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Brex vai ampliar busca por talentos no Brasil

Com 132 pessoas no Brasil, fintech quer ampliar time local em áreas como ciência de dados, machine learning e operações

Brex
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Fundada nos EUA pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, a badalada fintech Brex está de olho no Brasil. Melhor dizendo, nos talentos brasileiros. Mesmo sem ter planos de abrir uma operação por aqui, o banco digital quer ampliar sua equipe local. “Vamos ser mais ativos, fazendo nossos eventos e participando de evento externos para ‘espalhar a palavra’”, diz Heather Dunn, diretora de pessoas (CPO) da companhia, que está no Brasil esta semana para uma reunião do time brasileiro.

Sem alarde, a Brex vem, ao longo de quatro anos, montando um time considerável por aqui. Hoje são 132 pessoas, o que representa pouco mais de 10% de seu total global – e que também é próximo do que muita fintech tem. Pouco mais da metade da equipe é formada por engenheiros e desenvolvedores, e o restante está em áreas mais operacionais, incluindo atividades que, teoricamente, não fariam sentido serem exercidas fora dos EUA, como risco e compliance. De acordo com Camilla Matias, COO da fintech, o plano é abrir ainda mais o leque. “Queremos testar áreas que nunca contratamos antes”, diz.

Com a inteligência artificial ganhando mais atenção nos investimentos – assim como em todo lugar – as áreas em que a Brex pretende olhar para contratar no Brasil são ciências de dados e machine learning. Mas por que uma empresa do Vale do Silício, uma das principais referências do modelo startupeiro americano, viria buscar esse tipo de profissional no Brasil? James Reggio, CTO da companhia, diz que prefere assim. “Sou contrário à ideia de que os melhores talentos só são de Stanford, ou saem do Google. Uma pessoa que se formou em uma universidade de menos destaque quer aprender mais e tem mais uma mentalidade de crescimento”, afirma. Segundo ele, as necessidades da Brex hoje também são um pouco diferentes do perfil de muita gente no Vale. “Eu não preciso de especialistas em visão computacional. Meu perfil é mais genérico”, diz.     

Ele elogia os profissionais brasileiros por terem uma visão mais ampla do trabalho que fazem. “A quantidade de vezes que eu vi engenheiros fazem seus próprios designs no Figma, ou entrando em contato com clientes para entender algum aspecto. É muito estimulante”, diz. Segundo ele, o que tem começado a acontecer é um efeito de rede, com profissionais que estão na companhia indicando pessoas boas que eles conhecem.

Não espere, no entanto, uma avalanche de contratações nos próximos meses. “Não é uma questão de números”, pontua Heather. Ela e Camilla destacam que a intenção de reforçar a Brex como marca empregadora no Brasil é encontrar bons talentos, não inchar o quadro – até porque a companhia está segurando as pontas como todas as outras startups do mundo, e até fez um corte significativo em janeiro.

Heather Dunn (à esq.), CPO; Camilla Matias, COO; e James Reggio, CTO da Brex, durante encontro com funcionários brasileiros da fintech em São Paulo

O que a Brex procura?

Nascida em 2017 para resolver a dificuldade que pequenas empresas e startups dos EUA tinham de conseguir um cartão de crédito, a Brex ampliou seu portfólio para outros serviços financeiros e também para a oferta de softwares que ajudam no dia a dia do negócio, como a gestão de despesas de viagem. Apesar de não ter operação no Brasil, o cartão dos clientes com conta nos EUA podem ser usados normalmente por aqui. Os funcionários brasileiros, por exemplo, usam o cartão.

De acordo com Camilla, uma característica fundamental para quem trabalha na Brex é a capacidade de se adaptar a diferentes cenários e situações. E essa é uma característica já embutida nos brasileiros, o que torna os talentos locais ainda mais atrativos para a companhia. Atributos como capacidade de pensar grande, foco no cliente, habilidade para trabalhar em grupo também são características importantes.  

Reggio acrescenta uma outra característica: a busca constante por ser o melhor no que a pessoa faz. Isso conversa muito com outro ponto que Heather coloca, que é a capacidade de performar dois ou três vezes mais que outros profissionais.

Atualmente o banco digital tem três vagas abertas especificamente para brasileiros: engenheiro de software sênior, frontend; engenheiro de software sênior, produto; e generalista de recursos humanos. Mas também é possível se candidatar para outras 30 oportunidades listadas no site da companhia que oferecem a opção de trabalho remoto. Sem dar detalhes de benefícios, Heather diz que o objetivo é ser competitiva. “Quem trabalha com a gente está bem feliz”, brinca.

O CTO conta que a Brex não tem tipos de trabalhos ou tarefas específicas destinadas para um local ou outro. A ideia é sempre ter mistura de gente de diferentes locais para ter novas perspectivas e opiniões. “Com a diversidade a gente cria coisas inéditas”, reforça Camilla.

Reggio lembra um caso em que um engenheiro brasileiro, incomodado com a abordagem que estava sendo proposta para o cadastro de clientes no aplicativo para celulares que a Brex estava desenvolvendo, levou para a discussão como isso era feito pelo Nubank e outras fintechs no Brasil. Camilla também conta um caso em que a experiência brasileira ajudou. No início da operação, por uma falha, a companhia programou uma  transferência que tinha um zero a mais. O desespero bateu porque isso deixaria a companhia sem recursos. A sugestão foi limpar a conta e deixar a transação dar erro.