No futuro, “toda empresa será uma fintech”. É uma frase que se ouve com uma certa frequência no meio empreendedor nos últimos anos, especialmente com o crescimento recente do mercado de banking-as-a-service. Entretanto, como ficam nessa história todas as outras fintechs, em especialmente as de pagamento? Na visão de Wagner Ruiz, cofundador e CEO do Ebanx, é hora de trazer coisas novas para a mesa.
“Só lidar com pagamentos virou commodity. E aí você precisa ter alguma coisa a mais que o serviço de pagamento”, disparou Wagner, em painel realizado na Semana Caldeira, em Porto Alegre.
Para o executivo, é um movimento natural do mercado ver mais empresas se envolvendo mais com produtos financeiros, adicionando mais camadas e serviços desse tipo em suas soluções. Entretanto, para ele, isso não quer dizer que vai diminuir os negócios para companhias como o Ebanx.
“Vemos mais merchants querendo participar desse segmento, e daí pagamento se torna uma questão de custo. Quando eu falo com a Amazon, eu não dou o preço, ela me diz quanto quer pagar. Mas, ao mesmo tempo, ela me fala que não consegue ir sozinha para a Colômbia, Chile, México. Daí vamos nós e fazemos isso pra eles. É um espaço que ocupamos e dá pra explorar”, explica.
A fala do cofundador do Ebanx se alinha com recentes movimentos da companhia, que dobrou a sua aposta em seus produtos de pagamento cross-border. No fim do ano passado, fintech brasileira levou seus negócios para mais 8 países da África, Índia e outros 2 na região das Américas e Caribe.
Além disso, a fintech anunciou este ano uma parceria com o Nubank para oferecer o NuPay como método de pagamento alternativo para compras internacionais.
Nem todo mundo consegue ser fintech
Rodrigo Tognini, cofundador e CEO da Conta Simples, reforçou o coro durante o painel. Segundo ele, apesar de todas a “falação” de BaaS e de que mais empresas poderão se tornar fintechs com serviços de embedded finance, não é um trabalho fácil de fazer.
Ele deu o exemplo da Apple, que lançou com o Goldman Sachs o Apple Card, uma tentativa de entrar em pagamentos físicos aproveitando o seu grande ecossistema de usuários. Entretanto, o produto acabou não obtendo a tração esperada e foi descontinuado no fim do ano passado.
“Eles não conseguiram achar veia, margem, monetização, e a tese ali era maravilhosa, pois todo mundo que tem um iPhone poderia ter um cartão junto ali, a Apple queria virar um banco. Mas eles não conseguiram”, destacou Rodrigo.
Para o CEO da Conta Simples, que começou como uma empresa de pagamentos corporativos, mas que nos últimos anos tem expandido seu leque de soluções para adicionar mais camadas de gestão – recebendo inclusive aportes para isso – adicionar produtos financeiros (o que é oferecido pelos players de BaaS) é apenas uma parte do processo, mas o diferencial ficará na experiência e no grau de especificidade entregue nas soluções.
“Por mais que no mercado, todo mundo queira ser fintech, ou fintech queira ser marketplace, no final do dia, vai ter o core, quem sabe focar naquele core e fazer bem feito aquele core vai continuar tendo vantagens competitivas. Não vejo a Amazon fazendo a wallet deles, ou assim, sendo melhor do que quem faz só aquilo. A minha visão ainda é que a especificidade e o foco no core traz a vantagem competitiva a médio e longo prazo”, avalia Rodrigo.
“O nosso sistema financeiro no Brasil está tão evoluído que o resultado da evolução era a comoditização disso. E aí, novas coisas vão acontecer. Mas eu não tenho muito medo dos outros (adotando serviços financeiros), porque assim, se a gente não consegue fazer duas coisas, três coisas ao mesmo tempo, imagina eles”, finaliza Wagner.