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Revolut quer "ser o Pix do mundo" e acirrar briga com Nubank

Fintech tem a meta de chegar a 100 milhões de clientes até 2027 e ampliar presença para mais de 30 mercados até 2030

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Revolut é o maior banco digital do Reino Unido. Foto: Divulgação
Revolut é o maior banco digital do Reino Unido. Foto: Divulgação

A Revolut desembarcou no Brasil em maio de 2023 oferecendo apenas conta internacional e transações em cripto, mas desde então tem avançado de forma estratégica em um mercado dominado por gigantes como o Nubank. Agora, o maior banco digital do Reino Unido quer subir de nível: a fintech anunciou que superou 65 milhões de clientes no mundo, sendo 12 milhões só no país de origem, e traçou a meta de alcançar 100 milhões até 2027, além de expandir sua atuação para mais de 30 novos mercados até 2030.

“Estamos nos posicionando para ser o Venmo ou o Pix do mundo”, disse Ignacio Zunzunegui, head de growth da Revolut para o sul da Europa, em café com a imprensa nesta terça-feira (23). Segundo o executivo, a presença global da companhia tende a ser tão relevante nos próximos anos que enviar dinheiro para o exterior deverá ser tão simples quanto fazer um pix, sem a demora típica das transferências internacionais, que hoje podem levar de um a vários dias úteis para serem concluídas.

“Você pode enviar dinheiro automaticamente entre países em questão de segundos, seja do Brasil para Portugal, ou de um amigo no México para outro em Singapura, e assim por diante. Essa é uma abordagem importante da Revolut para o nosso produto e o motivo pelo qual os verdadeiros efeitos de rede estão apenas começando”, afirmou Ignacio.

Para sustentar sua expansão, a fintech planeja investir US$ 13 bilhões nos próximos cinco anos. Esse montante será direcionado tanto a mercados já consolidados quanto a regiões em rápido crescimento, incluindo US$ 4 bilhões no Reino Unido, US$ 1,2 bilhão no hub europeu da França e US$ 500 milhões para acelerar suas operações nos EUA. Os recursos também vão impulsionar o crescimento em outros mercados europeus e apoiar lançamentos em novas regiões na América Latina, Ásia-Pacífico e Oriente Médio.

O head de growth da Revolut para o sul da Europa destacou que a companhia está construindo algo muito além da atuação em um único país. “É claro que buscamos conquistar clientes em cada mercado onde operamos, mas nossa principal vantagem é oferecer uma solução financeira global. O grande diferencial será o efeito de rede que teremos por estarmos presentes em vários mercados ao mesmo tempo. Estamos convencidos de que essa presença global criará um network effect que nenhum outro player poderá replicar”, afirmou.

Como parte desse movimento, a fintech inaugurou hoje sua nova sede global em Canary Wharf, Londres. A iniciativa reforça suas raízes no Reino Unido e a ambição de se tornar a principal provedora de serviços financeiros do mundo.

O que muda para o Brasil

A Revolut entrou no Brasil com a licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD). “Na nossa visão, essa é uma versão simplificada de um banco, em que a única limitação é não poder alavancar depósitos”, explicou Glauber Mota, CEO da Revolut no país. “Precisamos cumprir várias exigências, liderando com riscos, compliance, investimentos, finanças e regulatório de um banco. Dessa forma, conseguimos equilibrar melhor o risco de crédito e as operações de transações, tornando nossas estimativas e frameworks mais lineares. Com tudo isso, conseguimos provar nosso modelo no mercado”, pontuou.

Por aqui, a Revolut começou com os serviços cross-border e, em seguida, complementou o portfólio com produtos locais, como Pix, boletos e pagamentos do dia a dia. “Agora, estamos avançando para uma oferta completa, trazendo investimentos, crédito e outros produtos que já estabelecemos fora do Brasil”, destacou Glauber.

O CEO no Brasil considera um “passo natural” avançar para uma licença bancária completa. “Estamos à frente do planejado, pois já estamos estabelecidos e crescendo. Em breve, vamos nos tornar um Banco Múltiplo, que combina operações de banco comercial, banco de investimento e uma autorização completa. Esse é o caminho que melhor nos permite alcançar nossa ambição”, explicou Glauber.

A fintech espera expandir sua vertical para empresas – o Revolut Business – no país. A modalidade atingiu US$ 1 bilhão em receita anual global e já processa mais de 4 mil pagamentos mensais para comerciantes. “O playbook da Revolut determina que comecemos primeiro com o B2C, e foi o que fizemos”, disse o executivo. Ele revelou já estar testando a funcionalidade com um pequeno grupo de parceiros e espera ter novidades de lançamento até 2026.

Com o Brasil bem encaminhado, a expectativa é iniciar operações no México ainda este ano, enquanto a companhia mantém planos avançados para entrar na Colômbia e na Argentina. 

Briga de gigantes

Agustin Danza, CEO da Revolut na Argentina, conhece bem o mercado latino-americano, assim como seu principal concorrente nessa jornada. Ex-diretor de operações do Nubank e ex-head de banking e operações do Mercado Pago, o executivo identifica diferenciais competitivos importantes que podem ajudar o banco inglês a se destacar frente aos demais.

“A Revolut tem uma visão de valor bastante completa. O usuário geralmente precisa lidar com vários serviços – alguns apps para investir, outras instituições para pagamentos, guardar dinheiro, ou para criptomoedas – e isso torna tudo mais complexo. A Revolut resolve esse problema oferecendo um produto de alto valor com uma experiência muito simples, tudo em um único lugar. Esse é o primeiro diferencial: a visão completa da Revolut, que já supera o Nubank em número de produtos”, afirmou.

Augustin também destacou a presença global do banco digital britânico, enquanto o roxinho opera atualmente em três países da América Latina – principalmente no Brasil, mas também no México e na Colômbia. “Os mercados da Revolut interagem entre si e, embora respeitemos os concorrentes e reconheçamos a amplitude e o impacto que eles geram, acredito que estamos em uma posição muito mais completa, capaz de atender melhor às demandas dos clientes”, completou.

Glauber Mota, CEO da Revolut no Brasil, traçou um contraste entre a abordagem da fintech britânica e a do Nubank na América Latina. Segundo ele, é preciso avaliar se as empresas realmente estão competindo “no mesmo tempo” e explica que, embora no longo prazo todos acabem disputando o mesmo público, ainda existe um caminho a percorrer.

“O Nubank começou com o cartão de crédito como porta de entrada, oferecendo inclusão financeira a quem não tinha acesso, e depois adicionou a conta e outros produtos, tudo focado em crédito. Mesmo quando expandem para operações cross-border, muitas vezes fazem parcerias em vez de construir a solução internamente. Hoje, eles têm cerca de 120 milhões de clientes, sendo mais de 100 milhões no Brasil, o que representa um mercado enorme – e também complexo, porque envolve balanço, crédito e volatilidade de preços. Não é o que o Revolut oferece; para nós, o crédito é mais um desvio estratégico do que o foco principal”, afirmou.

Para Glauber, a estratégia da Revolut segue um caminho diferente: “Primeiro provamos nossos produtos sem entrar no crédito, crescemos e nos estabelecemos em várias regiões, enquanto eles permanecem muito centrados no crédito e olhando para o Brasil (agora com expansão para mais dois mercados)” A estratégia também é diferente: eles têm 700 pessoas na Colômbia, o que é impressionante, mas para nós o tamanho seria cerca de 10% disso, porque é assim que operamos”.

A jornalista viajou a Londres a convite da Revolut