A cada 10 jovens que conclui o ensino médio em uma escola pública no Brasil, 7 não consegue entrar no mercado de trabalho, ou consegue subempregos. Estamos falando de um contingente de 1,5 milhão de pessoas que, todos os anos, perde a oportunidade de construir uma vida melhor para si ou para sua família.
O desperdício de talentos chamou a atenção de Guilherme Luz e Eduardo Mufarej, executivos com carreira no mercado financeiro que participaram da transformação dos negócios da Abril Educação no grupo Somos, que posteriormente foi comprado pela comprado pela Kroton, hoje Cogna.
No começo de 2020 a dupla se juntou para criar a Galena, uma edtech que se propõe a ser o 1º grupo educacional focado em preparar e incluir jovens de escolas públicas no mercado de trabalho. A edtech, que começou a operar oficialmente há 1 ano, levantou uma rodada seed polpuda, de US$ 7,3 milhões, que contou com a participação dos fundos Exor (da família Agnelli, dona da Ferrari e da Fiat) e Owl Ventures, especialista em edtechs.
Agora, acaba de fechar uma nova captação: uma série A de US$ 16,7 milhões. O investimento foi liderado pelo fundo americano Altos Ventures – acionista da empresa de jogos Roblox e do e-commerce coreano Coupang – em sua 1ª incursão no Brasil. Exor e Owl acompanharam. Ao grupo ainda se juntaram o Reaction (fundo de aluminis de Stanford), a Globo Ventures e executivos como David Velez, Kevin Efrusy, Dan Rosensweig, Armínio Fraga, Romero Rodrigues e André Street.
De acordo com Guilherme, o sonho grande é atender um total de 40 mil a 50 mil alunos por ano em um prazo de 5 anos. Para chegar lá, a companhia vai usar os recursos da série A contratar mais gente, principalmente na área de tecnologia, e também trazer profissionais de nível sênior. O plano também é investir muito na experiência e no atendimento dos jovens e em dados. “Coletamos muitos dados dos jovens antes e durante o programa, com avaliações semanais. Temos um pulso, um mapeamento deles e também das empresas pra fazer o matching no final. Confiamos na capacidade de captar esses dados e entender que tipo de perfil atende cada lado”, conta Guilherme.
Iniciativas como a Galena geralmente tendem a ser vistas como projetos sociais, sem capacidade de retorno financeiro. Mas Guilherme garante que dá para gerar dinheiro. “Isso é possível se você agregar valor, ser for ponto de inflexão positivo na trajetória de remuneração e preparo para novos desafios. Muitos programas não se preocupam com o depois. Mas se não tem geração de emprego, não tem resultado. Não é trivial, mas tem um negócio sim”, diz.
O programa
A capacitação dura 4 meses. Atualmente, há apenas um curso, voltado a vendas e sucesso do cliente – uma demanda forte das empresas atualmente. Mas a ideia é ampliar o portfólio ao longo do tempo.
Para entrar, o jovem passa por um processo de aconselhamento vocacional que indica quais carreiras têm mais a ver com o seu perfil. Se houver um match com o que é oferecido, ele ou ela segue adiante. Todo o processo é feito on-line, usando o Google Meet. A própria Galena opera no mundo remoto. Seus 70 funcionários estão espalhados pelo Brasil.
Segundo Guilherme, a opção por não desenvolver uma plataforma própria foi para dar aos jovens a experiência de uso das ferramentas que as empresas usam e com as quais eles virão a trabalhar no futuro.
“Um grande problema do jovem que sai da escola pública é que ele não se reconhece, acha tudo alienígena à sua realidade. Então ele acaba indo embora para não passar constrangimento de ter que perguntar sobre algo que ele teoricamente já deveria saber usar”, explica.
Segundo ele, tudo o curso é feito de forma prática, com análises de casos e dinâmicas que simulam a realidade, sem aulas gravadas.
O modelo de negócios
O modelo de negócio da Galena está baseado no sucesso do programa. Isso porque, para participar da formação, um jovem não gasta nada. O pagamento só acontece se ele ou ela conseguir um emprego que pagam mais de R$ 2 mil. Pelo lado da empresa, também não há nenhum gasto imediato. O dispêndio só acontece se a pessoa contratada ficar no cargo por mais de 3 meses.
Na avaliação de Guilherme esse modelo alinhas os incentivos e garante que a Galena vai sempre se preocupar com a qualidade da formação que entrega. “O compromisso é de longo prazo. Não tem transformação se o jovem não agregar valor à empresa e nem a empresa para o jovem”, diz.
Na 1ª turma, que contou com 200 estudantes muito concentrados em SP e no Rio, todos conseguiram emprego. Na 2ª turma, concluída há 3 semanas, com 1,5 mil alunos, o percentual está em 45%. A 3ª turma, que está iniciando, tem jovens de 21 estados.
O prazo para achar uma vaga é de 3 meses, por isso Guilherme diz acreditar que o desempenho será parecido com o do 1º grupo. Hoje, a Galena conta com empresas como iFood, QuintoAndar, Unilever, Stone, Dell, Itaú, Nubank e XP na lista de contratantes.
De acordo com Guilherme, o perfil de quem faz a Galena é a cara do jovem brasileiro: 70% não-banco, sendo a maioria de mulheres.