A Ambev entrou no mundo dos serviços financeiros sem muito alarde com o lançamento da Donus, uma conta digital voltada para micro, pequenos e médios empresários – mais especificamente donos de bares e restaurantes, que é o público da companhia, mas é sempre bom deixar as ambições mais amplas, vai que cola.
Mas os planos para o futuro não parecem ser tão modestos. Para tocar o avanço de sua fintech a fabricante de bebidas tirou Mauro Bizatto da presidência do programa de fidelidade do banco Santander, o Esfera. Ele foi o responsável pelo processo de separação do programa em uma empresa separada do grupo e antes disso trabalhou na criação da Livelo, da Elo e na Bradesco Cartões. “Só fiz uma entrevista pessoalmente. O resto foi tudo por vídeo”, conta Bizatto em entrevista, por vídeo, ao Startups.
Como trunfo em relação a outras companhias que estão tentando avançar como banco de nicho (Oi, iFood!) a Ambev tem sua cobertura nacional e o relacionamento que já tem com 700 mil estabelecimentos espalhados pelo país – leia-se as faturas que eles já têm que pagar com a companhias. O iFood tem mais de de 200 mil. “A Ambev passa uma ou duas vezes por semana [para reabastecer os estoques]. Estamos aproveitando isso para acelerar”, diz Bizatto. Segundo ele, os vendedores da Ambev vão ajudar no processo detectando a necessidade ou apresentando o assunto da conta para os clientes, mas as vendas serão feitas pela própria equipe da Donus. “Não tem top down, mas uma estratégia alinhada de acordo com as necessidades da Ambev”, diz.
Para o executivo, a “evangelização” dos donos de bares e restaurantes será o grande desafio. Mais de 30% dos pequenos varejistas brasileiros não têm conta em banco e outros 40% não possuem cartão de crédito ou débito.
“Hoje tem muita gente que não entende de aplicativo e tecnologia. Então é preciso acelerar essa digitalização do ponto de venda. Depois vem a proposta de valor”, diz. Segundo Bizatto, o momento é de ajustar o que a oferta e o atendimento.
A Donus nasceu no fim do ano ano passado dentro da Z-Tech, o braço de corporate venture capital e criação de novas empresas que possam compor o ecossistema da Ambev (venture building). O portfólio tem ainda a Menu e a Get In.
A operação, que tem 100 funcionários, foi lançada oficialmente em fevereiro, mas operou em marcha lenta durante a pandemia por conta do fechamento de bares e restaurantes. Há cerca de dois meses as atividades voltaram a um ritmo mais normal. Atualmente ela tem como ofertas a conta digital, a maquininha de cartão, um cartão de débito e crédito com taxa de 1,35% ao mês. “O uso dos cartões mostra que a proposta tem valor, que é algo que ele não tinha antes”, diz Bizatto, sem abrir números de contas ou o volume de crédito já concedido.
E se um estabelecimento que vende produtos de um concorrente da Ambev quiser ter uma conta? Bizatto não diz que isso será proibido, mas também não se mostra muito animado com a ideia. “Tem um aquário muito grande dentro da Ambev”, diz. A tendência, na verdade, é que os próprios concorrentes também lancem ofertas semelhantes.