Em meio a uma forte concorrência na arena de infraestrutura tecnológica para serviços financeiros, a Pomelo definiu sua “arma” para disputar uma fatia desse mercado: o foco em cartões. A fintech fundada em Buenos Aires (Argentina) e presente em outros quatro países latinos além do Brasil chegou a ter um negócio de contas digitais, mas optou por priorizar a infra de cartões de crédito, débito e pré-pagos.
“Temos a estrutura de emissão, processamento e gestão de cartões, assim como um relacionamento regional com Visa e Mastercard. O foco específico em cartão nos permite uma vantagem competitiva. A grande oportunidade no Brasil está no crédito”, afirma Rafael Goulart (foto), country manager da Pomelo no país, em entrevista ao Finsiders Brasil.
A estratégia, aliás, coincide com a chegada do executivo, há cerca de seis meses. Com uma trajetória de 14 anos na Tivit, Rafael atuou por outros quatro anos e meio na CSU Digital (antiga CSU CardSystem) e teve uma passagem pela RPE – Retail Payment Ecosystem. À frente da operação da Pomelo no Brasil, seu desafio é aumentar a receita e a base de clientes por aqui. “Nosso foco no primeiro trimestre é implantar os clientes que já foram vendidos.”
Para dar sequência aos planos de crescimento, a fintech está capitalizada. Há um mês, levantou US$ 40 milhões em uma rodada Série B liderada pelo Kaszek. Desde a fundação, três anos atrás, foram US$ 103 milhões em investimentos. Do cheque mais recente, mais da metade dos recursos irá para o negócio no Brasil.
De olho no breakeven
Com mais de uma centena de clientes nos seis mercados onde atua, a fintech tem o Brasil como seu maior mercado — hoje, 35% da sua receita é proveniente de empresas que atende em solo brazuca. “Em 2024, nossa previsão é aumentar em 75% o volume de novos clientes e dobrar a receita”, projeta Rafael. “Em meados do ano que vem, vamos atingir o breakeven [equilíbrio financeiro].”
Um dos “alvos” da Pomelo são as instituições financeiras tradicionais. A expectativa é avançar principalmente sobre bancos brasileiros de varejo. “Estamos sendo vistos como uma espécie de incubadora, um acelerador de novos produtos para bancos incumbentes. Com nossa tecnologia, essas instituições conseguem lançar soluções para determinados nichos, sem precisar fazer dentro de casa e reduzindo o time to market”, define Rafael.
Tokenização e crédito no Pix
Além de ampliar o portfólio de clientes, a Pomelo trabalha em novas funcionalidades que podem permear um cartão de crédito. Por estratégia, o executivo não abre detalhes a respeito das novas soluções, mas fala em um “produto de crédito acessório” ao limite do cartão. De acordo com ele, a ideia é oferecer alternativas para os emissores rentabilizarem seus cartões, em meio à redução dos juros no rotativo.
O roadmap da fintech, inclusive, está direcionado mais para o crédito do que para o transacional. Nesse sentido, Rafael diz que a Pomelo está olhando de perto toda a evolução da tecnologia de tokenização. “Nosso objetivo é expandir o crédito dentro do cartão. Temos exemplos de clientes que geram crédito colateralizado em safra, cripto e investimentos. E muitos deles rodam em blockchain.”
Fundada no começo de 2021 em Buenos Aires, a Pomelo chegou ao Brasil em outubro daquele ano. Há cerca de um ano, recebeu autorização do Banco Central (BC) para operar como uma instituição de pagamento (IP). A empresa tem licença para atuar tanto como emissor de moeda eletrônica (pode gerir contas de pagamento pré-pagas) quanto de instrumento de pagamento pós-pago (cartão de crédito).
Sobre a agenda evolutiva do Pix, inclusive com mecanismos de crédito nesse trilho, Rafael enxerga espaço para uma convivência entre os diferentes métodos de pagamento. “Somos focados em emissores de crédito. Acreditamos no crédito independentemente do canal. Já somos participantes indiretos no Pix e estamos acompanhando de perto a evolução do Pix Garantido.”
Competição
Como foi citado lá no começo do texto, a disputa é acirrada em infra para serviços financeiros. Em processamento de cartões, por exemplo, um dos grandes nomes é a Dock, que processa mais de US$ 240 bilhões por ano. Outro player forte é a Pismo, comprada pela Visa.
Com duas aquisições (Sinqia e paySmart) em menos de um ano, a porto-riquenha Evertec também está com apetite para crescer no mercado brasileiro. E com foco em crédito, a lista inclui empresas como Celcoin, QI Tech, Vórtx, entre outras.