Desde que fundou a Kolek, em agosto de 2022, Murilo Pinheiro percorreu mais de 100 empresas até identificar um perfil de negócio que sempre aparecia em suas “andanças” — os escritórios de contabilidade, com milhares de clientes em carteira e que sofrem com a inadimplência. O próprio contador da empresa, diz ele, passou a utilizar a plataforma da fintech, um software as a service (SaaS) que automatiza a gestão financeira de pequenas e médias empresas (PMEs).
“A partir daí, começamos a dar foco cada vez maior nesse nicho de mercado. O primeiro escritório de contabilidade que passamos a atender, por exemplo, tem 4 mil clientes, e cerca de 10% dessa base estava com valores em aberto. Em 3 meses, conseguimos reduzir em 40% esse montante que esse escritório tinha a receber”, conta o CEO e cofundador da Kolek, em conversa com o Finsiders.
O foco da Kolek são transações B2B, ou seja, negócios feitos entre empresas. “Vemos oportunidade em segmentos com característica parecida ao dos escritórios contábeis, como firmas de advocacia, escolas, empresas de saúde — aquelas que têm recorrência, pagamento alongado e que não trabalham com cartão”, aponta Murilo. “Queremos facilitar para que essas empresas recebam por Pix, que tem custo menor em relação ao boleto, por exemplo.”
Na visão dele, o Pix Automático — que deve ser lançado em abril de 2024 pelo Banco Central — será um impulsionador para a solução construída pela Kolek. “Vejo o Pix Automático substituindo o DDA e o débito automático. Estamos muito próximos das inovações trazidas pelo regulador, e tentando implementá-las no nosso dia a dia.”
Evolução
Nesta fase inicial, a fintech está dedicada à solução de contas a receber, mas a ideia é evoluir a plataforma com outros produtos, como contas a pagar, gestão de fluxo de caixa e acesso a financiamento. “Já começamos a testar o módulo de contas a pagar com um cliente”, diz Murilo. No final do dia, o objetivo da Kolek é colocar as finanças das PMEs no ‘piloto automático’, num só lugar, integrando dados financeiros de ERPs e de bancos via Open Finance.
Com 10 empresas pagantes, incluindo nomes como a plataforma de terapia online Zenklub e o escritório contábil Contjet, a Kolek atinge hoje cerca de 2 mil CNPJs com sua plataforma. “Nossos clientes costumam ter bases grandes de clientes”, explica Murilo. Em junho, a fintech bateu R$ 15 milhões em volume transacionado, crescimento de 50% em relação ao mês anterior.
Segundo o empreendedor, nos últimos meses, a plataforma conseguiu recuperar mais de R$ 800 mil de valores inadimplentes para seus clientes, o que representa uma média de 40% de recuperação sobre o que essas empresas tinham de valores em aberto. “Em julho, vamos atingir a marca de R$ 1 milhão recuperado”, informa Murilo.
Atualmente, a tecnologia se conecta à Omie, software de gestão empresarial na nuvem com mais de 120 mil clientes e mais de 25 mil escritórios contábeis parceiros. O empreendedor diz que tem buscado integrações com outros players do gênero, principalmente “mini-ERPs” em determinados segmentos e nichos. Já para capturar os dados bancários, a fintech utiliza a API da Pluggy, especializada em soluções de Open Finance não regulado para coleta de dados.
Criada por Murilo e pelo filipino Neil David (CTO), a Kolek deu o pontapé inicial no ano passado com um aporte pré-seed feito pela aceleradora e firma de venture capital Antler, de Singapura. O projeto foi um dos sete selecionados entre as mais de 30 iniciativas que nasceram no batch da aceleradora.
Concorrência
As soluções de gestão financeira, especialmente para PMEs, têm crescido, assim como a movimentação de bancos e fintechs para se conectar a ERPs — e vice-versa. A Omie, por exemplo, vem avançando em suas iniciativas de Open Finance e acaba de receber autorização do BC para ser iniciador de pagamentos, conforme revelou o Finsiders na semana passada.
A gigante Totvs, por sua vez, tem uma joint-venture com o Itaú para a Totvs Techfin, cuja operação foi aprovada em junho pelo regulador. Já a Conta Azul também aguarda liberação do BC para operar como uma instituição de pagamento (IP). A também catarinense Asaas se especializou em “facilitar e automatizar” rotinas financeiras para PMEs e pretende encerrar 2023 com receita recorde de R$ 230 milhões.
“No fim do dia, é um mercado muito grande. Atualmente, 4 milhões de empresas não usam sistemas de gestão no Brasil. Para nós, os maiores concorrentes são a planilha e a inércia em mudar como é feito o controle hoje”, avalia Murilo. “A área financeira das empresas tem uma carência grande por soluções tecnológicas.”