Ana Zucato, CEO e co-fundadora da Noh. (Foto: Divulgação)
Ana Zucato, CEO e co-fundadora da Noh. (Foto: Divulgação)

A fintech Noh lançou oficialmente um cartão de crédito desenhado para casais, ligado a uma única fatura e com limite calculado a partir do histórico financeiro combinado das duas pessoas. A solução, criada para organizar despesas compartilhadas com transparência, busca resolver uma dor recorrente entre quem divide a vida e as finanças: a falta de produtos bancários pensados nativamente para a gestão a dois. A novidade começa a ser testada nesta terça-feira (25) pela primeira leva de usuários inscritos na fila de espera, que reuniu cerca de 50 mil interessados.

Segundo Ana Zucato, CEO e cofundadora da Noh, o cartão sempre esteve no topo das solicitações dos usuários. “O cartão de crédito é o pedido número 1 desde que lançamos a Noh. Inclusive, 80% dos usuários que baixaram o app e nunca utilizaram é pela falta do cartão de crédito”, revela.

Ela conta que, depois de anunciar o novo produto nas redes sociais, muitos usuários que estavam inativos voltaram para a plataforma e se inscreveram na fila de espera, o que reforçou para o time a força da proposta e o potencial da próxima fase de crescimento. Até então, a fintech permitia pagamentos apenas via pix e boleto.

“O Brasil é o país do cartão de crédito”, avalia Ana. “Ele move o mercado, tem apelo aspiracional, ajuda a organizar fluxo de caixa e parcelar compras. Se você sabe usar bem, joga muito a seu favor. Então, era o produto que a gente precisava ter para ocupar o espaço que acreditamos poder ocupar”, completa.

A percepção dos usuários foi validada por uma pesquisa feita com 22 mil pessoas. Os resultados mostram que embora quase 80% das pessoas tenham um cartão individual, mais da metade (55,5%) concentra todos os gastos do casal em apenas um deles.

“Os casais costumam concentrar os gastos no cartão de uma pessoa, e a outra fica como adicional. Mas quem está pendurado no CPF do outro não tem visibilidade nenhuma. É unânime entre nossos clientes como isso gera frustração, tanto do ponto de vista prático quanto emocional, por não terem acesso ao extrato ou noção se os gastos estão dentro do planejado”, diz Zucato.

O movimento da Noh acontece em um momento em que o modelo de finanças compartilhadas passa por ajustes no mercado. Recentemente, a Cumbuca encerrou a operação de seu produto de compartilhamento de despesas e pivotou para ser uma infratech, conectando sua tecnologia ao ecossistema regulado pelo Banco Central. Criada em 2021 com a proposta de reinventar a tradicional conta conjunta, a fintech levantou pouco mais de US$ 3 milhões com fundos como Lightspeed Venture Partners, Supera Capital e Verve Capital.

Parceiros e infraestrutura

O produto estreia com bandeira Visa Infinite e chega inicialmente apenas na versão virtual. Com ele, os casais podem concentrar em uma única conta todos os gastos do dia a dia – moradia, alimentação, lazer, viagens, compras domésticas e despesas com pets. A proposta é eliminar o tradicional “acerto de contas” ao final do mês, já que todas as transações ficam visíveis para ambos e são reunidas em uma fatura compartilhada.

A operação é viabilizada por uma rede de parceiros. A Dock, que já era responsável pela infraestrutura transacional do cartão pré-pago, Pix e boletos, agora lidera a emissão e o processamento do crédito. Já a BMP cuida da análise e do funding do novo cartão.

“O diferencial da Noh é entregar experiência para o casal, não construir infraestrutura financeira”, afirma Ana. “Todos os nossos produtos foram em grande parte terceirizados e, depois de validados, avaliamos se faz sentido internalizar.” 

A estratégia, segundo a CEO, foi decisiva para a agilidade do lançamento. “Embora as conversas já acontecessem há quatro anos, quando finalmente batemos o martelo para tornar o cartão de crédito realidade, deixamos tudo pronto em um mês e meio”, diz.

Ana destaca que o modelo também traz vantagens para os parceiros. “Ter duas pessoas responsáveis por um crédito deixa qualquer operação mais segura. Se uma não pagar, a empresa pode acionar a outra. Ou seja, é possível recorrer a dois CPFs, o que torna essa operação menos arriscada”, explica.

Visão de futuro

A missão da Noh é pensar o casal como uma unidade financeira – e não apenas como duas pessoas que dividem contas. “O que os usuários mais gostam na Noh é a visibilidade e a transparência nas finanças”, afirma Ana Zucato. 

Essa premissa orienta também a chegada do cartão de crédito, que será lançado de forma gradual, com prioridade para quem já estava na lista de espera. “Não é algo que vamos sair oferecendo sem antes conhecer os clientes”, pontua.

Os casais já possuem crédito individual, e esse histórico serve como base para calcular o limite do cartão a dois. “Não é um cartão que vai dar acesso ao crédito pela primeira vez, nem oferecer muito mais crédito do que eles precisam”, afirma Ana. Na prática, isso significa que a fintech não soma os limites individuais para determinar o valor final. O limite é definido a partir do histórico financeiro combinado, respeitando o perfil e a capacidade real do casal como unidade.

A fintech está prestes a alcançar a marca de R$ 2 bilhões em transações processadas. Para os próximos anos, a estratégia é crescer com consistência: a meta é dobrar a base de usuários e o faturamento em 2026 e triplicar em 2027.

O modelo de negócio tem duas frentes: o app, com mensalidade de R$ 24 por dupla (com possibilidade de isenção por indicação), e o cartão de crédito, que terá custo promocional de lançamento de R$ 34 por mês. Essa taxa pode ser zerada caso os gastos superem R$ 5 mil no período.

Em julho de 2025, a Noh levantou uma rodada com a Urca Angels, a Rendimento Ventures (braço de venture capital do Banco Rendimento) e a Kindred Ventures, que já havia participado da rodada seed em 2021. O valor do aporte não foi divulgado, mas somou-se aos R$ 17 milhões que a fintech já havia captado quatro anos antes.

O cartão de crédito é apenas o primeiro passo de um plano mais amplo. Sem dar muitos detalhes, Ana antecipa que a visão de “unidade financeira” pode evoluir para além do casal e chegar à estrutura familiar. “Seguros, financiamento imobiliário e empréstimos são produtos que, se a gente validar que o cartão deu certo e é benéfico para os usuários, com certeza vamos endereçar no futuro”, conclui.