Fintech

Nascida no Vale, Hyperplane mira Brasil para emplacar IA nos bancos

Com o ex-StartSe Felipe Lamounier entre os fundadores, startup levantou R$ 30 milhões com investidores badalados como Lachy Groom

Hyperplane
Hyperplane. Crédito: Canva

O mercado financeiro está caminhando de uma realidade transacional para um perfil cada vez mais relacional. Com esta visão, Felipe Lamounier justifica os passos dados pela Hyperplane, startup na qual é CEO e que quer levar uma das tendências mais quentes do momento – a de modelos de linguagem em inteligência artificial – para o setor bancário.

Fundada no Vale do Silício em 2021, a companhia fundada por Felipe, juntamente com outros dois brasileiros (Daniel Silva e Felipe Meneses) e o indiano Rohan Ramanath, agora quer encarar o mercado, ancorada em um aporte seed de R$ 30 milhões liderado por um extenso time de investidores gringos e também brasileiros.

Pega a lista: a rodada é puxada pelo ex-executivo da Stripe, Lachy Groom – executivo que tem seu pool de LPs ninguém menos que Sam Altman, CEO da OpenAI. Também estão na rodada os fundos SV Angel, Clocktower Technology Ventures, Liquid2 Ventures, Soma Capital, Latitud, Atman Capital, Crestone VC e Norte.

A Hyperplane é uma empresa ianque, mas o foco a partir do aporte levantado está no Brasil, e isso não é por acaso. “Escolhemos o Brasil como primeiro mercado pois ele é bastante avançado quanto à adoção de novas tecnologias no setor financeiro. É uma arena excelente para vender tecnologia de ponta”, avalia Felipe, em entrevista ao Startups.

Por falar em tecnologia de ponta, Felipe (que é programador de formação e é conhecido do ecossistema brasileiro por ser um dos cofundadores da StartSe) se juntou a profissionais que entendem do riscado para desenvolver seus modelos de linguagem. Daniel era um dos heads do Google Brain, enquanto Rohan era um dos heads na divisão de IA do LinkedIn.

“Fundar a Hyperplane no Vale do Silício não foi uma decisão por acaso, pois é lá onde estão os profissionais e o cenário onde os LLMs de ponta são desenvolvidos”, completa Felipe, fazendo a ponte do Vale com o apetite de inovação que existe no mercado financeiro brasileiro, celeiro onde inovações pioneiras como Pix e Drex estão chamando a atenção lá fora. “É uma tempestade perfeita”, completa.

Premissa e execução

Segundo Felipe, a premissa que norteia a tecnologia da Hyperplane é simples: ajudar bancos a utilizar suas vastas bases de dados. Neste tempo em que a startup esteve em modo “stealth”, ela já colocou seus modelos para rodar, iniciando com três bancos. De acordo com o CEO, este trabalho mais discreto no início serviu para ter bancos como parceiros no desenvolvimento – o que ele chama de “design partners” – e também para preparar a Hyperplane para chegar ao mercado de forma mais robusta.

Contudo, o que começou de forma enxuta rapidamente se ampliou para aproximadamente uma dúzia de instituições aproveitando a tecnologia da companhia, o que resultou em dois produtos: um é o Mandelbrot LLM, um modelo de treinamento preditivo proprietário que pode prever o cliente ideal para um determinado produto ou quais usuários tem um banco como sua instituição principal.

 Felipe Meneses, Rohan Ramanath, Felipe Lamounier and Daniel Silva
Felipe Meneses, Rohan Ramanath, Felipe Lamounier e Daniel Silva, fundadores da Hyperplane (Foto: Divulgação)

Segundo Felipe, a proposta por trás do Mandelbrot é aproveitar todas as possibilidades trazidas pelos dados que os bancos tem sobre seus clientes. “Google ou Facebook tem apenas uma parte do perfil dos usuários. Do ponto de vista financeiro, os bancos tem algo que estas empresas não tem. Se eu entro no site da Porsche, o Google não sabe se eu tenho dinheiro para comprar um carro deles, por exemplo”, pontua.

A Hyperplane afirma que a utilização de seus serviços permitiu à divisão de limite de crédito de um neobanco brasileiro (o nome não foi aberto) aumentar o volume de transações em 46%, por exemplo, ao conseguir ter uma visão mais clara da renda estimada de seus clientes.

O outro produto é a Hyperplane Cloud, plataforma de IA que treina cada parte dos dados internos de uma organização, enriquece-os com gráficos de conhecimento específicos de domínio e permite que desenvolvedores ajustem modelos para produção, customizando a personalização em tempo real, algo que pode contar bastante em um segmento financeiro acirrado como é o brasileiro.

“Qualquer instituição financeira que tem planos de avançar em sua frente relacional, e que quer fazer isso através de multiofertas ou multiprodutos é um cliente em potencial para nós”, explica o CEO, comentando que isso não é mais exclusividade dos bancões.

Olhando para o mercado, a afirmação de Felipe faz todo o sentido. Tanto bancos, quanto fintechs quanto até outras empresas que possuem camadas financeiras em seus portfólios, estão olhando com carinho para o lado da experiência, assim como a melhor forma de combinar diferentes produtos em uma oferta atraente.

Próximos passos

Apesar do Brasil estar no topo da lista a partir do aporte seed anunciado esta semana, o plano da Hyperplane é se firmar como uma empresa global, e aproveitar a posição privilegiada do mercado financeiro brasileiro como trampolim para voos mais altos.

“Somos uma empresa americana, com fundadores brasileiros, e começamos pelo Brasil”, frisa Felipe. Entretanto, a partir do crescimento esperado para o mercado brazuca, o plano da Hyperplane a curto prazo já é o de entrar no segmento bancário nos Estados Unidos, levando embaixo do braço a experiência e os impactos colhidos no mercado brasileiro.

“Devemos anunciar os primeiros clientes nos Estados Unidos ainda no começo de 2024”, finaliza o CEO.