Para se manter competitiva em um mercado em transformação por conta da inteligência artificial, a healthtech gaúcha GestãoDS planeja um novo começo. Após mais de uma década desenvolvendo soluções de gestão para clínicas médicas, a healthtech está investindo pesado para se recriar e gerar um novo ciclo de crescimento — com a IA no centro de tudo.
“Estamos em um momento importante de reestruturação. Recriando a empresa com IA no core. Pensando em um negócio que vai matar a nossa empresa anterior e criar algo maior ainda”, afirma Marcelo Stangherlin, CEO e fundador da GestãoDS.
Com um faturamento esperado de R$ 16 milhões para este ano, o plano da companhia é investir cerca de R$ 5 milhões em produto nos próximos dois anos, com metade desse montante destinado a novas soluções baseadas em IA, que serão centrais para a evolução da plataforma ERP da companhia. “Daqui pra frente, a IA é como a eletricidade. Quem não usar, vai ficar para trás.”
Fundada em 2016, a GestãoDS nasceu em uma época em que o termo “startup” nem fazia parte do vocabulário de Marcelo, então um formando de administração da Universidade Federal de Santa Maria, no interior gaúcho. “Só queríamos abrir um negócio. Na época já havia ferramentas de gestão, mas poucas baseadas em SaaS, especialmente para pequenas e médias clínicas”, relembra.
De lá para cá, a companhia refinou sua solução de gestão para além das finanças e prontuário, focando principalmente na parte de gestão de relacionamento dos médicos e clínicas com seus pacientes, especialmente em atendimentos com recorrência (consultas e exames de rotina, dentistas etc.).
Hoje, a base de clientes vai desde médicos solo até clínicas com mais de 70 profissionais. A maior concentração, porém, está entre estruturas com 5 a 10 médicos. Com atendimento 100% online — o que permitiu à companhia atender clientes em todo o país — hoje a GestãoDS soma 15 mil usuários e cerca de 4 mil clínicas ativas.
Com um crescimento anual entre 40% e 50%, a empresa espera encerrar 2025 com uma receita entre R$ 16 milhões e R$ 17 milhões. Tudo isso no bootstrapping e mantendo uma operação saudável: 20% de margem EBITDA e reinvestimento constante em desenvolvimento. “Não captar nos forçou a pensar melhor. Resolver problemas sem jogar dinheiro neles exige criatividade e resiliência”, diz Marcelo.
Essa visão cuidadosa sobre capital fez a GestãoDS recusar propostas de investimento no passado. “O dinheiro mais caro que a gente tem é o nosso equity. Dinheiro pelo dinheiro, nunca quisemos.”
Com a geração própria de caixa, a companhia inclusive chegou a fazer aquisições. No ano passado, a companhia adquiriu (por um valor não divulgado) a Metacem, ampliando sua base de clientes e subindo seu percentual de crescimento no ano de 35% para 50%.
Agora, no entanto, o cenário mudou. Para impulsionar seus planos de desenvolvimento em IA — algo que exige investimentos altos tanto em tecnologia quanto em talentos — a empresa está em conversas para captar recursos.
Mesmo assim, Marcelo é cauteloso quanto ao hype e quanto aos movimentos a serem feitos. “Estamos estudando casos de uso com uma consultoria. Aplicar IA só para dizer que tem IA pode ser um erro, e custar caro”, finaliza o CEO.