Fintech

Conta Simples capta R$ 200M e vai em busca de clientes maiores

Fintech que já vale quase US$ 300M quer usar os recursos como se fossem sua última captação externa e expandir oferta de crédito

Lideranças da Conta Simples
Lideranças da Conta Simples

Na semana em que o ano realmente começou – porque semana passada nem contou, né – a Conta Simples traz sopro de esperança para o mercado: uma rodada de US$ 41,5 milhões, o equivalente a mais de R$ 200 milhões. Será que o apetite dos investidores voltou?

A série B da fintech chega dois anos depois da série A de R$ 121 milhões, e foi feita com fundos que já investiam na companhia. O americano Base10 Partners liderou, sendo acompanhado por Valor Capital, Jam Fund, Y Combinator, Big Bets, Broadhaven e DOMO. “Nem fizemos pitch deck. Os investidores já conheciam o negócio. Isso é um sinal muito forte de que estamos seguindo na direção correta”, conta Tognini, cofundador e CEO. Com o cheque, o Base10 garantiu para si um dos sete assentos do conselho da Conta Simples.

A operação contou com uma parcela secundária, com alguns investidores anjos tendo suas participações recompradas “com um bom retorno para um período de três a quatro anos”, segundo Rodrigo. Ele não revela em quanto a Conta Simples foi avaliada na captação, mas a estimativa do Startups é que o valor tenha ficado entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões.

A operação teve apoio dos escritórios de advocacia WilmerHale, nos EUA, e FM/Derraik, no Brasil.

Use of proceeds

Com a nova injeção de recursos, a Conta Simples pretende seguir na dinâmica de crescimento conhecida pela sigla T2D3 – de triplicar, triplicar, dobrar, dobrar e dobrar o tamanho da operação todos os anos durante um período de 5 anos. Em 2023 o crescimento foi de 2,7 vezes “Queremos dobrar de tamanho em 2024. Mas sem loucura. Se o investimento planejado fizer a gente crescer 80%, esse será o resultado”, pontua Rodrigo. Segundo ele, o plano é viver como se a série B foi a última captação da fintech e  não depender mais de rodadas externas para avançar daqui pra frente.  

Com dinheiro em caixa e tendo fechado o ano de 2023 com as contas equilibradas (breakeven), a Conta Simples quer usar os recursos da rodada em duas frentes principais: buscar novos perfis de clientes e adicionar novas funcionalidades à sua oferta – especialmente na área de crédito, tendo em vista que a fintech conseguiu a licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) junto ao Banco Central em novembro.

De acordo com Taeli Klaumann, CFO da Conta Simples, na lista de adições estão recursos como o Pix Parcelado e o BNPL, além de outras tendências do mundo de software que ajudem a reforçar o posicionamento da fintech como uma solução de gestão de despesas corporativas. “Queremos dar mais assertividade para o financeiro que está do outro lado. Para ele atuar realmente como uma fintech”, diz.

Segundo ela, o teto do rotativo do cartão implantando pelo Banco Central no fim do ano não tem impacto para a operação porque a receita com juros não existe. Mas a fintech segue acompanhando os movimentos do mercado para ver como o mercado irá se comportar. Segundo ela, uma possibilidade é que haja uma migração do cartão para o Pix e o BNPL, uma vez que haverá restrição na concessão de crédito por conta das novas regras. “Vamos aprender para ver como vai ser o cenário”, acrescenta.   

O crescimento da operação por meio de aquisições não faz parte dos planos para 2024. Até o fim do ano, o plano é finalizar a integração da Hackr Ads, comprada em 2022. “Vamos concluir o capítulo da Hackr Ads e ficar preparados para abrir novos M&As”, diz Rodrigo.

Conta Simples para empresas maiores

Acostumada a atender empresas do mundo digital e companhias de pequeno porte, a Conta Simples agora quer trazer para sua carteira também os negócios de maior porte, com até 1000 funcionários. A nova frente de atuação, que exige um esforço comercial mais complexo, será liderada pelo cofundador Ricardo Gottschalk, que tem passagens por Stone e Oracle. Nas últimas semanas, a comunicação da Conta Simples em suas redes sociais já tem assumido um tom mais enterprise, refletindo esse novo momento. Rodrigo conta que hoje a      

Hoje com 250 pessoas, a Conta Simples pretende adicionar mais 90 ao seu quadro até o fim do ano para dar sustentação às suas expectativas.

Com 30 mil clientes ativos de cerca de 60 mil contas cadastradas, a fintech tem 500 mil cartões de crédito emitidos na bandeira Visa. O total de recursos movimentados chegou a R$ 18 bilhões em 2023, sendo R$ 5 bilhões apenas com cartões.  

Taeli conta que ao longo do ano passado a Conta Simples se preocupou em colocar a casa em ordem, se preocupando com a eficiência e os resultados da operação. Hoje ela tem uma fonte de receitas mais diversificada, composta pela taxa de interconexão paga pela Visa em cima do volume de recursos transacionados com os cartões, remuneração sobre recursos depositados (floating), tarifas de transações, assinaturas do sistema de gestão de anúncios da Hackr Ads e uma mensalidade de R$ 49,90 cobrada dos clientes com gastos inferiores a R$ 1.000 mensal no cartão.

A cobrança da mensalidade, que poderia ter sido um problema para a companhia, já que a maioria das outras contas do mercado é isenta dessa cobrança, acabou surpreendendo. O volume ficou 350% acima do esperado e ela se tornou uma fonte de receita importante para a operação.

Investidores com mais apetite

Rodrigo conta que as abordagens para que a Conta Simples fizesse uma nova rodada eram constantes desde a série A em novembro de 2021. A avaliação, no entanto, era que mais dinheiro não era necessário. “Ter mais recursos gera um sentimento de que tem dinheiro pra fazer tudo [gastar]”, avalia. Em meados do ano passado, TJ Nahigian, manging partner da Base10, veio com uma nova proposta, inclusive com um term sheet. A oferta foi rejeitada inicialmente, mas iniciou uma discussão dentro da companhia. por que não?

Depois de ir a um evento em outubro onde conversou com investidores, Rodrigo sentiu que o apetite estava voltando e que havia uma abertura para trazer novos recursos para o negócio. Em uma nova rodada de conversas com a Base10 – que incluiu um aumento no valuation da companhia – os termos foram ajustados e o acordo fechado.

Para Rodrigo e Taeli, a agilidade das conversas e o aceito dos termos indicam que os investidores estão mais dispostos a investir neste momento. Há, no entanto, uma ressalva: é preciso mostrar resultados. “OS investidores insistiram com a gente o ano inteiro porque não existiam outras startups com números melhores que os nosso. Nada vence a performance. Se você entrega, todos os planos são aceitos”, pontua Rodrigo.