
Muitos anos atrás, Nik Storonsky, CEO e cofundador da Revolut, lavava copos e servia cafés em um Starbucks em Canary Wharf, Londres. Terminava o dia com a roupa impregnada do aroma do café, sem imaginar que, uma década depois, voltaria ao mesmo bairro – não mais como barista, mas liderando a fintech que fundou em julho de 2015, em um pequeno escritório que mal cabia seus primeiros sonhos. Agora, o ciclo se completa: nesta semana, a Revolut inaugurou seu novo HQ global, a poucos metros do pequeno escritório onde tudo começou.
“Estamos comprometidos com o Reino Unido, nosso país de origem, e faremos um investimento significativo, contratando pelo menos mais 1.000 pessoas na região”, afirmou Nik durante o evento de inauguração na última terça-feira (23). A companhia planeja investir 3 bilhões de libras (mais de R$ 21 bilhões) no país, fortalecendo sua posição como o maior banco digital da região e priorizando a licença bancária completa.
O novo prédio reúne três andares dedicados à companhia, com um letreiro chamativo na fachada. São mil colaboradores no Reino Unido, quase todos trabalhando de forma remota, mas agora com um espaço físico de apoio sempre que quiserem ou precisarem. “Nossa prioridade é o Reino Unido, nosso principal mercado, com 12 milhões de clientes, e o foco máximo é ampliar o número de usuários do banco britânico”, pontuou Nik.
O escritório não foi feito para impressionar com truques manjados de startups. Nada de mesas de pingue-pongue, sinuca ou sala de videogames. Há, no entanto, uma academia bem equipada, com pesos variados e bolas para exercícios. O único “clichê” que sobreviveu está na senha do wi-fi: uma daquelas frases motivacionais que, por motivos óbvios, não vou compartilhar aqui.
As salas até são coloridas, mas de maneira sutil: tons pastéis, bege e branco dividem espaço com sofás, mesas e detalhes em preto. Espaços de convivência, salas de reunião e o auditório completam o ambiente, assim como um mezanino que abriga uma cafeteria com água, café e snacks à disposição, além de poltronas e sofás para conversas informais e uma grande mesa redonda.
Rumo ao IPO
O timing da nova sede não poderia ser mais estratégico: chega às vésperas do IPO, mostrando não apenas um espaço físico, mas a ambição de uma década de crescimento, expansão e transformações.
Menos de um ano depois de superar a Klarna como a maior startup da Europa, a Revolut teve seu valuation novamente revisado. Segundo a Schroders, fundo acionista da empresa, a fintech britânica já estava avaliada em US$ 48 bilhões em março de 2025, aproximando-se do Nubank, que no mesmo período tinha uma capitalização de mercado de cerca de US$ 48,2 bilhões.
No início de setembro, o jornal britânico The Guardian informou que a Revolut havia realizado uma venda de ações que elevou seu valuation em dois terços, para US$ 75 bilhões. A transação secundária, que precificou cada ação em US$ 1.381,06, consolidou a posição do aplicativo financeiro como uma das fintechs mais valiosas do mundo.
A venda secundária de ações aconteceu depois que a Revolut registrou um crescimento anual de mais de 150% em 2024, com lucros alcançando £ 1 bilhão, impulsionados pelo aumento de assinaturas e pelas receitas das divisões de gestão de patrimônio e negociação de criptomoedas.
Especialistas do mercado interpretaram o movimento como um indicativo de um IPO iminente – ou como um sinal de que os funcionários, impacientes com a demora da oferta pública, buscam liberar seu capital antes da abertura da empresa na bolsa. No ano passado, o CEO, Nik Storonsky, comentou que, apesar das raízes britânicas, Nova York poderia ser a cidade ideal para o IPO, devido ao ambiente regulatório e ao tamanho do mercado.
O The Guardian destacou que a liderança da Revolut estaria insatisfeita com a lentidão dos reguladores britânicos em conceder à fintech a licença bancária completa, necessária para gerir depósitos de clientes e expandir para produtos mais rentáveis, como empréstimos e hipotecas.
A Revolut ainda não anunciou oficialmente uma data para o IPO. Mesmo assim, seu valor de mercado já supera o do Nubank na época de sua estreia na bolsa de Nova York, em 2021, quando o neobanco brasileiro foi avaliado em US$ 42 bilhões.
Além dos investimentos no Reino Unido, a companhia está destinando US$ 13 bilhões (mais de R$ 75 bilhões) globalmente, com o objetivo de alcançar 100 milhões de usuários até 2027 e expandir sua atuação para mais de 30 novos mercados até 2030.
Durante a inauguração da nova sede, Nik comentou a experiência da Revolut na expansão internacional: “Quando começamos a crescer fora do Reino Unido, tentamos avançar de forma fragmentada, solicitando diferentes licenças e lançando produtos aos poucos. Na prática, isso dificultava o ajuste entre produto e mercado, já que estávamos competindo com bancos locais e, se não oferecíamos produtos melhores, o desempenho e a rentabilidade por usuário não acompanhavam. Por isso, tomamos uma decisão consciente: sempre que entramos em um novo mercado, ou obtemos a licença bancária completa, ou adquirimos um banco já estabelecido.”
Os bancos estabelecidos são, inclusive, os principais concorrentes da fintech em seus novos mercados. Mas, segundo Nik, a Revolut conta com um diferencial competitivo importante: a tecnologia. “Cada banco local não consegue investir nesse nível em tecnologia. Para nós, isso significa inovar e aprimorar nossos produtos constantemente. Mais cedo ou mais tarde, nosso produto será muito superior ao de qualquer banco local em qualquer país. É difícil conseguirem competir com isso”, afirmou.
A jornalista viajou a Londres a convite da Revolut