Fintech

De olho no IPO, Brex agora tem apenas um CEO

Pedro Franceschi agora comanda a fintech, enquanto Henrique Dubugras assume o posto de presidente do conselho

Pedro Franceschi e Henrique Dubugras, da Brex
Pedro Franceschi e Henrique Dubugras, da Brex

Na Brex, foram-se os tempos em que os fundadores Henrique Dubugras e Pedro Franceschi tocavam o negócio em parceria como co-CEOs – na verdade era assim que a fintech era conduzida desde o seu início, em 2017. Esta semana, a empresa resolveu fazer mudanças em sua hierarquia, optando por um modelo mais tradicional – ou seja, em que apenas um dos fundadores fica com a cadeira de chefe executivo.

Em comunicado oficial no site da empresa, a Brex anunciou sua nova estruturação: Pedro Franceschi fica como o CEO da companhia, enquanto Henrique cumprirá a função de presidente do conselho.

Na nota, Henrique Dubugras afirmou que o modelo de co-CEOs funcionou durante bastante tempo na companhia, mas se tornou um desafio à medida que o negócio foi escalando.

“À medida que as organizações se tornam maiores e mais complexas, é cada vez mais importante delimitar responsabilidades. À medida que nos aproximamos de um eventual IPO, o negócio exige que evoluamos novamente o nosso modelo”, destacou o agora chairman.

Segundo Henrique, a decisão veio de forma natural, ao passo que Pedro era quem tocava o papel de desenvolvimento da infraestrutura financeira do negócio. “Pedro liderou toda a organização nos últimos seis anos e nos levou onde estamos hoje, com mais de 30 mil clientes”, disse.

Por sua vez, o agora presidente do conselho focará em responsabilidades da Brex junto a agentes externos, como investidores e fornecedores.

“Estamos nos adaptando a um modelo de tomada de decisão mais ágil ao ter um único CEO. Pedro continuará administrando o negócio da mesma forma que tem feito nos últimos seis anos, só que com mais agilidade. Manterei muitas das minhas responsabilidades externas e, a partir do meu novo ponto de vista, ajudarei o Pedro a tornar-se um líder e CEO ainda mais bem-sucedido”, pontuou Henrique.

A troca no modelo de gestão chega a ser um retorno às origens da dupla da Brex, mais precisamente ao tempo em que ambos eram adolescentes aqui no Brasil e fundaram a Pagar.me. Iniciamente, Henrique era o CEO da empresa, mas como Pedro era a mente técnica por trás do negócio, a companhia mudou para um modelo de co-CEOs.

Depois que Pedro e Henrique venderam a Pagar.me para a Stone, o modelo de co-CEOs foi mantido para a criação da Brex, empresa que ambos fundaram em 2017, após mudarem para os Estados Unidos para estudar na universidade de Stanford.

Organizando a casa

Explicações à parte, a mudança na gestão da Brex também tem seu papel de fortalecer a credibilidade da fintech no cenário norte-americano. Com investidores como Greenoaks Capital, TCV, Tiger Global, Y Combinator e outros, a empresa já captou mais de US$ 1,5 bilhão em aportes, chegando a ser avaliada em US$ 12 bilhões.

Entretanto, a companhia andou sofrendo alguns percalços. Em janeiro, a fintech demitiu 282 pessoas, o que equivale a 20% da sua força de trabalho. Cerca de um ano antes, já tinha dispensado outros 10% do seu quadro. Após a segunda onda de cortes, Pedro afirmou que a medida fazia parte de um novo momento para a companhia, “enfatizando o pensamento a longo prazo e maior controle da empresa em vez de ganhos a curto prazo”.

Apesar das explicações sobre crescimento sustentável para justificar os cortes, um outro report mostrou uma realidade diferente na fintech. Segundo o site The Information, a companhia torrou US$ 17 milhões por mês no quarto trimestre de 2023 e só tinha “dinheiro suficiente para durar até março de 2026”. Um porta-voz da Brex disse à publicação que o runway da empresa é de quatro anos.

Segundo fontes, a empresa manteve suas despesas acima do ideal, gastando o dobro do que faturou no último trimestre de 2023. No começo do ano passado, a empresa estava se preparando para um IPO em 2025, mas em novembro as coisas mudaram, com Henrique Dubugras preferindo que a empresa atingisse a lucratividade, antes de “puxar o gatilho”.

“Acho que uma peça importante para ter uma empresa pública de menor volatilidade é ter um fluxo de caixa positivo e ganhar dinheiro, que é algo que historicamente planejamos para 2025. Então, se isso acontecer em 2025, [um IPO] será em breve depois. Mas precisamos chegar lá primeiro”, afirmou Henrique para o site TechCrunch.

Apesar dos altos e baixos, a Brex afirmou recentemente, em conversa exclusiva com o Startups, que quer mais brasileiros em suas fileiras. Mesmo sem ter planos de abrir uma operação por aqui, o banco digital quer ampliar sua equipe local – atualmente, a companhia tem 132 colaboradores baseados no Brasil, o que representa pouco mais de 10% de seu total global.