Diego García e Gerry Giacomán Colyer, fundadores da Clara | Foto: divulgação
Diego García e Gerry Giacomán Colyer, fundadores da Clara | Foto: divulgação

A Clara, fintech de gestão de gastos corporativos que se consolidou como uma das principais soluções do setor na América Latina, acaba de anunciar um financiamento estruturado de dívida de US$ 70 milhões. O capital vem de três instituições: BBVA Spark, Covalto e International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial. Os recursos serão destinados à expansão dos produtos de cartão corporativo e pagamento de contas no México e na Colômbia – dois mercados estratégicos na operação regional da empresa.

O novo crédito se soma à linha já existente com o Goldman Sachs, parceiro da Clara desde 2022, e à captação de US$ 80 milhões anunciada em abril deste ano, dos quais metade foi em equity com a atual base de investidores e o restante em dívida com o Customer Value Fund (CVF), da General Catalyst. Agora, a empresa fortalece sua tese de crescimento com suporte de players globais e regionais, sem recorrer à diluição de participação acionária.

“Instituições altamente reconhecidas estão confiando em uma companhia como a Clara, não apenas localmente, mas também de forma global”, destaca Sebastian Miranda Cerda, capital markets lead da fintech, em entrevista ao Startups. Segundo ele, o movimento reforça a tese de que soluções corporativas de pagamentos e gestão de gastos da América Latina estão ganhando tração entre grandes financiadores institucionais.

Por que dívida?

Nos últimos anos, as fintechs latino-americanas enfrentaram um cenário mais restritivo de captação de equity, com investidores mais seletivos e foco em eficiência e sustentabilidade financeira. Nesse contexto, estruturas de dívida lastreadas em ativos passaram a ganhar espaço como alternativa para escalar operações sem diluição e sem comprometer indicadores financeiros. Para a Clara, que opera em mercados grandes e competitivos, o acesso a esse tipo de financiamento representa maturidade operacional e confiança no modelo de negócio.

A startup vem diversificando suas fontes de capital combinando equity e dívidas estruturadas. Sebastian explica que as facilities anunciadas são lastreadas por ativos, ou seja, pelo portfólio de recebíveis da empresa. Essa estrutura permite que a Clara continue crescendo sem recorrer à emissão de novas ações, mantendo a participação dos acionistas e evitando diluição de capital.

Com mais de 20 mil organizações ativas na plataforma, a fintech vem ampliando seu portfólio e se consolidando como uma infraestrutura de pagamentos para empresas. Segundo o executivo, a empresa deixou de atuar apenas na gestão de despesas e agora oferece soluções que conectam pagamento, controle e financiamento, aplicando tecnologia tanto na experiência do cliente quanto nas operações internas.

Clara no México, Colômbia e Brasil

A operação da Clara no México começou em 2020, e na Colômbia, em 2022 – o que ajuda a explicar a estrutura diferenciada de alocação dos recursos entre os dois mercados. No caso colombiano, o capital vem do BBVA Spark. Já no México, a expansão é apoiada pela IFC e pelo Covalto.

A participação da IFC traz uma camada adicional ao financiamento: impacto social. A linha estruturada no México tem foco em inclusão financeira, com prioridade para o atendimento de PMEs fundadas por mulheres. “Uma das nossas principais prioridades é a inclusão. Essa facility da IFC busca promover desenvolvimento social ao expandir o acesso a ferramentas de financiamento digital, principalmente para empresas fundadas por mulheres no México”, diz Sebastian.

Ele destaca que México e Colômbia reúnem condições estratégicas para a expansão: são mercados onde o acesso a soluções de pagamento corporativo ainda é pouco digitalizado, com alta dependência de bancos tradicionais, além de possuírem grande participação de PMEs e empresas em processo de profissionalização da gestão financeira. “São mercados com espaço claro para soluções que combinem eficiência, automação e acesso a crédito”, explica.

Apesar de não estar incluído neste financiamento, o Brasil ganhou destaque na estratégia regional da companhia. “O país representa uma oportunidade enorme e estamos dobrando esforços lá. Hoje, o Brasil está praticamente no mesmo patamar de relevância que o México para o nosso negócio”, pontua o executivo. Ele não descarta buscar linhas de crédito estruturado com instituições brasileiras no futuro.

IA como camada estratégica

Além da ampliação da infraestrutura de pagamentos, a Clara oferece um analista financeiro baseado em IA generativa – “um ChatGPT para times financeiros”, como descreve -, que transforma tarefas que antes levavam horas em processos resolvidos em minutos.

“Somos uma empresa muito tech-first e AI-first. Nosso objetivo é ser a solução número um para empresas que fazem e gerenciam pagamentos em toda a América Latina, combinando automação, inteligência e eficiência”, diz Sebastian.

A utilização de IA não está apenas nas interfaces ou nos relatórios para os clientes. Segundo o executivo, a tecnologia também é aplicada internamente em análises de risco, compliance e concessão de crédito, o que permite acelerar decisões e reduzir custos operacionais. “Quando estruturamos financiamento com parceiros institucionais, conseguimos mostrar que temos capacidade tecnológica para gerenciar risco com eficiência”, afirma.

Rumo à lucratividade?

A Clara não divulga metas financeiras, mas Sebastian afirma que os unit economics já são positivos e sustentáveis. A nova estrutura de financiamento, segundo ele, melhora ainda mais a eficiência operacional. “Se algo muda com essas facilities, é que ficamos mais próximos da rentabilidade e com unit economics ainda melhores”, conclui o executivo.