Há pouco mais de dois anos, a Juros Baixos, marketplace de produtos e serviços financeiros, levantou R$ 3 milhões, a um valuation de R$ 60 milhões, numa captação via equity-crowdfunding concluída em menos de um mês. Agora, a fintech espera captar R$ 1,2 milhão, também por crowdfunding, mas precisou se adequar a um novo momento de mercado — o negócio está sendo avaliado em R$ 15 milhões, portanto, um ‘down round’ de 75%.
Em entrevista ao Finsiders, Guilherme Nasser, CEO e cofundador da Juros Baixos, reconhece o cenário adverso. “Dois anos atrás, era comum que os múltiplos ficassem entre 8x e 14x a receita. Nós, inclusive, fizemos a última captação a um múltiplo de 14x. Agora, as condições de mercado são outras”, diz o empreendedor. Ele cita, ainda, o impacto do quadro macroeconômico, principalmente com efeitos no mercado de crédito.
Apesar disso, a Juros Baixos tem conseguido passar por esse “inverno do crédito” porque melhorou a tecnologia, segundo Guilherme. “Nossa taxa de conversão mais do que triplicou, e fez com que a receita se mantivesse próxima a R$ 4 milhões”, afirma o CEO. “Agora parece que passamos pelo pior cenário macro, e vamos começar um momento de retomada do mercado numa posição ímpar.”
Tokens
Nesse sentido, a fintech abriu na última quinta-feira (5) uma rodada na plataforma de equity-crowdfunding MB Startups, do Mercado Bitcoin (MB). A diferença para a última captação é que agora o contrato de investimento (mútuo conversível) foi tokenizado, o que possibilita aportes a partir de R$ 100. “Além de pessoas físicas, os tokens serão distribuídos para investidores internacionais”, conta Guilherme.
Com as redes de investimento-anjo Urca Angels e Anjos do Brasil como âncoras da captação, até a manhã desta segunda-feira (9), a oferta atraiu mais de R$ 340 mil. Esses investidores se juntarão ao fundo holandês Componendo Capital e à holding SdV Capital, que já fazem parte do captable.
Com os recursos da nova rodada, a fintech vai investir em tecnologia (60%) e marketing (40%). Na primeira área, um dos focos é a abertura de uma API para que empresas com alto número de clientes possam oferecer crédito para suas bases. Esse movimento, inclusive, fará com que a Juros Baixos volte a gerar caixa, depois de meses de ‘cash burn’, segundo Guilherme. “Até o fim do ano, queremos ter as duas primeiras empresas, ambas do setor financeiro, usando nossa API.”
Próximos passos
Ao mesmo tempo, a fintech espera agregar mais 5 instituições parceiras no seu marketplace. Atualmente, são mais de 25 conectadas à plataforma — entre elas, banco BV, Iti (do Itaú), Sim (Santander), Creditas, Provu e Simplic. A base total reúne mais de 3,6 milhões de usuários únicos cadastrados. Desde o início do negócio, a Juros Baixos intermediou mais de R$ 270 milhões em empréstimos.
Já em marketing, a ideia é explorar canais offline, como rádio e TV. Além disso, a fintech aposta em parcerias com redes de atacarejo e shoppings centers para ‘espalhar sua mensagem’. Até hoje, a empresa deu foco para campanhas de marketing digital. “Agora queremos testar canais mais tradicionais, que estão mais segmentados e a metrificação está melhor”, afirma o CEO.
Nos próximos meses, a Juros Baixos também prevê a entrada em novos segmentos, como consignado. “Vamos começar com o convênio do INSS”, diz Guilherme. A empresa estuda também o mercado de consórcio. Já o plano de atuar em financiamento de imóveis, inicialmente previsto para este ano, ficará para o fim de 2024 ou início de 2025. “Tem questões de tecnologia no caso dos créditos destinados à aquisição. Mas continuam no roadmap.”
Fundada em 2016 como um portal de educação financeira, no ano seguinte a Juros Baixos passou a operar como um marketplace de crédito, com foco em empréstimos sem garantia para pessoas físicas. De lá pra cá, a empresa vem ampliando a atuação — em fevereiro deste ano, por exemplo, entrou em seguros com a compra da corretora de seguros Segnos. Nesse mercado, totaliza mais de 20 seguradoras parceiras.