Mesmo em meio às constantes declarações de que o embedded finance é uma das tendências para o futuro, até as fintechs de banking-as-a-service podem afundar. E no caso da há pouco tempo badalada empresa de BaaS Synapse, se trata de uma implosão. Em meio ao seu processo de recuperação judicial nos EUA (o temido Chapter 11), a fintech norte-americana vive uma crise de proporções grandes.
Segundo reportou o TechCrunch no fim de semana, por se tratar de uma fintech que atende outras fintechs e empresas com seus serviços bancários, a derrocada da Synapse está afetando diretamente outras empresas.
Entretanto, no momento o foco da Synapse não é o de atender a demanda dos clientes, e sim evitar a liquidação completa de seus ativos. De acordo com fontes ligadas à empresa, este é um quadro muito provável. Procurado pelo portal norte-americano, o CEO da Synapse, Sankaet Pathak, não quis responder sobre a situação.
O ruim disso tudo é que, se a Synapse de fato falir – o chamado Chapter 7 na legislação gringa – quem vai pagar boa parte da conta serão as empresas que usam os seus serviços – são mais de 100, segundo fontes de mercado.
No Brasil, a empresa anunciou sua chegada em 2022, focada em expandir a base de clientes para o seu serviço de conta global. Na época, a fintech tinha como um de seus principais clientes a Nomad. Mas ela encerrou a contratação de serviços. No Banco Inter, a Synapse ainda é mencionada como provedora do cartão de débito da Global Account. Procurado pela reportagem do Startups, o Banco Inter não respondeu até o fechamento desta matéria. As informações serão atualizadas caso a companhia se manifeste.
Já a Nomad afirmou em nota que encerrou em janeiro deste ano o vínculo com a Synapse, e com isso o fato ocorrido não apresentou nenhum tipo de risco para a carteira de clientes. “A mudança foi uma uma decisão estratégica, que já fazia parte do roadmap de tecnologia da Nomad desde 2022. O processo de migração foi realizado de forma gradativa, sem qualquer intercorrência. Com a mudança, a Nomad passou a trabalhar com novos parceiros para o processamento de contas, custódia dos ativos, bandeira do cartão, além de internalizar alguns processos que eram realizados pela Synapse”, afirmou a fintech em nota enviada à reportagem.
A decisão da Nomad pode ser um reflexo dos sintomas duvidosos que a Synapse vinha apresentando já no ano passado. Em outubro, a companhia cortou 40% do seu quadro de colaboradores, resultado da perda do contrato com uma de suas maiores fintechs, a Mercury, que preferiu trabalhar com outro banco, o Evolve Bank and Trust.
Inclusive, com o revés financeiro, a companhia foi acusada de não pagar as rescisões dos 86 funcionários dispensados, e dois dos investidores da empresa, CoreVC e a16z, ofereceram-se para colocar funcionários em cargos em outras empresas do portfólio. Durante a sua vida, a empresa levantou mais de US$ 50 milhões em aportes.
Fintechs afetadas
Lá fora, um exemplo notável de como a situação da Synapse é grave vem da fintech Copper, de contas bancárias para adolescentes, que teve que descontinuar abruptamente seus serviços de depósito e cartões de débito. Para completar, o problema deixou seus consumidores, na sua maioria famílias, sem acesso aos fundos que depositaram com confiança nas contas do Copper.
Ainda com parte de sua operação em andamento, agora a Copper está na busca por um novo parceiro de BaaS, e está disposta a fazer isso com bancos americanos de maior dimensão, um movimento parecido com o que a Mercury fez.
A Mainvest, fintech de crédito para restaurantes, se viu obrigada e encerrar operações como resultado da bagunça na Synapse, e um número não divulgado de funcionários foi dispensado. No seu site, a empresa afirmou: “Infelizmente, depois de explorar todas as alternativas disponíveis, uma combinação de fatores internos e externos levou-nos à difícil decisão de terminar operações da Mainvest e dissolver a empresa”.
Lições e impactos
Com base nos registros da Synapse, cerca de 100 fintechs estão sob risco com a queda da companhia – e segundo o analista do Fintech Business Weekly, Jason Mikula, o impacto negativo é sério e de longo prazo. “O que aconteceu na Synapse será significativo em todas as fintechs, especialmente nos serviços voltados ao consumidor”, disse Mikula ao TechCrunch.
Para analistas, este caso negativo poderá fazer bancos (grandes ou fintechs) serem mais relutantes em trabalhar com players de BaaS, preferindo estabelecer relações diretas com players grandes e mais sólidos – tipo o que a Copper quer fazer.
Para o Gartner, a crise da Synapse representa um aviso para todas as fintechs de BaaS, e isso vale para além do mercado norte-americano. “O caso da Synapse mostra a necessidade das fintechs manterem elevados padrões operacionais e de compliance. Como intermediários, devem garantir a manutenção precisa de registos financeiros e operações transparentes”.