pronunciou nas redes sociais, afirmando que a Bossanova não concluiu o investimento na Mafatech. “Íamos investir, mas não passou na due dilligence. Inclusive, quando na época nos apresentaram, era apenas um Jogo dos Passarinhos”, afirmou João Kepler.

Entretanto, em resposta ao investidor, um usuário indagou: “Mas houve uma viagem para Dubai para uma feira tech, David Braga acompanhou e postou. Por que após a due dilligence, o Davi não relatou as mídias que estava dando saída?”

Em notícia de março do ano passado, Davi Braga chegou a ser apresentado como investidor na startup, e falou em nome da companhia na Crypto Expo, em Dubai, sobre o projeto e a visão da empresa para o futuro, inclusive posando com o passarinho mascote da startup. “Estar nesse palco ao lado das pessoas que fazem o mercado de blockchain acontecer e para uma audiência de mais de 10 mil investidores de 30 países foi uma honra e um desafio imenso”, afirmou o empresário na época.

Na época, a empresa afirmou que esse era o primeiro passo em direção à internacionalização do game brasileiro, que supostamente tinha mais de 100 mil pessoas em sua comunidade. O plano era criar laços com grandes empresários em Dubai e expandir sua presença para outros países.

Com nome originado do trava-línguas clássico, o Mafagafo Game acontece em uma ilha com pássaros incapazes de voar, mas são apaixonados por competições. Ao apertar o play, o jogador se torna um deles e participa das diversas disputas, ganhando pontos (mafapoints) que podem ser trocados por moedas (mafacoins) ou itens que valem dinheiro.

Resposta da Bossanova

Em resposta ao Startups, a Bossa Invest enviou uma nota extensa se posicionando sobre o assunto, a qual reproduziremos abaixo.

A Bossa Invest (antiga Bossanova Investimentos) vem a público esclarecer fatos que estão sendo veiculados relativos à startup Mafatech e seu jogo NFT Mafagafo:

  • A Bossa Invest, empresa de venture capital, não é e nunca foi investidora da Mafatech, responsável pelo jogo Mafagafo. A empresa não detém qualquer participação societária direta ou indireta na startup, tampouco qualquer direito à participação societária.
    ● Mensalmente, centenas de startups submetem seus planos de negócios no portal da Bossa Invest, uma das empresas de venture capital mais ativas do país, principalmente para negócios nascentes, early stage.
    ● Em janeiro de 2022, a Bossa recebeu o pitch deck (apresentação) da Mafatech Corp Limited por meio do formulário de submissão de negócios a serem avaliados pela empresa. Após submissão, todas as startups passam por um processo de análise dividido em várias etapas.
    ● Em julho de 2022, na etapa de due diligence, o pleito de aporte da empresa Mafatech foi reprovado pelo comitê de investimentos e pelos assessores jurídicos e contábeis da companhia. É nesta fase que uma empresa de venture capital avalia diversos fatores das startups a serem investidas, tais como aspectos contábeis, jurídicos, patrimoniais e antecedentes dos sócios. Sendo assim, é uma inverdade afirmar que a Bossa Invest é, ou foi, investidora da startup.
    ● Nos processos e investigações que tentam ligar a Bossa Invest à empresa Mafatech, a companhia segue à disposição dos órgãos públicos e entidades fiscalizadoras e vem apresentando os esclarecimentos e as defesas cabíveis, procurando dar clareza aos fatos ocorridos.
    ● A Bossa Invest reforça que segue um criterioso processo de avaliação de qualquer plano de negócio submetido ao seu portal, bem como mantém rigor em todas as etapas inerentes ao processo de decisão de startups a serem investidas.
    ● Qualquer manifestação pública ou privada de que a Bossa Invest é sócia e/ou investidora da Mafatech não é verdadeira, independente da fonte, seja ela terceiro ou pessoas ligadas direta ou indiretamente à empresa de investimentos. Negócios porventura realizados no âmbito privado por pessoas e prestadores de serviços que em algum momento tenham tido ligação com a companhia são de sua exclusiva responsabilidade. 
    ● Em que pese João Kepler (ex-CEO da Bossa Invest) e Davi Braga (filho de João Kepler) terem sido citados em processos e matérias sobre o caso, ambos possuem assessorias jurídicas próprias e estão tomando as medidas cabíveis.

A Bossa Invest continuará à disposição para esclarecimentos de qualquer natureza ligados a este assunto, provendo, como de costume, total transparência às suas atividades.

Resposta da Sciensa

A Sciensa Tecnologia, empresa também envolvida no processo, se posicionou sobre as acusações, afirmando que apenas foi contratada para prestar serviços de melhoria técnica no jogo. “É importante esclarecer que a Sciensa não esteve envolvida na gestão da TokenNomics (Economia) do jogo nem teve acesso à blockchain”, afirmou em nota o CEO da empresa, Felipe Oliveira.

Confira a seguir a a nota na íntegra:

“A Sciensa é uma empresa especializada em software de alta tecnologia com 13 anos de experiência no mercado. A empresa foi contratada pela Mafatech para realizar melhorias técnicas em seu jogo, que já existia. Durante o período de prestação de serviços, nosso escopo de trabalho se concentrou exclusivamente nas melhorias técnicas do jogo como: multi-usuários, fases e aprimoramentos de segurança.

É importante esclarecer que a Sciensa não esteve envolvida na gestão da TokenNomics (Economia) do jogo nem teve acesso à blockchain. Além disso, a promoção Mafagold mencionada, ocorreu antes da nossa prestação de serviços e encerrou-se na semana em que iniciamos nosso trabalho efetivo. Por tanto, não temos nenhuma relação direta com a referida promoção, e infelizmnete fomos associados de forma indevida. Contudo já estamos revertendo na justiça, demonstrando nossa relação de prestadores de serviços apenas, e a linha temporal dos fatos.

A única distinção em relação aos contratos habituais da casa, foi a nossa concordância em receber tokens do jogo como forma de pagamento; que foram colocados em uma carteira de Vesting por um período de 24 meses, sem que pudéssemos sacar. Apesar das flutuações no valor desses tokens, a Sciensa cumpriu todas as obrigações legais e fiscais, entregando com sucesso o jogo aprimorado à Mafatech.

Nosso compromisso com a transparência permanece intacto, e estamos abertos a quaisquer esclarecimentos sobre nossos serviços, escopo de atividades e nossos entregáveis. Além disso, permanecemos à disposição para responder a todas as perguntas relacionadas à nossa prestação de serviços ao projeto.

Por fim, após nossa prestação de serviços, que se limitou a um período de 3 meses, outras empresas de tecnologia como Sonzei e BCG; assumiram a condução do roadmap do jogo junto à Mafatech por mais de 1 ano, realizando diversos torneios e temporadas junto à comunidade.”

Atualização

A Bossa Invest, informou ao Startups que tem conseguido vencer ações na Justiça que envolviam a gestora nos processos contra a Mafatech. Ela reforça que foi incluída de forma equivocada em algumas ações já que nunca investiu na empresa – tinha apenas intenção de investir, mas desistiiu após a DUE diligence.

Davi Braga também afirmou que tem provado na justiça seu papel de influenciador, e que cancelou seu contrato de publicidade com a Mafatech, fazendo a devolução dos valores recebidos para essa atuação.