A Syngenta, uma das companhias líderes em defensivos agrícolas, resolveu entrar na onda da ‘fintechzação’ e acaba de lançar a Syde, uma plataforma financeira que começa oferecendo uma conta digital e uma espécie de “marketplace” que conecta produtores rurais a instituições parceiras, como bancos e fintechs. Entre os próximos passos estão a oferta de uma ferramenta de contas a pagar, além de produtos como cartão de crédito, seguros e investimentos.
“A intenção é ser um hub para resolver a vida financeira do produtor e conectar o ecossistema”, diz Fabio Neufeld, head de soluções financeiras da Syngenta, em conversa com o Finsiders.
Quando fala sobre ecossistema, ele se refere aos clientes da multinacional, que são as revendas e cooperativas. É por meio dessas empresas que os agricultores normalmente têm acesso a crédito. “Queremos tornar a cadeia inteira mais saudável.”
A Syde nasce com mais de R$ 1 bilhão em linhas de crédito. De largada, estão plugados à plataforma três parceiros — o banco Itaú e as agfintechs Farm e AL5 Bank, a financeira da Amaggi, produtora de grãos e fibras.
A companhia também está na fase final de assinatura de contrato com mais um grande banco, cujo nome ainda não pode ser revelado. Sem abrir números ou expectativas, o executivo afirma estar com uma “fila” de agfintechs de crédito para conectar no hub.
Já por meio da conta digital, é possível fazer transações básicas como transferências, TED, pagamento de boletos e consulta de extrato. “Vamos lançar Pix nas próximas semanas”, conta Fabio. “Ao redor dessa conta, vamos incluir outras funcionalidades”, diz ele. Para operacionalizar os serviços, a Syngenta utiliza as soluções de banking as a service (BaaS) da QI Tech.
Como a proposta da fintech é conectar as pontas, a Syngenta não participa do risco de crédito nas operações que ocorrerem por meio da Syde. “Nosso trabalho é originar e fazer a ponte entre produtores e agentes financeiros”, enfatiza Fabio, que chegou à multinacional agrícola há cerca de um ano, depois de uma passagem pelo Banco ABC Brasil e de ter fundado, em 2017, a fintech de empréstimo peer-to-peer Kavod Lending.
Questionado, o executivo não descarta que a empresa possa também assumir o risco de crédito no futuro. Nos últimos anos, a própria Syngenta tem ampliado sua atuação no mercado de capitais. Em 2022, a companhia somou R$ 6 bilhões em operações estruturadas, incluindo Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). Para se ter uma ideia, esse volume é superior ao montante total de emissões (R$ 5,5 bilhões) feitas entre 2011 e 2021.
Evolução
Enquanto testa a Syde em um piloto com apenas cinco revendas, a Syngenta já desenha, num ritmo cadenciado, a expansão da solução para todo o ecossistema, um plano que ainda não tem data. “Não queremos escalar atropelando nada. Vamos fazer ‘beta 1’ por 3 ou 4 meses, depois ‘beta’ 2. A ideia é tornar a experiência do usuário muito boa”, diz Fabio.
O crédito é a principal solução na plataforma, mas há outros produtos e serviços previstos para os próximos meses. Um deles é um portal de contas a pagar, que deverá ter sua primeira versão lançada até o fim de maio. Outra funcionalidade planejada é a conexão da conta com a plataforma de benefícios da Syngenta, a Acessa Agro. “Num futuro próximo, a intenção é dar pontos pela utilização da conta”, exemplifica Fabio.
Neste ano, a empresa também prevê criar uma área dentro da plataforma com outros serviços, como a gestão de risco de crédito, que serão oferecidos por parceiros. A companhia está na fase final para assinatura de uma prova de conceito (PoC, na sigla em inglês) com uma insurtech que tem atuação focada no agronegócio, revela Fabio.
“Estamos olhando, ainda, para uma solução de cartões. Gostaríamos de ter um cartão de crédito pós-pago co-branded para gastos do dia a dia, e que gere pontos no Acessa Agro.”
No final das contas, o principal objetivo da Syde é ser um parceiro financeiro do agricultor, ou seja, estar ao seu “lado” — o nome Syde, inclusive, é uma adaptação da palavra em inglês “side”.
Mercado
Dada a relevância do agronegócio no país, é de se esperar que diversos players também queiram estar ao “lado” dos produtores, em especial os de pequeno e médio porte, que têm mais dificuldade para acessar crédito. A necessidade de recursos é forte, e os desembolsos previstos no Plano Safra não dão conta dessa demanda, o que vem impulsionando modalidades alternativas, com uma participação crescente do mercado de capitais.
A fintech Agrolend, por exemplo, acaba de receber a licença de financeira e projeta uma carteira de crédito de R$ 2 bilhões na safra 2023/2024. Com isso, a empresa poderá emitir papéis como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e, assim, distribuí-los em plataformas de investimento.
Outras fintechs como A de Agro, Bart Digital, Nagro, TerraMagna e Traive também oferecem soluções de crédito, além de gestão e monitoramento de garantias agrícolas.