Para muitos empresários, começar uma startup é a parte fácil. Crescer no início também não chega a ser o maior dos desafios, ainda mais no mercado altamente capitalizado dos últimos anos. Porém, quando o assunto é manter o crescimento e sobreviver em meio a demandas de investidores e um mercado cada vez mais competitivo, muitas ficam pelo caminho.
A lista de startups que ficaram no famoso “Vale da Morte” é gigante, e segundo muitos analistas, no desafiador cenário de 2022, em que os investimentos em startups brasileiras caiu 44% somente no 1º semestre (segundo dados do Distrito), este vale só ficou mais largo.
No entanto, startups com finais infelizes não é algo de agora. Antes mesmo de uma economia em recessão, várias empresas fracassaram e tiveram que fechar suas portas, seja por más decisões de negócio ou puramente, má gestão de seus recursos.
A seguir, separamos uma lista com 6 startups que chegaram a voar perto do sol, atraíram investimentos de peso, mas ainda assim, não deram certo. Confira!
Tripda
Começamos com uma brasileira. A Tripda, app que ligava motoristas a pessoas que desejavam pegar carona para fazer suas viagens (num formato semelhante ao que hoje faz o BlaBlaCar), chegou a ser badalada como a “maior plataforma de caronas do Brasil” em meados de 2015. Na época, ela inclusive recebeu um aporte de US$ 11 milhões do fundo Rocket Internet, falando em planos de expansão internacional para países como EUA, Índia e Colômbia.
Contudo, a empolgação não durou nem 1 ano. Em 2016, alegando o alto risco do negócio e a dependência de um único investidor, a empresa fechou todas as suas operações em uma única vez. O comunicado oficial de encerramento das atividades da empresa, publicado na época no site oficial, dizia: “Dado o crescente desafio de financiar o nosso desenvolvimento, decidimos não continuar nessa carona”.
Em entrevista na época, o country manager no Brasil, Daniel Velazco-Bedoya, afirmou que a Rocket mudou seu critério de avaliação do crescimento da Tripda, e os números da startup não se encaixavam mais, mesmo com a startup batendo a marca de 70 mil usuários no Brasil.
Quibi
Quem aí lembra do Quibi, serviço de streaming de conteúdos curtos que prometia ser a coisa mais revolucionária da internet? A empresa inclusive contava com nomes fortes no seu quadro de fundadores, como um dos donos do estúdio Dreamworks, Jeffrey Katzenberg, e a CEO Meg Whitman, que antes era líder na HP.
Com seu plano de focar nos espectadores de dispositivos móveis, a empresa levantou mais de US$ 1,75 bilhão em investimentos no começo de 2020, junto a nomes como Goldman Sachs, NBC Universal e JPMorgan Chase. A ambição não durou nem um ano, e ao anunciar o fechamento do serviço, em dezembro de 2020, Katzenberg afirmou que “o fracasso não foi por falta de esforço”. Final da história: hoje nós mal lembramos do Quibi e a biblioteca de conteúdos da plataforma foi vendida para a Roku por menos de US$ 100 milhões.
Katerra
Quanto aos grandes fracassos do SoftBank, você já deve ter ouvido falar da WeWork. Mas a Katerra não está muito atrás na lista de desastres no balanço financeiro de Masayoshi Son. Fundada em 2015, esta startup do Vale do Silício fundada pelo ex-CEO da Tesla, Fritz Wolff, chamou a atenção do mercado com suas soluções pré-fabricadas para a construção civil. A empresa queria ser um “faz tudo” do mercado, entregando desde a matéria-prima até os projetos para incorporadoras.
Com esta visão grandiosa, a Katerra rapidamente conquistou o Vision Fund do SoftBank. Em 2018, a empresa levou um cheque de US$ 835 milhões do fundo, junto com outros investidores como a Greensill Capital. Contudo, a partir de 2019 a empresa começou a dar sinais de queda, e a pandemia só agravou as coisas, tanto que o SoftBank vazou do negócio no final de 2020, depois de colocar mais de US$ 2 bilhões na proptech. Em 2021, com o colapso da Greensill, foi game over para a Katerra, que demitiu mais de 7 mil pessoas.
Grow
Senta que essa história é boa. Nascida da fusão entre a a Yellow e a Grin, em janeiro de 2019, a Grow cantava aos quatro ventos seus planos de expansão no Brasil e América Latina com seu aplicativo de aluguel rápido de bikes e patinetes. Na época da fusão, a empresa chegou a afirmar que estava em vias de levantar uma rodada de US$ 150 milhões junto ao SoftBank (ele mesmo), mas o deal não foi adiante por divergências em números estratégicos.
Em meio às dificuldades de funding, a startup sofreu com o modelo de negócios – altos custos, roubos e equipamentos defeituosos relatados por clientes – o que minou a tração da marca junto aos consumidores. Além disso, os preços não estavam agradando: por exemplo, um aluguel de patinete por 10 minutos poderia sair por R$ 10, valor não muito abaixo do que uma viagem de Uber pela tarifa mínima na época. Nem uma parceria com o Rappi ajudou muito na conquista de mais consumidores.
Ainda no 1º trimestre de 2020, a empresa fechou suas operações em 14 cidades do país, ficando somente em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Na época, notícias divulgaram que a empresa foi vendida pelo simbólico valor de US$ 1 ao fundo Mountain Nazca (dono do Peixe Urbano), que assumiu as dívidas da companhia.
A história complica? Complica sim! Alguns meses depois, o Mountain Nazca veio à imprensa desmentir a informação, alegando que tanto a Grow quanto o Peixe Urbano não faziam parte do fundo. Segundo a gestora, as empresas foram compradas por Felipe Henrique Meyer, um investidor chileno que era responsável pela operação do fundo no país andino. Final da história: nem a Grow nem o Peixe Urbano existem mais.
Arrivo
A Arrivo tinha tudo para estar na briga com a Boring Company e Hyperloop One no mercado de transporte futurista, e levantou uma grana alta pra ter o poder de fogo para isso. Fundada em 2017 por ex-executivos da Hyperloop One, a empresa levantou mais de US$ 1 bilhão em investimento, vindo de um fundo estatal chinês chamado Genertec. Porém, pouco tempo depois foi revelada a verdade, em que o bilhão veio de uma linha de crédito, e a empresa estava com dificuldades de captar recursos junto a fundos de venture capital.
No fim de 2018, após tentativas frustradas de criar uma pista de testes no Colorado – um gesto em busca de novos investidores para sua tecnologia de transporte via trilhos magnéticos – e denúncias de falta de pagamento para funcionários, a Arrivo saiu da pista.
Hash
Essa aqui é recente, e nós contamos a história no Startups. A Hash, fintech de banking-as-a-service e maquininhas de pagamento, era um dos nomes quentes do segmento até 2021. Só no ano passado, a empresa levantou não apenas uma rodada série B, mas também a série C, colocando mais de R$ 250 milhões no bolso para acelerar no mercado brasileiro.
Contudo, a partir de maio deste ano, tudo mudou. A empresa realizou uma onda de demissão de 20 pessoas, depois mais 50 em junho, e dispensou outras 58 em agosto. Pra completar, a empresa sumariamente terminou seus contratos com fornecedores, que tinham marcas grandes como a rede de construção Léo Madeiras – o maior contrato da fintech.
Com todos estes baques, fontes afirmaram que a empresa estava na sala de espera para fechar suas portas, e o CEO/fundador João Miranda estaria buscando uma possível aquisição para manter o negócio vivo. Entretanto, segundo apurou o Startups, a empresa silenciosamente encerrou suas atividades, dispensando o restante dos funcionários ainda empregados.
Os motivos para o desastre? Segundo fontes ligadas à Hash, pressões dos fundos investidores, como QED Investors e Kaszek, por crescimento, e erros na gestão dos recursos – como gastos excessivos em projetos que não deram em nada, mimos e festas caras para os funcionários – foram a ruína da empresa.