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Foodtech brasileira capta € 350 mil com investidora belga 

Typcal transforma resíduos do processo cervejeiro em insumo e acelera expansão para a Europa com abertura de unidade na Bélgica

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Paulo Ibri, CEO da Typcal e Eduardo Sydney, CTO da Typcal. Crédito imagem: Divulgação/Typcal
Paulo Ibri, CEO da Typcal e Eduardo Sydney, CTO da Typcal. Crédito imagem: Divulgação/Typcal

A Typcal, foodtech brasileira que transforma resíduos da produção de cerveja em insumo para criar ingredientes ricos em proteínas e fibras, deu o primeiro passo na sua expansão internacional. E foi justamente na terra da cerveja: a Bélgica. A startup acaba de receber um aporte de € 350 mil da incubadora Biotope, onde já vinha sendo acelerada.

Os recursos serão usados para expandir o parque fabril para a Europa, na cidade de Ghent, na região da Flandres, na Bélgica. Além disso, o aporte vai contribuir para pesquisa e desenvolvimento do produto na Europa, assim como vendas e distribuição local.

Paralelamente, a Typcal planeja a inauguração de uma fábrica em Curitiba, prevista para novembro deste ano, e a estruturação de uma rodada Série A para ampliar sua escala industrial e time no Brasil.

A foodtech atua na produção de ingredientes à base de micélio, que é a raiz de um fungo. Atualmente, a startup possui a patente da tecnologia usada no seu processo de fermentação, que garante mais rapidez que os processos convencionais.

Paulo Ibri, CEO da Typcal, conta em entrevista ao Startups que a empresa é uma das únicas do mundo a oferecer uma plataforma de ingredientes à base de micélio. São quatro produtos no portfólio oferecido pela startup. Dois já estão em fase de comercialização: o micélio fresco e congelado (para a indústria de carne à base de plantas) e o micélio em pó (para a produção de snacks saudáveis, pães, bolos e massas). Na versão em pó, o ingrediente garante 45% de proteína e 35% de fibra, segundo a startup.

Em fase final de desenvolvimento está uma proteína concentrada, para substituir o whey protein, que possui 70% de proteína e é neutra em sabor. Para se ter uma ideia, o whey protein tradicional, à base de proteína do leite, possui cerca de 20% de proteína por porção.

E o desenvolvimento mais recente é o micélio em gel, que pode ser usado como agente emulsificante natural para iogurtes, sorvetes e geleias. Entre as vantagens do ingrediente em termos nutricionais está a alta concentração de fibras.

“A gente não se posiciona como uma empresa vegana, mas os ingredientes são veganos por origem. Vivemos um movimento forte de incentivo ao consumo de proteína, que vai continuar crescendo, mas a próxima onda são as fibras, fundamentais para a saúde intestinal”, afirma Paulo.

A Typcal começou a estreitar relações com os players europeus em 2023, quando passou por um programa de aceleração na Suíça. Em 2025, começou a participar do programa de aceleração da Biotope na Bélgica, e foi a única startup da América Latina a ser selecionada para receber um investimento da incubadora.

“O que chamou a atenção dos investidores foi o nosso processo produtivo, que é o mais rápido do mundo, com uma patente já conseguida no Brasil, com possibilidade de obter também na Europa, Estados Unidos e Ásia. Isso garante mais escala e agilidade ao processo”, aponta o CEO.

Apesar de já ter investido R$ 5 milhões na fábrica do Brasil, em Curitiba, a Typcal ainda aguarda autorização da Anvisa para começar a comercializar os ingredientes à base de micélio. A expectativa, segundo Paulo, é que essa liberação saia no início do ano que vem.

Como o produto já é liberado no México, Chile e Europa, as primeiras vendas da startup já foram via exportação.

“O que nos deu confiança para investir na Typcal nesta fase foi a força e a maturidade da equipe fundadora, que traz consigo expertise e comprovada capacidade de execução. Além disso, a empresa já havia demonstrado tração inicial. Essa combinação de uma equipe competente e experiente e um progresso tangível reduziu o risco normalmente associado a um investimento em estágio inicial. A abordagem da Biotope combina validação tecnológica com crescimento empresarial, fornecendo os recursos e a expertise necessários para escalar negócios de forma eficaz. Estamos ansiosos para trabalhar com a equipe da Typcal na próxima etapa desta jornada e apoiá-los no crescimento na Europa”, afirma Ilana Taub, Stakeholder Manager da Biotope.

Paulo destaca que a foodtech nasceu com o propósito de melhorar a indústria de alimentos, trazendo opções mais saudáveis. No entanto, há também uma vertente de sustentabilidade. O processo produtivo desenvolvido pela Typcal tem potencial de reduzir a emissão de CO2 em até 71 vezes em relação à da carne bovina, 8,5 vezes menos que a do frango e 1,8 vezes inferior à da soja. No consumo de água, os ganhos são ainda mais expressivos: a pegada hídrica pode ser até 400 vezes menor que a da carne bovina, 178 vezes menor que a do frango e 30 vezes menor que a da soja.