Das 20,6 milhões de empresas ativas no Brasil, 8,4 milhões (o equivalente a 40,5%) têm mulheres como donas ou sócias majoritárias, segundo estudo recente divulgado pela Serasa Experian. Já de acordo com uma pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), a maioria (60%) das empreendedoras se declara negra e metade pertence à classe C.
Um dos grandes desafios para essas mulheres, especialmente as pretas e periféricas, é o acesso a recursos para investir em seus negócios. Na maioria dos casos, elas recebem “não” para as solicitações de crédito e não conseguem levar adiante seus empreendimentos, que normalmente são a única fonte de renda. Para mudar esse quadro, a IsaPay aposta em uma solução que combina microcrédito com uma plataforma de cursos e conteúdos de educação financeira, além de um hub de conexão entre as empreendedoras.
A startup, ainda em fase pré-operacional, é liderada por Isabella Barros, mais conhecida como Isa Barros. Mulher preta e criada por mãe solo, ela é formada em química, fez intercâmbio nos Estados Unidos e quando voltou ao Brasil passou a trabalhar com gestão de eventos e, depois, em projetos de tecnologia para o mercado financeiro. Em muitos deles, ela era a única mulher no time.
“Decidi, então, que queria fazer algo disruptivo para mulheres empreendedoras pretas, e assim ia atingir outras mulheres em vulnerabilidade social”, conta ela. Daí surgiu a ideia da IsaPay, que se define como uma “social fintech”, que atua com um tripé de “conhecimento, conexão e crédito” para empreendedoras. “Fizemos os dois testes de validação e estamos começando o MVP agora, com a expectativa de colocar para rodar a primeira versão do aplicativo nos próximos meses.”
Inicialmente, a IsaPay vai oferecer empréstimos de curto prazo sem garantia, com valores entre R$ 100 a R$ 300, e análise de perfil e risco baseadas em variáveis “menos exclusórias”, diz a empreendedora. “Criamos KPIs com um olhar mais humano para conceder crédito para essas mulheres”, aponta Isa. Não é necessário ter um CNPJ, basta ser empreendedora de periferia. Toda a conexão será realizada por meio do WhatsApp, uma das ferramentas mais usadas pelas empreendedoras em seu dia a dia.
Para a originação do crédito, a IsaPay tem parceiros, entre eles, a fintech Migo, que tem uma solução de “embedded lending”, ou seja, permite embutir serviços de crédito em aplicativos por meio de uma API. Segundo ela, o objetivo é que os créditos de baixo valor ajudem as empreendedoras na compra de insumos para seus negócios, por exemplo. “O crédito vai evoluir conforme a mulher for evoluindo como empreendedora.”
Nas outras pernas do tripé, a plataforma vai oferecer capacitação em negócios, com aulas ministradas pela própria fundadora, assim como o acesso a uma rede de contatos para ajudar as mulheres no crescimento de suas empresas. “Já temos alguns parceiros do IsaClub. A ideia é formar uma comunidade, e que as próprias empreendedoras virem as fornecedoras umas das outras”, destaca Isa.
Neste momento, a empresa também está buscando recursos, tanto para o funding das operações de crédito, quanto para investir no desenvolvimento da tecnologia por trás da plataforma. Para dar o pontapé inicial, a startup tem advisors como Fernando Dias (fundador do The Next Billion e diretor-geral no Brasil da Migo) e Guilherme Parente e Marcelo Monteiro (fundadores da Apptite).
Ao contrário do que você pode ter pensado, IsaPay não é derivado do nome de sua fundadora. A marca é fruto da composição entre Isa (que seria uma espécie de sigla para Instituto das Sociedades Anônimas) e Pay (porque o pagamento do crédito é feito via Pix), conta a empreendedora. O que a fintech quer, mesmo, é que essas sociedades anônimas sejam menos invisíveis. “Estava faltando alguém enxergar essas mulheres e acreditar nelas.”