Alguma hora isso teria que a acontecer. Depois de diversos semestres de retração global, a primeira metade de 2025 registrou os índices mais altos de investimento em fintechs em muito tempo. Entretanto, conforme apontam os números divulgados pelo Crunchbase, eles ainda estão distantes dos tempos fartos de 2020 e 2021.
De acordo com o Crunchbase, startups de tecnologia financeira levantaram US$ 22 bilhões no primeiro semestre, um aumento de 11% em relação à segunda metade de 2024 e 5,3% acima dos US$ 20,9 bilhões captados no primeiro semestre do ano passado. É o melhor índice desde o primeiro semestre de 2023, quando o total levantado globalmente por estas startups foi de US$ 27 bilhões.
Entretanto, essa média de valores perde feio para o pico registrado pelo mercado em 2021, quando apenas no primeiro semestre foram investidos US$ 68,7 bilhões. Os números de 2025 estão abaixo, inclusive, dos tempos pré-pandêmicos. Fintechs levantaram um total combinado de US$ 40,3 bilhões no primeiro semestre de 2018, US$ 25,4 bilhões no primeiro semestre de 2019 e US$ 26,3 bilhões no primeiro semestre de 2020.
Se os valores subiram, no lado do deal flow o mesmo não aconteceu – ou seja, menos rodadas com cheques maiores. Foram 1.805 negócios concluídos no primeiro semestre do ano, uma queda de 31,4% em relação aos mais de 2.633 fechados no primeiro semestre de 2024 e uma leve redução de 10,2% em comparação aos mais de 2.000 anunciados no segundo semestre do ano passado.
Ao todo, houve mais de três dezenas de rodadas no setor de fintechs que ultrapassaram os US$ 100 milhões no primeiro semestre de 2025. A exchange de criptomoedas Binance foi a que mais levantou recursos, foram US$ 2 bilhões levantados em um rodada liderada pela MGX em março. Outros destaques foram US$ 575 milhões captados pela Plaid (de infraestrutura financeira) em abril, e US$ 500 milhões levantados pela Rapyd, plataforma britânica de pagamentos, também em março.
Outro indicativo de reação no mercado de fintechs foram a volta dos IPOs. Desde o começo do ano, nomes como a player de infraestrutura Circle e o neobanco Chime tiveram aberturas animadoras na bolsa, enquanto outros nomes como a Wealthfront (de gestão de investimentos) e Gemini (exchange de cripto) resolveram encaminhar seus papeis para abrir seu capital em breve.
Por outro lado, nem tudo são flores. Um dos IPOs mais esperados no mercado de fintechs, a Klarna chegou a registrar o pedido na Bolsa de Nova York, mas recentemente colocou o plano “de molho”, mostrando preocupações com a atual política tarifária do presidente norte-americano Donald Trump.
Dos investidores gringos, a QED Investors – especializada em fintechs e que aqui no Brasil aportou no Nubank – ficou no topo do ranking de investidores que lideraram ou co-lideraram rodadas acima de US$ 5 milhões em fintechs no primeiro semestre de 2025.
“Há uma verdadeira sensação de retomada do ritmo, especialmente em infraestrutura B2B, fintechs nativas de IA e serviços financeiros alinhados com questões climáticas”, disse Camila Vieira, da QED, ao Crunchbase News. “O mercado parece mais sólido, e os fundadores estão construindo com fundamentos mais fortes desde o início.”