A credenciadora de maquininhas de cartão Cielo saiu da B3 neste mês de agosto, em uma decisão conjunta de seus controladores, Bradesco e Banco do Brasil. A Oferta Pública de Aquisição (OPA) veio após os bancos considerarem que, fora da bolsa, a Cielo terá uma flexibilidade maior para mudar sua estratégia e reverter a perda de market share para sua principal concorrente, a Rede, do Itaú.
A saída da B3 é um movimento que pode trazer redução de custos e proporcionar a liberdade para novos rumos. No entanto, não deve haver impacto imediato para seus concorrentes até que a Cielo apresente sua repaginação. A expectativa é de integração com um de seus controladores, o Bradesco, para ofertar mais serviços do que há no portfólio atualmente.
“Na minha visão, o que aconteceu com a Cielo é que ela não reagiu às mudanças de mercado de maneira adequada. Sempre usou de estratégias que pareciam conflitantes”, analisa Edson. “Uma hora brigava para ganhar market share, outra hora reduzia despesas para tornar a margem mais adequada”, afirma Edson Santos, sócio-fundador da Colink e especialista em pagamentos.
Inovação
Olhando para a frente, a Cielo precisa acelerar sua agenda de inovação, assim como estabelecer uma atuação que vá além dos cartões para seguir competindo com os outros players, aponta Boanerges Ramos Freire, sócio-fundador da Boanerges Consultoria. “Precisa pensar em outros serviços financeiros, com o crédito entre eles, que é fundamental principalmente para o varejista.”
O especialista afirma que, além de crédito, também deveria oferecer seguros, gestão de investimentos e outros serviços de valor agregado. “Há necessidades de varejistas que ou estão mal atendidas ou não são totalmente atendidas. É possível pensar mais amplamente e ampliar o leque neste sentido e abraçar o lojista”, diz Boanerges.
Nos últimos anos, os players do mercado de adquirência passaram a ampliar a oferta de serviços aos clientes. Se, antes, a fonte de receita de uma credenciadora se baseava no tripé das próprias transações (captura, processamento e liquidação), no aluguel dos terminais POS e antecipação de recebíveis, agora as companhias do setor buscam oferecer mais do que serviços de pagamento.
Neste cenário mais competitivo, novas adquirentes precisam encontrar suas próprias especializações, já integradas ao serviço principal, para ganhar espaço no mercado de credenciadoras. Apesar do desafio, há espaço a se preencher no varejo brasileiro..
“O Brasil é muito grande. Pode-se criar um serviço que se especializa em atender o Centro-Oeste, por exemplo, que está distante do Sudeste e que pode ter uma carência pelo serviço das grandes empresas”, diz Edson. Outro gap ainda não explorado nono Brasil é a segmentação por setor. “Lá fora existem empresas que focam em hotelaria, em turismo, por exemplo. Aqui não, a maioria são acquirers de mar aberto.”
Concorrentes
Procurada pela reportagem do Finsiders Brasil, a Cielo não quis comentar o assunto. Entre os concorrentes procurados (Stone, PagBank e Rede/Itaú), apenas o Itaú respondeu, por email, às perguntas.
De acordo com o banco, uma das principais vantagens de ter trazido a Rede para dentro de casa é ser “o único player do mercado financeiro nacional capaz de oferecer soluções de banking e adquirência realmente integradas, com ofertas contextualizadas e benefícios agregados nas experiências digitais e no atendimento”.
No que diz respeito à inovação, o Itaú cita como exemplo o desenvolvimento da tecnologia para o Pix por aproximação. “A partir de outubro, as laranjinhas, as maquininhas da Rede, aceitarão pagamentos por Pix utilizando a tecnologia NFC, de forma simples, segura e muito mais rápida – sem a necessidade de acesso ao aplicativo do banco”.
A OPA, que custou aos controladores R$ 4,288 bilhões, não foi uma grande surpresa. Fundada em 1995 como Visanet, a Cielo perdeu a liderança do setor para a Rede, do Itaú, no segundo trimestre de 2023. Na ocasião, o volume de pagamentos processados pela Rede somou R$ 208,01 bilhões, na frente dos R$ 195,829 bilhões da Cielo.
A queda do topo veio com uma postura mais agressiva da “laranjinha” e de outras credenciadoras novas, que tomam cada vez mais espaço no setor. A Rede (ainda como Redecard) fechou o capital em 2012. Na época, a operação movimentou cerca de R$ 10 bilhões.