No mundo dos serviços financeiros, cada novo produto ou serviço que é lançado serve como uma base necessária para um próximo passo que aprofunda o relacionamento. Foi assim, por exemplo, que a Cora evoluiu ao longo dos últimos seis anos. Da conta digital lançada no fim de 2020, a fintech avançou para o cartão de crédito e, mais recentemente, para a oferta de crédito para capital de giro. Agora, ela coloca no mercado um produto de antecipação de recebíveis.
“Esse é o produto que a gente quer escalar. Mas não conseguiríamos colocá-lo no ar sem antes ter feito o anterior [de capital de giro]”, conta Igor Senra, fundador e CEO da Cora, em conversa com o Startups.
Em teste desde janeiro, a oferta tem tido resultados bastante promissores. Segundo Igor, o índice de recontratação é de 70% e alguns clientes que chegam a fazer três contratações por mês. “A recorrência é muito forte”, comemora o fundador.
O momento para o lançamento é interessante uma vez que o crédito continua caro e restrito para os pequenos negócios, que são o público-alvo da Cora. Ao mesmo tempo, o cenário também é desafiador uma vez que o risco da inadimplência traz um complicador para a nova linha de negócio.
De acordo com Igor, por já emitir bilhões de reais em boletos todos os meses, a fintech tem conhecimento das capacidades financeiras dos seus clientes, e, consequentemente, lastro para aprovar operações com menor risco, e, por consequência, melhores condições – vulgo mais barato.
A avaliação é que, com a antecipação de recebíveis de boletos será possível até oferecer mais crédito já que clientes que eventualmente não passavam nos critérios para a linha de capital de giro poderão acessar a nova modalidade.
O fato de a Cora ser uma “novata” em crédito também conta a favor, segundo Igor. “Os bancos grandes têm a pressão da carteira antiga, que eventualmente precisa ser limpa para corrigir problemas do passado. E isso impede de conceder créditos novos. A gente não tem isso, o que nos permite ser mais agressivos. Mas com responsabilidade”, pontua Igor.
A oferta de crédito está direcionada à atual base de clientes. Mas tem condições de atrair novas contas. Segundo Igor, com investimentos em inteligência artificial, a Cora tem conseguido baixar o tempo de relacionamento necessário para que um novo cliente possa criar histórico suficiente que lhe dê acesso à antecipação de recebíveis. O que já foi seis meses hoje está em três. E o plano é diminuir ainda mais esse prazo.
Breakeven e crescimento
Hoje a Cora tem 1,7 milhão de contas e acumula um volume transacionado de cerca de R$ 190 bilhões em seis anos. Em meados do ano passado ela conseguiu sua licença de financeira (SCFI) junto ao Banco Central, o que lhe permitiu avançar na oferta de crédito. De acordo com Igor, as operações têm disso financiadas com capital próprio. “Se com o mercado bom tomar crédito não é fácil, no momento que está mais ou menos é impossível. E a gente sabe que tem empresas boas e que tem que estar aqui para elas”, afirma.
De acordo com Igor, os clientes têm vindo de dois lugares: quem acabou de abrir uma empresa e nunca teve relacionamento com nenhuma instituição financeira, ou quem vem de algum banco grande.
Com investidores de porte de Kaszek, Ribbit Capital, GreenOaks, Tiger Global, QED e Tencent, a Cora levantou US$ 130 milhões em três rodadas. Desde o fim do ano passado, a operação está em break even. Para 2025, o plano é crescer entre 60% e 70%, com rentabilidade. “Poderíamos crescer mais. Essa é uma conversa constante que temos por que a oportunidade é gigantesca. Mas seríamos menos eficientes do que somos agora. Tem um caminho para combinar crescimento e lucro. E estamos tentando equilibrar as duas coisas”, comenta.