Fintech

"Mais do que nunca, Open Finance é extremamente necessário", diz Belvo

Co-CEO Pablo Viguera acredita que modelo trará mais liberdade e prosperidade financeira na atual conjuntura

Open Banking
Foto: Canva

Focada em ajudar fintechs e instituições financeiras com uma plataforma de dados e pagamentos de Open Finance, a fintech Belvo planeja o próximo movimento de sua estratégia. A companhia segue de olho no mercado brasileiro para expandir os negócios e espera se consolidar ainda mais na América Latina por meio de soluções que aliem a praticidade dos meios de pagamento como o Pix à inteligência de dados do Open Finance.

A startup foi fundada no México em 2019 por Pablo Viguera e Oriol Tintoré e em cerca de 1 ano desembarcou em terras brasileiras construindo a infraestrutura tecnológica necessária para players que desejam aderir ao Open Banking. Sua plataforma de APIs permite que as empresas agreguem, padronizem e enriqueçam dados financeiros e movimentem dinheiro entre contas num processo sem fricções para atender melhor seus clientes.

A fintech recebeu o aval do Banco Central em setembro de 2022 para operar como iniciadora de transação de pagamentos (ITP) no escopo de Open Finance regulamentado pela instituição. A licença permitiu que a plataforma oferecesse transferências via Pix de forma unificada entre contas de diferentes instituições. Com isso, a Belvo, que já permitia que instituições financeiras acessassem e interpretassem os dados financeiros de seus usuários, assumiu uma nova postura no mercado brasileiro, atuando diretamente no processo de pagamentos conta a conta.

“Uma coisa no Brasil, mas não necessariamente em outras regiões da América Latina, é um grande incentivo por parte do regulador”, diz Pablo sobre o Banco Central. “Ele está realmente impulsionando a agenda e fazendo com que todos do ecossistema participem do Open Finance, especialmente os grandes bancos. As instituições não só aderem por causa da regulação, mas também para aproveitar as vantagens do sistema e da competição no mercado.”

Pablo Viguera, cofundador e co-CEO da Belvo
Pablo Viguera, cofundador e co-CEO da Belvo (Foto: Divulgação)

De olho nas tendências

As discussões sobre o Open Finance voltaram à tona no último mês, quando o BC editou a Resolução 295. A nova regra desobriga a participação de algumas instituições financeiras no Open Finance, mais especificamente aquelas que não detenham contas de livre movimentação por meio de canais eletrônicos ou que não possuam como clientes pessoal natural, microempreendedor individual, microempresa e empresa de pequeno porte. 

O BC também publicou a Resolução 294, alterando pontos da Resolução 32, que estabelece requisitos técnicos e procedimentos operacionais para a implementação do Open Finance no Brasil. Segundo o órgão, os ajustes de forma e esclarecimentos têm o objetivo de trazer “maior clareza” quanto ao escopo do monitoramento atribuído à Estrutura de Governança responsável pela implementação do Open Finance.

“O Open Finance continuará a se expandir de forma extremamente rápida. O usuário cada vez mais vai perceber o Open Finance não apenas como uma ferramenta para testar um sistema novo de compartilhamento de dados, mas um modelo de mais liberdade e prosperidade financeira”, analisa Pablo ao pensar sobre as tendências do ecossistema nos próximos anos.

Ele aponta grandes avanços relacionados à exportação do Pix para outros países da América Latina. “Há muitas inovações que tornarão o pagamentos de contas no Brasil ainda melhor para todos os participantes. Prevemos algumas funcionalidades muito legais como Pagamentos Recorrentes Variáveis ​​ou Pix Automático, que continuarão a aprimorar a experiência de pagamentos de contas no Brasil”, pontua.

Neste cenário, a companhia planeja se consolidar com ainda mais força na América Latina em 2023. “Um dos produtos que vemos ganhar bastante força é a capacidade de enriquecer os seus próprios dados. Vemos muitos grandes bancos no Brasil se conectando ao Open Finance e extraindo milhões de dados dos usuários, mas sem saber o que fazer com isso”, observa Pablo.

Segundo o executivo, as instituições financeiras contam com parceiros como a Belvo para entender essas informações e gerar insights. “Já estamos trabalhando com vários grandes players no Brasil e criando modelos de aprendizado de máquina, inclusive os insights de decisões de crédito, para realmente ajudá-los a fazer as melhores escolhas”, pontua. A fintech está construindo mais produtos nesse sentido, além de avançar na área de iniciação de pagamentos. “É uma iniciativa grande e acreditamos que há muito impacto a ser gerado. Lançaremos diversos produtos e recursos este ano.”

Mais disputa

A Belvo atua em um campo cada vez mais competitivo, com novos players atacando o mercado de soluções relacionadas ao setor. Em 2022, a Klavi, plataforma SaaS de soluções para Open Finance, captou uma rodada série A de US$ 15 milhões e, meses depois,  concluiu a extensão da rodada com os fundos do Banco BV e da Lojas Renner.

Em fevereiro deste ano, a Celcoin, um dos maiores players do país quando o assunto é infraestrutura para serviços financeiros, adquiriu a Finansystech por R$ 85 milhões. Com a fusão, a Celcoin passou a integrar uma empresa especializada em soluções para conectar players financeiros ao Open Banking por meio de aplicações de iniciação de pagamentos, compartilhamento de dados e gestão de consentimentos.

A Quanto também é uma startup focada no segmento de Open Finance. Em operação desde 2020, a fintech fundada por Ricardo Taveira levantou uma série A de US$ 15 milhões naquele mesmo ano em uma rodada liderada por Bradesco, Itaú Unibanco, Kaszek Ventures e Coatue.

Com outros players entrando na briga, é natural que cada um busque formas de se destacar dos demais. No caso da Belvo, Pablo observa alguns fatores-chave. “Tudo se resume a construir o melhor produto e serviços que os clientes precisam e valorizam”, afirma. Para isso, a empresa quer as melhores pessoas do mercado e vem se esforçando para construir um time de profissionais altamente qualificados. 

“Sempre fomos muito deliberados na contratação, buscando os melhores e mais brilhantes profissionais”, diz o CEO. Cerca de 20% da equipe trabalha de forma remota, o que permite a contratação de talentos globais. O time é composto por 25 nacionalidades e opera em 12 fusos horários. Com os talentos a bordo, a companhia quer cada vez mais endereçar verticais de maior demanda pelos clientes, com soluções relacionadas a dados, segurança e privacidade.

“Destaco também a nossa ambição. Um dos nossos valores é o crescimento constante e outro é a curiosidade insaciável. Isso mostra que temos um plano muito ambicioso nos três países onde atuamos e estamos criando uma plataforma de grande cobertura e ótimo suporte para os clientes”, explica Pablo.

Execução, execução e execução

Em junho de 2021, a Belvo anunciou a captação de uma série A de R$ 225 milhões com a participação de investidores globais como Future Positive, Kibo Ventures e FJLabs. O capital foi utilizado para escalar o produto e sustentar o exponencial crescimento dos negócios. Desde então, muita coisa mudou: o Brasil tornou-se o maior mercado da fintech e ela expandiu os negócios na América Latina, passando a atender mais de 60 instituições financeiras com sua API no México, Brasil e Colômbia e operar com mais de 150 clientes.

“Começamos atendendo principalmente PMEs e fintechs. Há cerca de dois anos, passamos a trabalhar com clientes maiores como bancos, instituições financeiras e grandes empresas de tecnologia. Além disso, entramos na vertical de pagamentos, sendo que antes apenas fornecíamos insights e enriquecimento de dados”, explica Pablo. 

Este mês, a startup lançou no Brasil sua solução de iniciação de pagamentos no escopo do Open Finance. Além de transferir dinheiro entre contas, o produto permite que o usuário comande pagamentos Pix no ambiente de terceiros em um fluxo seguro e com menos fricção do que métodos como o Pix Copia e Cola. “O usuário pode não apenas extrair e interpretar dados, mas usar esse acesso para enviar dinheiro de um banco a outro de forma eficiente. É uma importante alavanca de crescimento para a Belvo que esperamos que continue no futuro.” 

Em 2022, a fintech colocou mais gasolina no tanque e recebeu um cheque adicional, de valor não divulgado, com a Citi Ventures para intensificar seus esforços em Open Banking no continente. Na época, o diretor geral da Belvo no Brasil, Albert Morales, disse que a companhia já estava com uma série B em planejamento, embora estivesse capitalizada com a rodada anterior.

Agora, a conversa é outra: segundo o co-CEO Pablo Viguera, não há planos para fazer a série B tão cedo. “Fizemos a série A, conseguimos o investimento adicional com a Citi Ventures e, no momento, não temos planos para o próximo. Estamos muito focados na execução, em criar ótimos produtos. A próxima rodada não está no nosso curto ou médio prazo”, afirma.

O executivo reconhece que o momento do mercado é sensível. “A situação está complicada para muitas startups e participantes do ecossistema. Na Belvo, tivemos a sorte de levantar uma série A de valor considerável em 2021”, observa. A fintech, aponta Pablo, assumiu uma postura de crescimento cauteloso desde o início. “Temos sido muito cuidadosos em planejar o crescimento e estender o runway o máximo possível, o que nos deu mais flexibilidade do que outras startups que tiveram que enxugar as operações e demitir em massa.”

Da crise, ele também enxerga oportunidades. “É um ótimo momento para agregar valor, porque com a situação macroeconômica as pessoas precisam ter uma visão de risco e nós temos as ferramentas para isso. O Open Finance é um fator-chave para otimizar as decisões de crédito e empréstimo, e pode desempenhar um papel muito importante nesse cenário. Agora, mais do que nunca, o Open Finance não é apenas uma coisa boa de se ter, mas extremamente necessária.”, conclui.