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B23 mira crédito pulverizado no agro e aposta em lacuna ignorada por bancos

Fintech quer levar sua tecnologia ao agronegócio, focando em uma faixa de crédito pouco explorada pelas linhas tradicionais: valores entre R$ 2 mil e R$ 8 mil

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Beatriz Cançado, fundadora e CEO da B23
Beatriz Cançado, fundadora e CEO da B23 (Foto: Divulgação)

Com pouco mais de dois anos de operação, a B23 Parcelamentos construiu seu nome no mercado de meios de pagamento como subadquirente especializada em parcelamento de débitos veiculares. Agora, a fintech quer levar sua tecnologia ao agronegócio, focando em uma faixa de crédito pouco explorada pelas linhas tradicionais: valores entre R$ 2 mil e R$ 8 mil.

A proposta é oferecer aos produtores rurais a possibilidade de parcelar despesas emergenciais via cartão de crédito ou Pix parcelado. O chamado crédito pulverizado pode ser especialmente útil no período de entressafra, quando o produtor enfrenta gastos imediatos, mas não deseja ou não consegue acessar financiamentos bancários tradicionais.

Segundo Beatriz Cançado, fundadora e CEO da B23, embora haja demanda no agronegócio por créditos menores, as linhas tradicionais geralmente não atendem a essa faixa de valores porque são operações que exigem robustez e custos elevados. “O processo envolve fundos estruturados que dão suporte à operação, exige autorização do Banco Central e só se sustenta se movimentar grandes volumes”, explica.

A B23 não oferece crédito diretamente. A fintech atua como um mecanismo digital de pagamento, permitindo que produtores rurais parcelem pequenas despesas do dia a dia, como boletos, serviços, insumos, manutenção e débitos de veículos agrícolas. A empresa promete liquidez imediata, controle financeiro e uma estrutura facilmente integrável a cooperativas, redes de assistência técnica e revendas agrícolas. 

Para oferecer o serviço, a B23 se apoia em parceiros locais – consultorias, seguradoras, cooperativas e prestadoras de serviços que já têm relação de confiança com os produtores. Esses parceiros oferecem o serviço, enquanto a B23 processa a transação de forma 100% digital, rápida e segura, garantindo que o parcelamento seja feito de maneira prática, complementando o portfólio de crédito já disponível no mercado.

“Contamos com parceiros próximos aos produtores rurais, que conhecem bem o mercado agro e têm credibilidade no setor. Ao mesmo tempo, oferecemos uma tecnologia de ponta, capaz de suportar grandes volumes e garantir total segurança”, afirma Beatriz. A infraestrutura da B23 permite processar mais de 50 mil requisições por segundo, mantendo conformidade regulatória e segurança de dados, e possibilita atuar em operações que, para bancos e fundos, não compensam pelo valor unitário.

Parceria, não concorrência

O movimento da B23 chama atenção por acontecer em um cenário no qual outros players de crédito no agro enfrentam dificuldades. No primeiro quadrimestre da safra 2024/2025, os desembolsos de crédito rural recuaram 24,5% em comparação com o mesmo período da safra 2023/2024, totalizando R$ 152 bilhões, segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor.

Essa limitação no crédito tradicional cria uma oportunidade para soluções como a da fintech. Com a maior dificuldade de se obter empréstimos, o parcelamento via cartão ou Pix surge como uma alternativa rápida para quem possui limite disponível e quer evitar a burocracia.

A estratégia inicial da B23 foca quatro estados – Bahia, Espírito Santo, Paraíba e Minas Gerais -, onde a empresa já fechou parcerias com consultorias, prestadoras de serviços para sindicatos rurais e até empresas de seguros. Juntas, essas regiões somam 770 mil produtores ativos, e a B23 espera movimentar R$ 500 milhões até o fim de 2025, com crescimento progressivo nos primeiros anos e expectativa de expansão para outros estados.

Para Beatriz, o diferencial da B23 está na combinação de tecnologia avançada e parceria local, permitindo atender uma demanda real dos produtores de forma rápida, segura e sem burocracia, sem competir com grandes players do mercado. A empresa mantém o foco no crédito pulverizado, enquanto observa outros setores com potencial, como educação, saúde e mercado imobiliário, mas a prioridade é consolidar sua presença no agronegócio.

Ela reforça que a fintech não pretende disputar o mercado de grandes operações agrícolas, como financiamento de grãos ou máquinas. O objetivo é complementar o portfólio de parceiros já estabelecidos no agro, oferecendo uma alternativa para os produtores que precisam de crédito e complementando o portfólio de players que, até então, não conseguiam atender às “contas menores”.

Crescimento orgânico

A B23 também se destaca pelo perfil de liderança. Além de Beatriz, que tem formação em psicologia e experiência internacional, a equipe conta com mulheres à frente das áreas de tecnologia, produto e finanças – algo raro no cruzamento entre mercado financeiro, tecnologia e agro.

Outro ponto de destaque é o crescimento da fintech sem aporte externo. A B23 se desenvolveu a partir da demanda real dos clientes, mantendo uma operação saudável. “Não dependemos de investimento externo, mas estamos abertos a essa possibilidade para levar a empresa a outro patamar, embora não seja nosso foco no momento”, afirma Beatriz.

A B23 seguirá com sua operação consolidada no parcelamento de débitos veiculares, enquanto concentra esforços para se firmar no agronegócio, atendendo à demanda por créditos menores e soluções práticas. A fintech também observa oportunidades em setores como educação, saúde e mercado imobiliário, mas a prioridade agora é consolidar sua presença no agro antes de avançar para novas frentes.