
Abrir capital é difícil, mas manter uma trajetória de crescimento e relevância após o IPO, é ainda mais desafiador. Depois de realizar sua oferta pública inicial de ações em setembro, porém, a Klarna pode estar no caminho certo. Em sua primeira divulgação de resultados financeiros aos acionistas, a fintech sueca de buy now, pay later (BNPL) registrou receita de US$ 903 milhões no segundo trimestre, superando a estimativa dos analistas de US$ 882 milhões. Para 2026, a companhia prepara novidades. Entre elas, o lançamento de uma stablecoin lastreada em dólar, chamada de KlarnaUSD.
A aposta faz parte da estratégia da empresa para diversificar receitas e ampliar sua presença no ecossistema global de pagamentos digitais. Ainda em fase de testes, a stablecoin será emitida na blockchain Tempo, uma rede desenvolvida pela Stripe em parceria com a Paradigm. A expectativa da companhia é que a nova moeda sirva tanto para transações do dia a dia dentro do aplicativo quanto para operações transfronteiriças, um ponto crítico para a base de usuários da fintech, hoje espalhada por mais de 40 países.
Para o trimestre atual, a fintech projeta receita próxima de US$ 1,07 bilhão, sinalizando confiança de que o ritmo de crescimento será mantido mesmo em um ambiente competitivo e cada vez mais pressionado por players como PayPal, Apple, Stripe e bancos tradicionais que avançam em BNPL e soluções digitais.
“O terceiro trimestre foi o nosso melhor trimestre de todos os tempos — uma prova de que nosso modelo baseado em IA está funcionando em escala, com a receita nos EUA subindo 51% e o GMV aumentando 43%. O Klarna Card decolou, com 4 milhões de adesões em quatro meses, e o Fair Financing continua ganhando participação de mercado. Embora o momento contábil crie um atraso de lucratividade no curto prazo, esperamos que os dólares de margem de transação aumentem em mais de US$ 100 milhões no quarto trimestre à medida que a receita se acumula”, disse o CEO Sebastian Siemiatkowski, por meio de nota.
Apesar do forte crescimento, a Klarna ainda enfrenta desafios. A companhia registrou prejuízo líquido de cerca de US$ 95 milhões no segundo trimestre deste ano — uma reversão em relação ao lucro do ano anterior. A empresa atribuiu parte da queda à adaptação às normas contábeis norte-americanas após o IPO, além de investimentos contínuos em tecnologia e expansão internacional. Ainda assim, a direção reafirma que a prioridade é acelerar ganhos de eficiência e ampliar margens ao longo de 2026.
A ação da Klarna no IPO (oferta pública inicial) foi precificada em US$ 40 por ação. Atualmente, no entanto, os papéis estão negociados a US$ 29,30.
Em entrevista à Reuters, o CEO afirmou que o avanço em inteligência artificial tem desempenhado um papel central na estratégia pós-IPO. Segundo ele, ferramentas de IA vêm reduzindo custos operacionais e encurtando ciclos de desenvolvimento de novos produtos, ao mesmo tempo em que ampliam a capacidade da fintech de personalizar ofertas para diferentes mercados.
A entrada no setor de ativos digitais marca uma guinada relevante para a Klarna, que historicamente se manteve distante do universo cripto. A mudança ocorre em um momento em que o setor vive uma onda de novas regulações — como o GENIUS Act nos Estados Unidos e o MiCA na União Europeia — que dão mais previsibilidade jurídica a empresas dispostas a operar com stablecoins. Para analistas, isso abre espaço para que iniciativas corporativas ganhem terreno frente a projetos descentralizados.
Com o lançamento da KlarnaUSD, a empresa pretende não só oferecer uma alternativa mais barata e rápida ao sistema bancário tradicional, como também fortalecer seu ecossistema. A moeda poderá ser usada por parceiros comerciais, consumidores e desenvolvedores interessados em integrar novas funcionalidades à plataforma.