Brex
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Que a Brex está de olho nos talentos brasileiros você já sabia por que leu no Startups no começo do ano passado. Mas de lá pra cá, os planos se aceleraram. De uma sala no WeWork na Avenida Paulista, a fintech acaba de se mudar para um andar e meio para chamar de seu em outra unidade da empresa de coworking no Largo da Batata – Zona Oeste da capital paulista.

Até o fim do ano, a Brex quer ter cerca de 200 pessoas no Brasil. Para 2026, o plano é que a terra natal dos fundadores da companhia represente 20% do seu quadro total. Atualmente a Brex tem mais de 1,1 mil pessoas, sendo cerca de 140 no Brasil.

“Quando se fala de risco, um dos principais pontos é a diversificação. E investir no Brasil nos dá essa diversificação. O país tem algumas das melhores universidades do mundo. Nós conseguimos contratar alguns dos melhores talentos aqui”, disse ao Startups, Rahul Ramesh, Chief Credit Officer da Brex, durante recente visita ao novo escritório da companhia. Outro ponto, segundo ele, é a proximidade em termos de fuso horário, que facilita muito na integração das equipes.  

De olho nos talentos locais

As contratações por aqui começaram a ser feitas para o time de operações há cerca de cinco anos, e evoluíram para as áreas de engenharia e produtos. Mais recentemente, a companhia trouxe uma pessoa de vendas e está ampliando essa estrutura. Em seu site a Brex tem aberta uma vaga aberta para um/uma SDR trabalhando a partir de São Paulo – além de outras 10 em áreas como dados, operações, engenharia, TI e RH. São Paulo é um dos três hubs de operações que a companhia mantém fora do Vale do Silício. Os outros dois estão em Salt Lake City (EUA) e Vancouver (Canadá).

Para atrair bons talentos, a Brex tem se aproximado de universidades como USP, ITA e Insper por meio de sessões informativas, hackathons, indicações e outras ferramentas. “[Os alunos] chegam com uma nova geração de ferramentas. Altamente técnicos, mas também com mentalidade de negócios. Eles têm funcionado muito bem. Por isso estamos dobrando a aposta nas contratações”, comentou Brian Klaja, diretor sênior de operações da Brex. Segundo ele, dois terços das contratações no Brasil têm acontecido direto na fonte das universidades.

Além da marca e dos benefícios, uma forma de chamar a atenção de jovens talentos é o posicionamento como uma plataforma de impulsionamento de carreiras. O mote é: Be the founder of your career (algo como seja o fundador da sua carreira). Isso significa que a fintech não quer guardar para si os melhores funcionários para sempre. A ideia é que eles deem o seu melhor e, eventualmente, deixem a companhia para tocar seus próprios negócios. Com a possibilidade, inclusive, de investir neles.

Segundo a companhia, mais de 100 negócios já foram criados por ex-Brex. Isso é quatro vezes mais que a média do mercado, segundo a própria empresa, e dá a ela um status de mafia junto de nomes como PayPal, Uber, Nubank, Creditas e Rappi. “É uma questão de tempo para termos casos vindos do Brasil”, afirmou Rahul.  

Reestruturação concluída

A Brex nasceu como um cartão direcionado a startups em 2017, e evoluiu para se tornar um banco para empresas. Nos últimos dois anos a companhia passou por um processo de reestruturação chamado de Brex 3.0, que contou com uma redução de time e simplificação da estrutura.

Na semana passada, Pedro Francheschi, cofundador e CEO da fintech anunciou que a fase de reestruturação do negócio chegou ao fim. “Agora, 20 meses depois, está claro que o Brex 3.0 funcionou. Fizemos a inflexão tanto do nosso crescimento quanto da nossa queima de caixa. Fazer um, ou o outro, em uma operação com mais de mil pessoas já seria difícil, mas fazer os dois juntos não acontece normalmente. A maioria das empresas nãpo consegue. Mas esse time conseguiu fazer o impossível”, escreveu ele. Segundo Rahul, a Brex atualmente está mais focada e integrada, e preparada para continuar a crescer.

Em setembro a Brex anunciou ter chegado a uma receita anualizada de US$ 700 milhões, com crescimento de 50% e caminhando na direção da lucratividade. Em seu auge, em 2022, a Brex chegou a valer US$ 12,3 bilhões. Mas algumas avaliações de mercado mais recentes baseadas na correção dos valuations nos últimos indicam que o valor atual estaria entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões.    

Uma das vertentes de expansão é atender clientes na Europa. A fintech abriu um escritório em Amsterdam e, em agosto, conseguiu licença junto à bandeira Mastercard para emitir cartões na União Europeia. A mesma liberação está sendo aguardada para o Reino Unido. A licença permite que a fintech faça a emissão local de cartões, atendendo parte da demanda de clientes dos EUA que atuam no velho continente. A expectativa é ter negócios por lá a partir do ano que vem. Já o Brasil continua fora dos planos. “O Brasil é um grande foco pelo lado de operações”, diss Rajeev Muppala, vice-presidente de operações de risco.

No processo de crescimento a inteligência artificial também tem um papel importante. Rahul, que antes de vir para a Brex trabalhava na American Express, contou que a companhia tem um portfólio de crédito 20 vezes maior que o da Brex. “Essa é a oportunidade. E se o nosso plano é escalar tanto assim, a IA será o habilitador para colocar produtos mais rápido no mercado”, afirmou.

De acordo com Rajeev, o plano, ao contrário de outras empresas do Vale do Silício, como a Salesforce, não é usar a IA para substituir pessoas. A ideia é que ela ajude os funcionários a trabalharem melhor. “Não acreditamos que a IA vai substituir as pessoas. Não faria sentido buscar gente talentos para fazer isso. O que estamos fazendo é dar a elas as ferramentas que as ajude a se desenvolver e crescer na medida que expandimos o negócio. A IA deve expandir os humanos”, disse Brian.