Em setembro de 2022, a iugu, empresa de gestão e automatização de meios de pagamento online, adquiriu a marca e uma parte da carteira de clientes da fintech Juno no Brasil, que antes pertencia à Ebanx. No anúncio, as empresas afirmaram que, sob o guarda-chuva da iugu, os clientes da Juno não sofreriam “qualquer impacto durante o período de transição”. No entanto, clientes da fintech alegam que o processo não tem sido tão tranquilo quanto o prometido.
Segundo apurado pelo Startups, a Juno reteve depósitos, atrasou o pagamento e bloqueou a conta de diversos clientes. “Eu era cliente da Juno/Ebanx e, após eles venderem a carteira de clientes para a iugu, cancelaram a conta da minha empresa e mantiveram o dinheiro que recebi dos meus clientes lá e até agora não me devolveram. [Outros] clientes estão sofrendo o mesmo tipo de problema. Empresas precisando pagar seus funcionários, mas, com dinheiro travado na Juno”, disse o dono de uma empresa que sofreu com o processo de mudança.
Na página do Reclame Aqui, vários usuários relatam ter passado por uma situação semelhante. “A Juno migrou para iugo e bloquearam o nosso dinheiro”, escreveu um usuário anônimo. “Fiz a portabilidade da plataforma Juno para a iugu e não consigo, desde então, acessar nem uma, nem outra”, disse outro cliente. Um cliente ouvido pelo Startups conta que recebeu o seu dinheiro de volta na semana passada, mas que um familiar segue com os valores retidos.
O que aconteceu?
Procurada pela reportagem, a iugu, alinhada com o Ebanx, explicou o que aconteceu durante o processo de migração da Juno para a plataforma iugu. As empresas afirmaram que após a conclusão da aquisição, em outubro de 2022, o Ebanx informou aos seus clientes sobre as opções de migração de suas contas para a iugu ou encerramento das contas, conforme determina a Resolução BCB n° 96/2021 do Banco Central do Brasil. “Esse processo foi repetidamente comunicado aos clientes desde o início desse período, por diferentes canais”, diz a nota de esclarecimento.
“Nos últimos dias, esteve em execução o processo de migração dos clientes que fizeram a opção pela iugu. Neste período, as contas antigas da Juno ficaram temporariamente indisponíveis para movimentação no app ou painel Juno para que todas as informações relativas a saldos, boletos, vencimentos, dentre outros, fossem passadas com exatidão às contas da iugu e, assim, fosse garantida a integridade e segurança da operação.” Segundo as empresas, esta etapa foi finalizada na última sexta-feira (21) e o saldo existente na conta Juno já começou a ser disponibilizado aos clientes que aceitaram fazer a migração nas suas novas contas na iugu, com possibilidade de movimentação.
As companhias reiteram que o processo foi comunicado previamente aos clientes por meio de diferentes canais e que é “absolutamente seguro”. “Conforme também comunicado, as contas que não optaram pela migração estão sendo encerradas, sem prejuízo para os saldos dos correntistas, que devem confirmar sua identificação e indicar dados para movimentar seus saldos para outras contas e, assim, finalizar o encerramento da conta bloqueada, em um processo conduzido pelo Ebanx. Esses atendimentos estão sendo feitos via canal designado especificamente para estes casos: [email protected].”
A aquisição da Juno
A Juno foi adquirida pelo Ebanx em outubro de 2021. Oito meses depois, em junho de 2022, o unicórnio de pagamentos anunciou um corte de 20% de seu quadro de funcionários, o que representava cerca de 340 pessoas de um total de mais de 1,7 mil. Na época, você leu aqui no Startups que a redução foi resultado de uma reestruturação nos negócios: o Ebanx passou a se concentrar em seu negócio principal e original, os pagamentos internacionais, e com isso alguns projetos foram descontinuados.
A reportagem apurou que a Juno teria perdido prioridade. Com a venda da marca e parte da carteira de clientes, a iugu estimava aumentar sua receita em 50%, reforçando seu posicionamento e estratégia de crescimento no país. “Os clientes da Juno não sofrerão qualquer impacto durante o período de transição. As empresas estão sendo notificadas e poderão optar pela transição da plataforma, que será realizada de maneira gradual”, disse a iugu no dia do anúncio, em nota enviada ao mercado.
“O objetivo é manter a experiência em um processo semelhante ao da portabilidade de outros setores, seguindo todos os processos normativos de encerramento e abertura de contas previstos na regulação vigente estabelecida pelo Banco Central do Brasil”, acrescentou. A iugu registrou um crescimento de mais de 100% em receita líquida no 1º semestre de 2022, em comparação ao mesmo período de 2021. No anúncio, o fundador, Patrick Negri, disse que a projeção era movimentar R$ 35 bilhões de volume total de transações processadas por ano a partir de 2023.